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Economia - Nacional

Bancos propõem mudanças na remuneração da poupança


Juliana Rangel - Agência O Globo RIO - Diante da queda das taxas de juros da economia e da alta taxa de administração cobrada em alguns fundos de investimento, a boa e velha caderneta de poupança voltou a atrair a atenção dos investidores mais conservadores. Segundo dados do Banco Central, o total de depósitos superou o de retiradas em R$ 1,240 bilhão em outubro. No mesmo mês, os fundos DI (que são mais conservadores por seguirem as taxas de juros da economia) perderam R$ 3,252 bilhões em captação líquida, de acordo com informações da Anbid. O volume total de captação de outros fundos é positivo no ano, mas o diretor de Crédito Imobiliário da Febraban, Natalino Gazonato, acredita que parte deste montante já tenha sido aplicada na poupança. Pressionados pelo risco de migração em massa de recursos, representantes da Febraban e da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) pretendem retomar as conversas com o governo sobre eventuais alterações no cálculo da TR (usada para corrigir a remuneração da caderneta de poupança e dos financiamentos da casa própria). De acordo com Gazonato, há cerca de dois meses, eles já haviam alertado o Secretário de Política Econômica da Fazenda, Julio Sergio de Almeida, sobre as distorções. Dados da Febraban mostram que, nos dez primeiros meses do ano, o rendimento da poupança foi de 6,9559%, sem cobrança de CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ou de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) após 30 dias. Com a CPMF, esta rentabilidade seria de 6,57%. O fundo FIC Referenciado DI do Bradesco, por exemplo, que teve rentabilidade de 8,87% no ano e taxa de administração de 4,5%, teria dado um retorno de 6,69% ao investidor, descontados o IR e a CPMF - ou seja, quase em linha com o rendimento da poupança. O diretor da área de investimentos do Bradesco, Marcos Villanova, ressalta que este fundo tem características específicas, premiando investidores com automóveis e casas sorteadas, e que outros produtos têm taxa de administração em torno de 3,5%, o que daria um rendimento liquido de 8,59% na mesma comparação. Ele, no entanto, confirma que a situação é preocupante, especialmente a partir do momento em que a Selic ficar abaixo de 12% ao ano. - Dentro deste cenário há algumas coisas que devem a contecer: o Banco Central pode aumentar o redutor da TR (desconto usado no cálculo da taxa), os fundos podem aumentar os investimentos em títulos privados na composição de suas carteiras, com um pouco mais de risco porém com mais rentabilidade e, em um último momento, os bancos reduziriam as taxas de administração. Mas, neste caso, possivelmente, seriam adotada taxas de performance - avalia. Atualmente, sobre os fundos DI, cuja tendência é render menos conforme a Selic vai caindo, ainda incidem o imposto de renda, a taxa de administração cobrada pelos bancos e a CPMF de 0,38% quando o dinheiro é transferido da conta para o investimento. O IR varia de 15% (para aplicações acima de 721 dias) a 22,5% (até 180 dias), enquanto as taxas de administração oscilam entre 2,5% e 3%, podendo chegar a 5%. Já a poupança, lembra o superintendente técnico da Abecip, José Pereira Gonçalves, é remunerada pela variação da TR mais uma taxa de 6% ao ano. - Além desta correção fixa de 6%, a TR tem uma fórmula de cálculo que, em determinado patamar, se torna insensível à queda da taxa básica de juros - diz. Diante deste fato, a remuneração da poupança fica garantida, ainda que a Selic continue a trajetória de queda. No início do ano, por exemplo, a Selic estava em 17,25%, tendo recuado para 13,75% em outubro. Apesar da redução, a TR se manteve praticamente estável, em torno de 2%. Embora isto seja aparentemente positivo para os poupadores, a distorção pode criar sérios problemas no financiamento à casa própria, alerta Gazonato. Atualmente, os bancos são obrigados a destinar ao financiamento imobiliário 65% da arrecadação com a poupança. Neste caso, diz o diretor, há dois aspectos preocupantes. O primeiro é que, em um primeiro momento, passa a haver muito recurso para financiamentos. Mas, caso os bancos de investimento tentem reagir à migração de recursos e baixem as taxas de administração dos fundos, criam-se incertezas no mercado. - O banco terá captado praticamente à vista, emprestado a um prazo que pode chegar a 20 anos e, de repente, há um movimento inverso de ida dos recursos da poupança de volta para os fundos - diz Gazonato. O diretor de Gestão de Recursos de Terceiros do banco Nossa Caixa, Joaquim Toledo, disse já ter baixado a taxa de administração de alguns fundos. - Não vou deixar que meu cliente tenha um rendimento menor nos fundos do que teria que se tivesse aplicado na caderneta -diz. Um fundo DI da Nossa Caixa com taxa de administração de 2,47% e rendimento bruto de 10,66%, teria propiciado ao investidor um retorno de 8,53%, descontado o imposto de renda em um período de 10 meses - apenas 1,58 ponto percentual acima do ganho da poupança. O outro aspecto que preocupa os bancos diz respeito ao bolso do mutuário, já que ele perceberá que sua prestação não cairá no mesmo ritmo da taxa Selic. - Se você continua derrubando a Selic e a queda não se reflete na TR, daqui a pouco a correção do contrato vai ficar incompatível para os tomadores de financiamentos. É bom lembrar que as pessoas tomam empréstimos por prazos de 15 a 20 anos. O risco é um retorno aos anos 90, quando as prestações eram tão altas que ninguém conseguia pagar - alerta Gazonato.

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