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Lente Crítica

Descaso e desrespeito na rodoviária


Por Emerson Machado

Como se já não bastassem os problemas que a Rodoviária de Porto Velho* enfrenta desde a sua inauguração em 1980, como a deterioração da estrutura e uma reforma prometida várias vezes (a última em 2011, uma parceria entre prefeitura e governo estadual), mas que pouco avançou em anos, o despreparo no comportamento com os passageiros foi notado no último dia 29, em um embarque da empresa rodoviária Expresso Maia, marcado para as 17h.

Várias pessoas aguardavam pelo ônibus que tinha como destino o Estado de Goiás. A partida marcada para 17h estava sendo aguardada desde as 16h40 pela maioria dos viajantes. Porém, a hora passou e o veículo não apareceu — o que gerou revolta pelas baias da rodoviária. No horário, saíram vários ônibus do local, das empresas Gontijo, Eucatur e Viação Rondônia. Mas o Expresso Maia não apareceu. Segundo Felipe Gomes, 20 anos, estudante de Engenharia Civil, os atrasos são constantes. “Minha namorada mora no interior e da última vez que ela veio a Porto Velho, comprou passagem para as 17h e o ônibus saiu só às 18h30”, conta Gomes, que estava estupefato.

O relato fica ainda pior quando os passageiros resolveram perguntar o que houve com o ônibus para tanto atraso, como contou Mario Vieira das Neves, 41 anos, militar. “Perguntei o motivo da demora e o atendente chegou a dar de dedo (sic) na minha cara dizendo que eu devia ficar esperando. Então chamei um fiscal”, disse Neves. O atendente a que ele se refere foi nomeado por seus colegas como André — que não concedeu entrevista. Nenhum deles usava crachá de identificação; mas durante uma conversa gritada, “André” afirmou que o veículo estava atrasado para fazer uma revisão. Porém, Cleonice Perpétua, de 30 anos, também passageira, revelou que o horário nunca é respeitado. “Não é a primeira vez que isso acontece, é um desrespeito com quem está viajando”, falou indignada.

O atendimento não foi o único alvo de reclamações. Felipe Gomes contou que quando o ônibus chegou, por volta das 18h, direto de uma viagem de Goiás (o que refuta a alegação de que o veículo estaria em uma revisão), os passageiros da Expresso Maia começaram a ser embarcados sem nem terem as malas etiquetadas. “Estava tudo sujo dentro do ônibus e ainda demoramos mais de uma hora para sair de Porto Velho porque pararam para arrumar as malas no bagageiro, mas colocaram elas em cima de lixo. Foi um horror e muita falta de educação. Lembro que já era 19h30 quando passamos pela FARO (Faculdade de Rondônia)”, afirma Gomes, que embarcou com destino à Pimenta Bueno.

Para Clarice Gomes, mãe de Felipe, de 53 anos, representante comercial, a solução será a abertura de uma reclamação formal ao Procon (Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor) para notificar a empresa. “Nunca passei por uma situação dessas, de um funcionário de uma empresa que presta serviços gritar com os passageiros, sendo que todos pagaram por algo que não receberam, dizendo que podiam processar e fazer o que quiser que o ônibus só sairia quando ele quisesse. Isso é um ultraje”, irritou-se Clarice.

Portanto, fica um indício de que não é apenas a estrutura da rodoviária da capital rondoniense que precisa de reformas, mas o respeito ao próximo e ao consumidor também, que pode ser um turista em busca das belezas desta terra onde se prega que o céu é mais azul ou aqueles que merecem ainda maior respeito por fazer do lugar o que ele é hoje: o cidadão.

Emerson Machado é um escritor e jornalista curitibano. Já lançou vários livros infantis e juvenis com temas como doação de órgãos e paternidade homoafetiva. Seu livro “O Investigador de Sótãos” (2009, São Paulo, Duna Dueto Editora) foi selecionado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE2011-MEC). Escreveu para revistas na capital paranaense, viveu em Dublin (Irlanda) e também morou em Porto Velho durante alguns anos, onde estudou Arqueologia antes de voltar ao sul do Brasil

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