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Ariel Argobe: Papo de universitário


 

 
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Costumeiramente, no meio da manhã, a companheira e colega de trabalho Cristiane Anastassioy me convida para fazer uma ‘boquinha’ rápida na lanchonete localizada no bloco de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia, campus de Porto Velho. É o momento de costurar conversas de bastidores, das mais variadas fontes e envergadura.

Ontem, dia 11 de agosto de 2010, mais ou menos no mesmo horário, repetimos o ritual. Caminhamos até a lanchonete enquanto conversávamos despretensiosamente. Lá chegando, fizemos nosso pedido. Procuramos uma mesa e nos acomodamos. E a conversa fluía, descontraída, enquanto degustávamos os quitutes solicitados para o desjejum matinal.

Do outro lado do ambiente, três ou quatro mesas depois, um grupo com cerca de dez alunos conversava. Falavam alto, sem se incomodar com as pessoas em volta. Discutiam sobre a sucessão no executivo estadual, conjecturando sobre o nome que irá ocupar o Palácio Getúlio Vargas a partir de primeiro de janeiro de 2011.

Para saúde da democracia no país e a consolidação do Estado verdadeiramente democrático, nada mais salutar assistir jovens universitários debaterem acerca do processo sucessório eleitoral.

No calor da conversa, repentinamente é largada no ar uma frase. Mais que uma frase, um jeito de se colocar no mundo. Melhor dizendo, um posicionamento ideológico, certamente à direita. Ou será uma analfabeta política? Uma aluna, muito falante e que parecia dominar o grupo, declara: “se quarenta por cento da população do Estado de Rondônia vai votar no Expedito Júnior, não serei eu quem vai deixar de votar nele (o Expedito)!”

Um silêncio mórbido pairou no ambiente. Todos nós (eu e Cris do lado de cá do ambiente e o grupo de alunos lá do outro lado) congelamos no mesmo instante. Um filme passou por minha mente, ali mesmo: o papel da instituição superior de ensino e pesquisa onde trabalhamos; o perfil da cidadania e caráter dos jovens estudantes que tiveram acesso a esta instituição pública (provavelmente alunos ou da medicina, ou da psicologia ou da enfermagem, são os que circulam naquele bloco); a qualidade dos profissionais que anualmente saem formados por esta UNIR; nível de compromisso e quadro de professores da instituição; tudo, enfim, passou muito rapidamente pela minha cabeça.

Peças publicitárias têm invadido a mídia nacional, abordando os mais variados temas que possibilitem despertar no cidadão a importância do voto consciente, o conseqüente fortalecimento da democracia e o real avanço para uma qualidade de vida mais digna; alerta para necessidade de se escolher bons nomes na hora de decidir o voto, afinal serão eles, os eleitos, quem decidirão os rumos e conduzirão as políticas públicas para saúde, educação, habitação, meio ambiente, cultura, agricultura e para todos os demais temas onde atua o Estado; decidirão sobre direitos humanos e cidadania para negros, índios, periférico, jovens, crianças, idosos, mulheres, portadores de necessidades especiais e populações quilombolas, tradicionais e LGBT, sem teto e sem terra e tantos outros brasileiros historicamente excluídos.

Tinha plena convicção que já fazia parte de nosso passado o voto no candidato que vai ganhar. Acreditava que esta conduta estava morta e enterrada, em avançado estado de putrefação. Tinha certeza que jazia em campo amorfo, o voto frívolo, alienado e inconsciente do eleitor sem compromisso com um mundo melhor. Que já se encontrava varrido do mapa aquele contribuinte que não faz reflexão sobre o currículo do candidato e suas propostas de governo.

Estava ali, diante de mim, aquela bela jovem, universitária, alegre, dinâmica e persuasiva, pronunciando aquela frase arauto da mais ampla e irrestrita imoralidade e, sem sobra de dúvidas, nociva às democracias que buscam se firmarem sérias e maduras. Uma fala que, de onde vejo, é a confirmação da exigência de um anjo mal que atravanca o avanço da cidadania, ardilosamente apregoando orgulhoso e sem o mínimo pudor, seu voto para um candidato sabidamente corrupto, cassado e impedido de registrar candidatura.

Só uma eleitora portadora de um coração com máculas, sem sonhos possíveis e caráter que habita a sombra da dúvida votará em um candidato portador de um histórico recheado de vícios, argumentando que o mesmo aparece em pesquisa eleitoral ocupando o topo de um gráfico que anuncia intenções de votos. Um candidato corrupto também produz pesquisas corrompidas, pensando naqueles eleitores que só votam em nomes que aparecem na dianteira das pesquisas eleitorais.

Um aluno contestou, para meu alívio. Pensei, nem tudo está perdido! Naquele protesto consegui vislumbrar uma luz no final do túnel, no momento do fecho da discussão dos acadêmicos. A conversa encerrou com outra frase igualmente interessante (nem tão politicamente correta), dita por outro aluno que discordava da forma de escolha da eleitora de Expedito Júnior.

“Votar de graça em um candidato corrupto que teve seu mandato cassado por comprar o voto do eleitor, pra mim é burrice.”

Resumo da ópera: das duas frases pronunciadas já não sei mais qual é a pior. E, sobre o ponto incandescente que vi no final do túnel, acredito que é apenas uma lâmpada queimada!

Fonte: Ariel Argobe

 

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