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Viviane Paes

Então, acabou o sonho ou pesadelo da UHE Belo Monte?!


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Viviane Vieira de Assis Paes

 

“O maior canteiro de obras do Brasil, localizado no sítio do Jirau, cidade de Porto Velho em Rondônia, ardeu em chamas no dia 15 de março e em poucas horas virou cinzas. Alojamentos e ônibus foram queimados ou destruídos, além do posto de saúde, de escritórios e do almoxarifado. Um caixa eletrônico do Bradesco saqueado. A destruição do canteiro de obras foi resultado de um levante operário”.  Este é um trecho de uma matéria publicada na revista Veja, em 18 de março de 2010. É impossível não fazer menção a este fato que marcou o setor elétrico quando o mesmo aconteceu no último final de semana nos três canteiros de obra da UHE Belo Monte, em Altamira (PA) e com certeza será destaque na mídia nacional.
 

Tal qual aconteceu nas instalações de Jirau, alojamentos não de madeira como os primeiros, mas de material anti-chamas foram derrubados por veículos pesados manobrados não por motoristas e sim por manifestantes encapuzados. Refeitórios quebrados e saqueados da mesma maneira que escritórios administrativos, lavanderias, lanchonetes de terceirizados... Os trabalhadores que não participavam das depredações tiveram a opção de fugir pela mata ou pelo rio Xingu. Quero lembrar que estamos falando da maior usina em construção do Brasil e a terceira maior do mundo!
 

O motivo não muito diferente de Jirau foi à negociação salarial que não agradou a todos, como acontece em todo período de dissídio de diversas categorias no Brasil e no mundo. Ao contrário de Jirau, não tem como não correlacionar, os trabalhadores não reclamavam dos alojamentos que são comprovadamente os melhores já construídos em barragem. Até porque em Jirau, durante uma visita do então presidente Lula foi dito: "Isso [ar condicionado nos alojamentos] demonstra que os trabalhadores vão aprendendo a conquistar seus direitos, os empresários vão aprendendo que é importante que, quanto mais conforto, mais os trabalhadores produzem e assim a gente vai mudando a cara do nosso País", disse um otimista Lula.
 

O problema e que nem mesma a presidente Dilma – especialista no setor elétrico e defensora do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira e de Belo Monte, os representantes dos consórcios que venceram os leilões para construir estes empreendimentos, os governadores, prefeitos e demais autoridades diretamente envolvidas não previram o imprevisível: o comportamento de 25 mil trabalhadores de diferentes escolaridades, religiões e regiões. Melhor dizendo de 50 mil, porque foram 25 mil em Santo Antônio e Jirau – no auge da construção, neste momento em Belo Monte em torno de 10 mil trabalhadores – e em 2013, 25 mil. Quer dizer seriam, afinal neste momento, por minha experiência em barragens posso afirmar que a logística do envio dos trabalhadores de volta para suas casas já que não existe local para abriga-los na obra e nem na cidade de Altamira será tratado como prioridade pelo consórcio responsável pela obra.
 

No segundo momento entram os planos de contingências que aprendemos nos MBAs. Só devem permanecer nos sítios Belo Monte, Canais e Diques e Pimental – que formaram futuramente a UHE Belo Monte, os trabalhadores responsáveis pela reconstrução da infraestrutura que era tido como 70 por cento resolvidos, antes desta quebradeira. O momento é de cortar custos, não digo com isto que os trabalhadores enviados para casa foram demitidos, eles continuaram a receber seus salários.
 

Também é necessário voltar à negociação com o sindicato, que por sua vez fica impossibilitado de exigir o impossível. Muito do que destruído não pode ser coberto por seguro. Eu como brasileira fico indignada como muitos deveriam ficar, afinal estamos falando de dinheiro do FGTS que estão sendo aplicados na obra que neste momento é a principal do PAC.
 

Também sou trabalhadora e humana e não sou alheia aos direitos trabalhistas, mas todos têm conhecimento que reivindicação trabalhista não é sinônimo de depredação, violência física, roubos de equipamentos... Ainda lembro com saudosismo quando a usina Samuel em Rondônia foi construída, apesar da pouca idade não me recordo de atos de violência em canteiros de obras como os que acontecem hoje.
 

Fico pensando será que a UHE Belo Monte terá o mesmo destino de Jirau que ainda não conseguiu cumprir nenhum prazo do cronograma, por conta do que ocorreu em 2010. Será que o sonho para uns, de ter emprego por 10 anos ou pesadelo para outros, dos alardeados impactos ambientais e sociais também chegou ao fim?! Não é tão simples assim, o que acontecer em Belo Monte afeta e muito todos os brasileiros.
 

Dos 1.135.607 Gwh de energia produzida, 794.925 Gwh será vendida as 27 distribuidoras de eletricidade espalhadas pelo país, a partir de 2015. No momento resido no centro-oeste, e estou muito preocupada com esta situação agora se eu estivesse no sudeste e nordeste eu não conseguiria dormir. Não é à toa que por estas bandas já começaram os apagões, são estas duas regiões que mais necessitam da energia de Belo Monte.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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