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Viviane Paes

Quem sou não está marcado no meu corpo


Quem sou não está marcado no meu corpo - Gente de Opinião

Viviane Vieira de Assis Paes
 

Um dos mais conhecidos registros que se tem sobre as tatuagens é do capitão inglês James Cook, quando o mesmo tentava entrar em contato com os nativos do Taiti.O povo daquela região designava o hábito de pintarem definitivamente a pele de “tatau”, por conta do barulho produzido pelos instrumentos utilizados na confecção para fazê-las.

O homem de Ötzi, com cerca de mais de 5300 anos, fazia inveja a qualquer aficionado por tatuagens dos dias de hoje. Em seu corpo foram encontradas mais de cinquenta tatuagens que, de acordo com alguns estudiosos, tinham significações religiosas.

A prática da tatuagem também foi registrada entre os egípcios e os pictos, uma civilização antiga do Norte da Europa. No Brasil, diversas tribos indígenas traziam tatuagens pelo corpo. Os waujás e os kadiwéus são alguns dos povos indígenas que utilizavam da pintura definitiva para expressarem rituais de passagem e reverência a alguns elementos da natureza.

Repassar uma mensagem, reforçar um valor, “causar” sem nenhum motivo lógico são alguns dos motivos que levam uma pessoa comum fazer uma tatoo. Apesar do registro desta atividade na história, na pele de artistas, celebridades e até autoridades este tipo de expressão artística ainda divide opiniões e causa preconceito.

Eu tento ser um ser humano respeitoso com meu semelhante e mesmo assim algumas tatuagens conseguem me surpreender – não acho melhor expressão que esta. Poderia ser: assustar, admirar e... Como assim o que é isto. Como ela teve coragem para tanto?

As tatuagens que hoje são temas de dezenas de programas de TV no exterior, principalmente nos EUA - demonstram como é nossa sociedade. Sê uma mulher tatuar um homem seminu ou o nome do namorado, marido ou qualquer coisa do gênero, ela logo será taxada de devassa – não aquela marca de cerveja... O mesmo não vale para os desenhos feitos pelos homens nos próprios corpos: mulheres nuas, nomes ou qualquer declaração de amor. Resultado deste grupo: machista.

As borboletas e suas flores, tribais, estrelas e versos de poemas são indicações de uma mulher romântica que ainda busca seu verdadeiro amor?! Grupo social: as certinhas – é para casar!

As caveiras, mesmo aquelas bonitinhas que foram customizadas e outro símbolos de ocultismo indicam um grupo padrão: rock and rol.

Os dragões, cobras, lobos, fênix e etc., se for possível utilizar aqui, pertencem ao grupo dos aventureiros e amantes de esportes radicais. Aqueles que sua mãe recomendou: não se meta com ele.

Não pesquisei muito para fazer a descrição dos prováveis grupos acima. Isto é algo fácil, todos nós da geração X crescemos ouvindo nossos avós e pais com o discurso: marcar a pele é coisa de “gangueiro” – aí cada região tem um adjetivo regional para descrever os “maconheiros”, hoje drogados...

Já os nascidos nas décadas de 80 e 90, da famosa geração Y, não se ligam muito nas pinturas corporais. O negócio deles – nascidos durante a criação da internet e todas as ditas vantagens que ela trouxe para nossas vidas: e-mail, Orkut, Facebook....

Agora volte os últimos quatro parágrafos só para ter certeza que você entendeu a mensagem e depois volte para cá...

Pois é, concordo com você. Tudo acima é passado. Hoje em dia, na época de meus filhos – como costuma lembrar meu caçula de nove anos, policiais utilizam caveiras que são símbolos de esquadrões de elite da Polícia Militar e Tropa de choque. Advogados e até juízes possuem dezenas de desenhos nada usuais no corpo para passar nenhuma mensagem, apenas por prazer de estar ali visível para o dono.

Em um dos programas que assisti recentemente sobre tatoo, a renomada, isto porque esta é uma profissão onde os salários em uma cidade de 100 mil habitantes aqui no Norte do Pará, pode chegar até 12 mil por mês, Kate von D ou melhor Katherine von Drachenberg, uma mexicana criada nos EUA mostra um lado fantástico da atividade. Ela escreve todas as histórias de seus clientes com a intenção de lançar um livro, isto se já não está nas bancas de revista, com estes relatos. É algo incrível. Nos programas aparecem vovós fazendo homenagens aos netinhos, filhos desenhando imagens das mães, sobreviventes de doenças terminais, pessoas com cicatrizes de acidentes cobrindo algo que os incomoda demais... E por aí segue!

É claro que também assisto muito de vez em quando, para não prejudicar a imagem de articulista, até parece, os que falam das tatuagens que deram errado. E não mostram apenas desenhos mal feitos. Em um mesmo episódio você encontra uma tatoo muito feia, uma bonita cujo significado agora envergonha o dono...

Enfim, hoje tive a oportunidade de comprovar que a tatuagem provoca reações dúbias até mesmo em quem seria o último a criticar: o tatuador! Achei incrível um profissional do ramo afirmar: “meus filhos só irão fazer tatuagens quando trabalharem, tiverem sua própria casa, ou dependendo da idade eu mesmo faço, no entanto dependerá muito do tipo do desenho e em que parte do corpo será feito”.

Assim mesmo! Continuamos tendo os velhos preconceitos. Eu, que fiz minha primeira tatuagem aos 30 anos, uma tendência na minha geração, que não queria ofender a família com atitudes de “maconheiros” como dizia minha avó – resolvi quase na casa dos 40 fazer mais duas tatoos. A primeira já causa confusão no povo: o símbolo da ordem Rosacruz nas costas. “Nossa nunca imaginei você com uma tatuagem”, “Nossa você foi bem corajosa”...

O engraçado é que esta dita tatuagem não causou discórdia na minha família. Meus pai gostaram de tudo, sua localização e principalmente o momento em que a fiz.

As tatoos desta terça-feira, 25, são especiais para mim – lógico né! Uma eu mesma desenhei, aos 16 anos, com caneta especial de caligrafia artística. E a outra criada no com a ajuda do Corel ocupa um local discreto, que não afetará meu dia a dia como profissional, mãe e esposa de um tatuado tardio também. Confesso que o influenciei.

Penso sinceramente que as marcas e desenhos que faço em meu corpo não afetam em nada quem eu sou. Meu caráter e personalidade estão aquém de pinturas corporais. Minha marca pessoal e a sua não podem se resumir nisto apenas. Até porque este corpo acabará quando eu morrer, quem sou não. Este ser eterno, pintura nenhuma marcará.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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