Segunda-feira, 21 de dezembro de 2009 - 20h08
Wellton Máximo
Agência Brasil
Brasília - Na segunda parte da entrevista concedida hoje (21) à Agência Brasil (ABr) e à TV Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o principal desafio para a economia brasileira, em 2010, será a manutenção da política econômica em meio às pressões por aumento de gastos típicas de anos eleitorais. Ele negou que pretenda concorrer a algum cargo público no próximo ano e disse que essa postura ajudará a manter a economia a salvo de certas questões políticas.
Sobre uma possível saída do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, para disputar as eleições em Goiás pelo PMDB, Mantega afirmou que qualquer ambição eleitoral de Meirelles não representará riscos para a economia. Segundo ele, qualquer nome que assumir o comando do BC dará continuidade às medidas tomadas nos últimos anos, porque a política econômica é determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro ainda falou sobre as perspectivas para o país depois de 2010. Para ele, os rumos da economia não devem mudar, independentemente do candidato eleito para suceder o presidente Lula, porque não se muda o que está dando certo e a população está comprometida com a atual política de crescimento com responsabilidade fiscal e transferência de renda.
A entrevista também será exibida no telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil às 21h.
Agência Brasil: O senhor, até pelo enfrentamento da crise, reuniu certo capital político. Não fica tentado a seguir carreira política, a tentar uma eleição a partir do próximo ano? O senhor é filiado a algum partido?
Guido Mantega: Acho que depende da vocação das pessoas. Sou filiado ao PT, mas não tenho vocação para esse tipo de atividade política. Gosto de ser professor, como era antes de entrar para o governo, e de fazer o que faço, que é mais uma função técnica. Acho até bom que o ministro da Fazenda não tenha função política, porque consegue deixar a economia a salvo de certas questões políticas. Tenho metas, objetivos, uma estratégia econômica que sigo. independentemente de interesses políticos. É bom até que, num ano eleitoral como 2010, tenhamos muito claro qual é a política econômica, que não está sujeita a interesses eleitorais. Vamos aumentar o superavit primário no ano que vem. Não vamos fazer gastos além do previsto no Orçamento. O presidente [Lula] concordou que o governo fará um superavit primário de 3,3%. Repetiu ainda hoje para a imprensa. Essa é uma atitude profissional que prefiro manter, sem tentar concorrer ao Parlamento, porque não tenho vocação para esse tipo de coisa.
ABr: Ainda em política, mas também tocando a economia. O que o senhor acha de uma eventual saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, do governo?
Mantega: Ele não disse se vai sair, mas se vier a sair não acontece nada. Isso porque quem determina a política econômica não é o presidente Meirelles, nem eu. Se eu saísse, seria a mesma coisa. A política econômica é determinada pelo governo. As medidas anti-inflacionárias, as políticas de crescimento vigoroso, de transferência de renda, de responsabilidade fiscal continuam. Meu antecessor [Antonio Palocci] saiu e eu continuei fazendo a política de responsabilidade fiscal. Essa não é a discussão. Não fará diferença se eventualmente o Meirelles, com outras ambições políticas, sair.
ABr: O sistema de metas [de inflação] continua. O programa de combate à inflação continua, porque essa é uma decisão do governo, não do presidente do Banco Central. O conjunto do mercado teria compreendido então que, apesar de [Meirelles] ser um nome importante, a política econômica é do presidente Lula?
Mantega: Não tenho a menor dúvida. A política econômica é do presidente Lula. Ele optou por escolher Meirelles. O presidente certamente escolherá o nome que virá para cumprir aquela política à altura da tarefa que está colocado.
ABr: A economia é feita de muitas medidas técnicas, mas também de muita confiança. O senhor acredita que o fato de o presidente ter ido, em determinado momento, à televisão dizer ao brasileiro para comprar contribuiu com que fatia para esse resultado que vivemos agora? A injeção de confiança teve que proporção em relação à injeção de recursos?
Mantega: A economia não é uma ciência exata. Ela lida com indivíduos, com comportamento humano. Metade do comportamento se baseia em realidade, no palpável. A outra parte é influência psicológica, segurança. Você pode apresentar o melhor plano econômico do mundo, mas, se não houver confiança de que será um bom plano, as pessoas não vão acreditar. O presidente Lula ganhou a confiança da população nos últimos anos. O que ele falou foi muito ousado. Ele disse que a economia daria errado se as pessoas parassem de consumir. É claro que ele sabia que o Brasil tinha condições que outros países não tinham. O Brasil não estava nas condições dos Estados Unidos. Ele falou porque sabia que tínhamos reservas, que não tínhamos sido afetados pela crise e que, se o consumo se mantivesse, as coisas voltariam ao normal. Foi fundamental a palavra do presidente um ano atrás. A população confiou nele e deu certo.
ABr: Para 2010, tudo indica que a economia está garantida. E depois de 2010?
Mantega: A partir de 2010, vamos retomar um ciclo de crescimento econômico que está começando agora. É um novo ciclo, talvez mais forte que o anterior, de 2003 a 2008. O país está assentado em bases sólidas e, a meu ver, teremos nos próximos anos crescimento em torno de 5% a 6% ao ano. Será um ciclo maior do que tivemos até agora. Estou seguro de que entramos num ciclo virtuoso, de investimentos, de expansão, que vai durar muitos anos. Por isso digo que, no final de 2009, temos boas razões para comemorar. Passamos pela crise. A população brasileira vai terminar o ano muito bem. Será um Natal feliz para todos. E se preparem, porque 2010 e 2011 serão anos ainda melhores que o que termina agora.
ABr: Existe a possibilidade de o país sair do roteiro, dependendo do resultado das eleições?
Mantega: Não acredito porque, quanto temos política econômica eficiente, é uma incoerência mudá-la. Não acredito que algum candidato tenha coragem de mudar algo que está dando certo. Só se muda o que está dando errado. Muda-se a política econômica quando o país está numa crise, não está crescendo, tem inflação. Quando tudo corre bem, só se o candidato for, digamos, louco, o que não vejo no horizonte. Tenho certeza de que eles darão seguimento à política que estamos fazendo agora, de crescimento forte da economia com responsabilidade fiscal, inflação sob controle e melhoria da condição de vida do povo brasileiro. Quem não vai deixar [o rumo da política econômica] mudar é a população. O povo já aprendeu. Sabe votar. Certamente votará na continuação dessa política econômica, seja ela feita por qual candidato for. Ela exigirá que o candidato se comprometa. Portanto, estou tranquilo em relação ao futuro.
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