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Entrevista

Maestrina fala do trabalho de difusão da música em Porto Velho



Seu nome é Raquel Lyrio de Sousa, 28 anos, carioca criada em Goiás. Na área de música e de corais, ela é o que se pode chamar de “mulher multi-uso” ou “mulher dos sete instrumentos”: é cantora lírica, toca flauta, violão, faz a regência dos corais Canto Livre ( Ministério Público), Vozes do Madeira ( Tribunal de Justiça), Guascor (Multinacional Guascor), Canarinhos do Madeira e Souluz (Igreja do Porto). No momento trabalho na organização do III Natal na Amazônia.  Maestrina fala do trabalho de difusão da música em Porto Velho  - Gente de Opinião

Em 2005 Raquel radicou-se em Porto Velho, com o marido e, desde então, tornou-se referência quando o assunto é arte musical.

DE BERÇO

A música entrou na vida de Raquel bem cedo. Filha de um militar da Aeronáutica, Márcio Jacyntho de Oliveira, membro de um quarteto, e da engenheira-química e pianista Sheila Lyrio de Oliveira, Raquel e a gêmea Ingrid aos sete anos foram matriculadas na Escola de Música de Anápolis, na qual Raquel se formou em Teoria Musical, Flauta Doce, História da Música e Violão Popular.

“Minha mãe tocava piano na igreja, comigo agarrada na sua saia. Ela foi a minha primeira regente. Em Anápolis, comecei a cantar em corais e ajudar os maestros locais”. Aos 17 anos, começou a reger o coral infantil da IV Igreja Presbiteriana, em Anápolis, e, a seguir, o coro das senhoras da igreja. “Com um fato curioso: minha mãe agora era regida por mim”.

A FORMAÇÃO ACADÊMICA 

Aos 18 anos foi aprovada no vestibular da Faculdade de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG), no curso de Licenciatura em Educação Musical - Habilitação em Canto, agregando à formação cursos extra curriculares: canto e musicografia Braille. Seu Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, teve como tema: “Regência para coro de cegos”. No segundo ano da faculdade Raquel estagiou como maestrina do coral da Escola de Música de Anápolis “e tive experiência com corais fora do âmbito da igreja”.

Raquel tem como modelos sua mãe, Sheila Lyrio de Oliveira - pela motivação que sempre deu aos coralistas, a responsabilidade e compromisso; Mestre Joana Christina Brito de Azevêdo (regente do coro da UFG) - pela inovação, detalhes, organização, atenção com a qualidade vocal e perseverança; Dr. Carlos Henrique Costa (professor da UFG) - Sempre pronto a ensinar e a ouvir opiniões e o maestro alemão Gerald Kegelmann – Sobre este, ela conta: “Um dia a intérprete não apareceu. Ele apontou para a partitura e mostrou os cortes na batuta. Fiquei impressionada como ele conseguiu dar o conteúdo e nós entendermos, mesmo sem nos falarmos. Foi quando percebi o fato fundamental, de que o maestro muitas vezes precisa falar menos e trazer o coro para mais perto dele, sem uma palavra”.

“Para fazer o curso de maestro, faz-se um teste de aptidão, avaliando-se conhecimentos de música, canto e gestual de regência do futuro maestro/regente. Aprovado, o candidato fará 4 anos de graduação, com aulas sobre fisiologia da voz, formação de repertório, hist Maestrina fala do trabalho de difusão da música em Porto Velho  - Gente de Opiniãoória da música, aulas de regência, metodologia do ensino, piano, oficina da música”. Para ela, organizar e reger um coral adulto é mais difícil. “Há a quebra de paradigmas como: perder o medo de cantar em público, estilo musical e a própria maneira de cantar, bloqueios que muitos adultos têm, o que não acontece com as crianças”. 


EDUCAÇÃO PELA MÚSICA

A maestrina lembra a lei nº 11.769 (de 18 de agosto de 2008), pela qual a música deverá ser conteúdo obrigatório na Educação Básica, pública e privada, e o sistema tem até 2011 para incluir seu ensino na grade curricular. “O objetivo não é formar músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos", diz Raquel, citando frase da professora Clélia Craveiro, presidente da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação).

Mas, elogiando e entusiasmada com a Lei, Raquel se preocupa “com a qualidade dos professores e o apoio que eles terão como: salas com acústica apropriada e ventilação, instrumentos e partituras. É belo o conceito, mas sem o mínimo de condições para sua execução, a lei pode ser tornar mais um problema para a educação”. 


PARCERIAS

A importância da parceria para o desenvolvimento de projetos musicais é destacada pela maestrina: “Ela citou que este ano para realizar o Encoro (Encontro de Corais de Rondônia, em setembro) teve também apoio da Banda da 17ª Brigada de Infantaria e Selva, a Rondoforms, Guitar Music, órgãos públicos e pessoas da área artística”.

Sobre a possibiliade de financiamento público, ela alerta:“Há a Lei Rouanet, porém há muitos detalhes. Quem já enviou algum projeto ao Ministério da Cultura sabe do que estou dizendo”.

Sobre participações conjuntas de corais e bandas, Raquel Lyrio explica: “A banda precisa compreender a importância das palavras na música, pois se não for assim será apenas um encontro casual. Faço ensaios separados e quando todos estão conscientes do seu papel, fazemos ensaios conjuntos, ajustando o necessário para que se alcance o melhor resultado”.

Ela cita as apresentações do Coro Sinfônico de Porto Velho, com mais de 60 vozes, e a banda marcial da 17ª Brigada: “A complexidade da regência aumenta, e o maestro deve ter pleno domínio da parte orquestrada, realizando as entradas, a dinâmica e cortes necessários, transmitindo ao coro o espírito que se quer alcançar na execução da peça musical, com a devida técnica. Os gestos devem ser maiores para que todos visualizem e entendam a regência”. 


NOVOS TEMPOS

Sobre o aumento do movimento cultural em Porto Velho, ela diz: “Há uma série de fatores, como o esforço dos que já se encontravam aqui e cujo trabalho deve ser louvado. A isso vieram se agregar pessoas os que chegaram com interesse para articular esses eventos, e a exigência crescente da sociedade quanto ao consumo de cultura, somada à atuação dos administradores públicos fomentando a cultura, mas precisamos de apoio e investimentos”.

“Contudo, ainda se foca muito no lucro de eventos culturais, e pouco no patrocínio de eventos de caráter beneficente, como o Encoro, cujo “ingresso” foi um brinquedo, a ser distribuído a crianças da periferia de Porto Velho. Sou favorável à justa remuneração dos profissionais que trabalham com eventos artísticos. Muitas vezes há um esforço hercúleo para duas horas de apresentação. O que o público vê em poucas horas é o fruto de muitas horas de trabalho”.

Fonte: Lúcio Albuquerque

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