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História

Ricardo Franco: O Herói esquecido da floresta guaporena



 
*Sílvio Mellon


O projeto arquitetônico do Real Forte Príncipe da Beira planejado no estilo Vauban era de autoria do engenheiro italiano e ajudante de infantaria Domingos Sambucetti. Durante quatro anos, ele liderou a construção da obra faraônica e execução dos serviços em meio à densa floresta. O local escolhido pelo Governador Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres abrangia a margem direita doRicardo Franco: O Herói esquecido da floresta guaporena  - Gente de Opinião rio Guaporé num trecho encachoeirado, dificultando a navegação de quem se habilitasse a atacar o Forte Príncipe. Entretanto em 1780, a malária que tantas vidas ceifou durante o período de edificação da fortaleza, levou Sambucetti à morte. Seu monumento lhe serviu de sepultura. Em seu lugar assumiu o capitão José Pinheiro de Lacerda, mas sua permanência foi breve sendo substituído em 1781.

Entra em cena a figura do Sargento-mor do Real Corpo de Engenheiros do Exército Português, o futuro Tenente-Coronel Ricardo Franco de Almeida Serra que havia desenvolvido um difícil trabalho como integrante da Comissão de limites do tratado de Santo Ildefonso de 1777. Exerceu o cargo de chefe da 3ª Comissão Demarcadora de Limites, encarregada de demarcar as novas fronteiras amazônicas entre os domínios de Portugal e Espanha.

O então sargento-mor Ricardo Franco cumpria mais uma de suas missões, quando, após percorrer os rios Negro e Mauá, recebeu ordens para juntar-se à expedição de Francisco José Lacerda Almeida, que vinha de Barcelos, percorrendo os rios Mamoré e Guaporé. Essa expedição destinava-se a concluir as obras do Real Forte do Príncipe da Beira e era composta pelos engenheiros Joaquim José Ferreira e Antônio Pires da Silva Pontes, que ficaram sob seu comando durante a conclusão dos serviços.

Geografo, cartógrafo, sociólogo e militar, era um homem de inteligência desmedida, raridade naqueles grotões e profundo conhecedor das terras ambicionadas pela coroa portuguesa. Dedicou-se em terras amazônicas ao exercício da cartografia e entre seus trabalhos encontra-se a elaboração dos mapas geográficos das capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Maranhão e Piauí. Explorou diversos rios e planejava estabelecer comunicação com territórios localizados ao norte da colônia onde se situam atualmente os territórios do Suriname e da Venezuela.

Com a popularidade em alta com a corte, recebeu do Governador Dom Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres a incumbência de aperfeiçoar a carta geográfica da Capitania de Mato Grosso e para cumprir tão difícil função montou um escritório de cartografia em Vila Bela da Santíssima Trindade. Especialista, o objetivo a conquistar era o mapeamento dos rios e ainda no século XVIII mapeou o rio Guaporé. A história lhe outorgou com justiça a glória de ser considerado o responsável pela consolidação da soberania portuguesa no rio Paraguai. A dedicação ao rei levou a se tornar um o maior expert em defesa das fronteiras coloniais, assessorando o governo da capitania do Mato Grosso.

Exaurido pelo trabalho ardoroso durante anos e pelos males insalubres que o ambiente hostil lhe infligia em forma de doenças tropicais, faleceu em 1808 no Forte Coimbra. Dois fatos ocorridos pouco antes de sua morte enalteceram ainda mais sua biografia. O primeiro é a carta de alforria destinada ao seu escravo particular de nome Damião que o acompanhara sempre como serviçal. Por conseguinte pediu ao Governador João Carlos Augusto de Oeynhauser que amparasse seus filhos, fruto de um relacionamento amoroso com uma índia guaycuru para quem legava seus bens.

O bravo Ricardo Franco de Almeida Serra alcançou o posto de Coronel e se viu agraciado com o hábito da Ordem de São Bento de Avis. É considerado um herói da capitania e teve seus restos mortais trasladados para Vila Bela. Somente em 1953, seus ossos foram restituídos ao Forte Coimbra. Quanto ao Real Forte Príncipe da Beira, comandou seus trabalhos até a conclusão em 20 de agosto de 1783.

Certamente, Ricardo Franco não tem o devido reconhecimento das novas gerações de rondonianos que mal conhecem a sua história e a sua imensurável contribuição para a formação do atual Estado. Mas, nas selvas guaporeanas, seu distinto trabalho continua marcado pela imponência do monumento histórico, símbolo da conquista territorial portuguesa nos confins do Brasil. O Real Forte Príncipe da Beira mais se assemelha a um imponente castelo medieval, um gigante indestrutível adormecido entre o rio e a grande floresta.

*O autor é historiador – E-mail: [email protected]


 

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