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Intereclesial

LEONARDO BOFF: 'Voz da ´igreja periférica´ ecoa cada vez mais na ´igreja central´


 
Teólogo diz que a terra mudou e humanidade tem de se transformar com ela para enfrentar os desafios éticos do século 21 diante das mudanças climáticas 

  
Em sua nova e marcante passagem pelo Acre a convite do projeto Sempre um Papo, o frei Leonardo Boff renovou sua fé na Teologia da Libertação, da qual é um dos expoentes, sustentando que o próprio Vaticano já não vê a corrente como indigerível para a Igreja Católica. "O que houve foi uma leitura equivocada. Hoje o Vaticano vê com bons olhos a Teologia da Libertação. A opção pelos pobres é da Igreja e não somente dos teólogos", disse, distinguindo o que denomina de "igreja central", o pensamento católico prevalecente na Europa e a "igreja periférica", a postura vista entre lideranças e comunidades de base da África e do Brasil, por exemplo. "A voz da ´igreja periférica´ está ecoando cada vez mais lá no ´centro´", diz, em tom de comemoração. 

Isso não significa que os desafios já se vão superando. A pobreza ainda é um tema que deve chamar a atenção da Igreja em todo o mundo. "O grande desafio da Igreja Católica é a pobreza. Dom Hélder Câmara dizia que o mundo só será melhor quando o pobre se unir a outro pobre. Quando isto acontecer não teremos dois fracos mas um forte", afirmou.

Leonardo Boff está no Acre para rever amigos. Nesta segunda-feira, o frei participou do projeto Sempre Um Papo, onde segue falando sobre o mais atual tema de seus encontros: ética, mudanças climáticas e sociedade. Para uma plateia lotada, Boff lançou o livro "Ética & Ecologia: desafios do século XXI", no qual reafirma o conteúdo da Carta da Terra, a declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. O texto busca inspirar todos os povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltado para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação. Oferece um novo marco, inclusivo e integralmente ético para guiar a transição para um futuro sustentável. Ela reconhece que os objetivos de proteção ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo, respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e indivisíveis. O século 20, para Boff, foi dos direitos humanos, e o 21 será o século dos direitos da Terra "como também dos animais, da floresta, da Natureza". A Terra mudou, lembra o frei - e temos de mudar com ela.

"Vivemos um período terminal, de dominação da Natureza e sem solidariedade com as gerações presentes e futuras. Temos de mudar paradigmas", disse Boff, dono de cerca de 90 livros publicados em quatro décadas, obra que se constitui em um profundo e complexo desafio à interpretação. Boff alerta que, a cada minuto, 17 hectares de terra se transformam em deserto no mundo; que a desertificação atinge 33% da superfície emersa do planeta e as áreas afetadas pelo fenômeno abrigam mais de 2,6 bilhões de pessoas, o mesmo que 42% da população mundial. Para ele, os pequenos países têm papel de formar células para reverter a tendência destrutiva das mudanças climáticas. Boff citou, como exemplo do que poderia ser feito no Brasil e no mundo, a experiência da Florestania no Acre, que segundo ele se constitui numa soma de pequenos ensaios que promovem grandes saltos na qualidade de vida. Nesse contexto, ainda dá tempo de salvar o planeta. "A soma de pequenos atos é como a gota, que se soma a outras e traz uma grande chuva", comparou o teólogo. 

Fonte: Agência Notícias do Acre/Edmilson Ferreira  

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