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Economia - Nacional

Análise: Revisão do PIB põe Copom em apuros


Agência O Globo SÃO PAULO - O conservadorismo monetário do Banco Central (BC) entrará num beco sem saída nesta quarta-feira. Dois eventos muito importantes irão colocar em xeque a ultra-ortodoxia monetária praticada pelo BC. São eles a revisão do PIB referente a 2006 e o Relatório de Inflação trimestral elaborado pelo próprio BC. Como já fez em relação aos PIBs anteriores a 2006, o IBGE irá divulgar depois de amanhã os dados relativos às contas nacionais do ano passado já segundo a nova metodologia. A expectativa geral é de que o crescimento do produto suba de 2,9% para uma faixa entre 3% e 3,5%. Se seguir o padrão geral das revisões relativas aos anos anteriores - acréscimo médio de 0,6 ponto - o PIB de 2006 exibirá expansão de 3,5%. O ponto que mais interessa diretamente à política monetária diz respeito à revisão do número relacionado ao aumento do investimento. Conforme explica o economista da LCA Consultores, Bráulio Borges, como, pela nova metodologia, a construção civil perdeu peso comparativamente ao item máquinas e equipamentos - e como este item cresceu muito mais que o investimento em construção civil - a projeção é de que o dado de investimento evolua de 6,3% para algo perto de 7%. O que isso tem a ver com a política de juros conservadora do BC? Tudo. Um investimento maior alarga o hiato do produto (que é a diferença entre o crescimento efetivo do PIB e o crescimento do PIB potencial), um dos principais fatores que o Copom leva em consideração antes de fixar a Selic. Ou seja, o alargamento do hiato do produto mostra conjunturalmente que há mais folga para a economia crescer sem gerar inflação. Diante disso, o Copom não precisará ser tão cauteloso. Noutras palavras, perderá um pretexto para manter excessivamente conservadora a sua conduta monetária. Ironicamente, a revisão do PIB será feita no mesmo dia programado para a divulgação do Relatório de Inflação do BC. Só que o novo PIB vai matar o informe do BC na maioria dos seus aspectos. O novo número para o crescimento do ano passado obrigará o BC a refazer completamente os modelos matemáticos utilizados para a confecção tanto do cenário de referência (dele mesmo) quando do de mercado. Para a elaboração destes cenários, os modelos consideram as projeções relativas a juros, câmbio, superávit primário e hiato do produto. Estes três últimos itens irão mudar em função do novo PIB. Ou seja, se os cenários fossem construídos já incorporando os dados mais recentes iriam indicar expectativas de taxa de inflação muito mais baixas do que as que estarão presentes no Relatório. Seriam novos argumentos em favor de uma flexibilização ainda maior da politica monetária, já que o mandato conferido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ao Copom é de perseguir os 4,5% do centro da meta de inflação, e não 3% como vem fazendo o BC. Embora natimorto em sua essência, o Relatório de Inflação desperta grande ansiedade entre os analistas do mercado por causa de um item específico que afeta a política monetária e que não será afetado pela revisão do PIB. Trata-se da projeção de alta dos preços administrados para este ano e 2008. Responsáveis por 30% do IPCA, os administrados estão sendo notoriamente superestimados pelo BC. Enquanto o mercado projeta em média elevação de 4% tanto este ano quanto em 2008, o BC estima aumentos improváveis de, respectivamente, 4,5% e 5,6%. Tecnicamente, não há como amparar essas expectativas. O problema é que, se o BC der a mão à palmatória e reduzir suas projeções, estará admitindo implicitamente que a política monetária comporta-se de maneira equivocadamente ortodoxa. Das quatro variáveis que integram o modelo econométrico utilizado pelo BC para projetar a inflação, três estão sofrendo alterações relevantes. E não é possível que a quarta - a taxa de juros - permaneça a mesma se as outras mudaram. O hiato se alterá em função do novo PIB. O superávit primário também. Pelo cálculo antigo do PIB, para obter superávit primário de 3,75% (já que 0,5% do superávit original de 4,25% será abatido via Projeto-Piloto de Investimento), o governo teria de economizar R$ 84 bilhões. Pelo novo cálculo, isso corresponde a 3,3% do PIB, segundo a LCA. O que a Fazenda irá fazer a respeito? O câmbio é outra variável que sofre alterações profundas. Depois da última reunião de política monetária do Fed, ele alcançou novo patamar, bem mais apreciado, em torno de R$ 2,06. Além da ausência de crises externas, o risco-país tomba (na sexta-feira desceu a 172 pontos-base, novo piso histórico) em função da queda da relação dívida versus PIB (de 50% para 46%) provocada pela nova metodologia do IBGE. Isso encurta o trajeto brasileiro em direção ao grau de investimento e colabora para atrair mais dólares. Por isso, a projeção de taxa de câmbio nos dois cenários usados pelo BC pode estar exagerada. Afora a revisão do PIB e o Relatório de Inflação do BC, os mercados irão se preocupar esta semana com os dois discursos que o presidente do Fed, Ben Bernanke, irá fazer, um na quarta-feira e outro na sexta. Os analistas esperam que Bernanke seja mais explícito que o comunicado pós-reunião do Fomc. Após a euforia de quarta-feira, os mercados se comportaram de forma volátil e insegura na quinta e na sexta-feira, sem saber se a intenção do Fed é mesmo a de reduzir o juro no segundo semestre. (Luiz Sérgio Guimarães | Valor Econômico)

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