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12º INTERECLESIAL: Eva Kanoé, primeira indígena a assumir cargo


 
Eva Kanoé, professora, casada há 26 anos,  mãe de cinco filhos, foi a primeira indígena eleita para a coordenação de um órgão indígena no estado  de Rondônia. Isto aconteceu recentemente quando estava  em Brasília, junto a outras lideranças indígenas, discutindo a revitalização ou criação de novos órgãos da administração das questões indígenas. O grupo resolveu revitalizar o Cunpir – Conselho de União dos Povos Indígenas de Rondônia –  desativado há 10 anos.  Apresentaram-se quatro homens indígenas para ocupar o cargo de coordenador. Foi quando Eva se levantou, entre as muitas outras companheiras presentes e indagou:

- Com toda essa presença feminina vamos, mais uma vez, ser obrigadas a escolher entre quatro homens?

O resultado: Eva foi indicada para concorrer. Um pouco assustada aceitou e a eleição por voto secreto  dos representantes dos 32 povos de Rondônia consagrou o seu nome.

- Considero isso uma vitória para o nosso povo. Eu mesma fiquei impressionada pois fui eleita com os votos dos homens que eram maioria e tinham quatro nomes de homens para escolher.

Eva Kanoé está participando do XII Intereclesial juntamente com outros 94 indígenas. Hoje (22 de julho) foi uma das presenças na primeira  entrevista coletiva, ao lado de D. Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho,  e do professor, teólogo e assessor nacional da CEBs Benedito Ferraro. Ela usava seu cocar de plumas, colares e pulseiras de sementes, e tinha o rosto e os braços pintados com temáticas indígenas, numa harmoniosa combinação de tons vermelhos, marrons e negros.

Eva reforçou a idéia da necessidade de preservar a natureza, pois o ser humano precisa dela para sobreviver, enquanto a natureza realmente prescinde do ser humano.  Eva Kanoé pertence ao grupo Sacarana onde vivem 10 comunidades que se auto-administranm.  E´ o primeiro caso de independência administrativa no estado de Rondônia onde o CIMI – Conselho Indigenista Missionário - não precisa entrar.

Eva tem percebido que a igreja católica, através da CEBs, com esse jeito novo de ser Igreja, tem ajudado tanto aos índios como aos não índios a entender e valorizar a espiritualidade indígena:

- A nossa espiritualidade tem uma força tão grande que não conseguimos expressar através de palavras, nem mesmo através dos nossos rituais. No entanto, essa espiritualidade é muito forte para a nossa vida. Somos povos com culturas diferentes, mas temos direitos iguais pois somos da mesma forma que todos os demais seres humanos filhos e filhas do Pai.

No seu novo cargo de coordenadora do Cunpir, Eva Kanoé terá de enfrentar muitos desafios:

- Temos ainda no nosso estado cinco povos que não foram contatados e eles poderão ser os mais prejudicados com a construção das novas usinas e a continua destruição das nossas florestas.   Entre os indígenas usamos o pronome nós e nunca o pronome eu, pois tudo que diz respeito a um índio diz respeito a todos. Nós não somos contra o progresso, mas queremos viver em paz e como todos queremos ter direito a água potável, moradia, emprego, saúde. 

Eva, professora há 17 anos, passou 12 nas salas de aulas. Agora, como possui o diploma de pedagoga, orienta outras professoras. A sua filha mais velha segue o mesmo caminho e dá aulas na sua aldeia de Sacarana.

Sobre a participação da mulher indígena na vida da comunidade, Eva entende que a mulher participa pouco das decisões pois ainda vive um processo de construção. Em outros estados brasileiros a participação feminina pode ser maior: “Acredito, no entanto, que nós, homens e mulheres indígenas, podemos unidos ajudar nas construção de um novo mundo possível e muito melhor”.

Fonte: Ascom/Intereclesial

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