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Viviane Paes

Educando para o Mensalão


Educando para o Mensalão - Gente de Opinião

Viviane Vieira de Assis Paes

Meu filho Vinycius tem sete anos e uma intimidade com o episódio do Mensalão que poucos brasileiros da mesma tenra idade tiveram ou terão um dia. E isto não é motivo de orgulho, de jeito nenhum. Ele não é nenhum beneficiário fantasma deste esquema, mas como todos desta geração, do que é considerado o maior desvio de verbas públicas do Brasil, nossos filhos sofrerão as consequências dele.

O envolvimento de meu filho é simples explicar hoje, mas foi muito confuso na época para mim. Grávida de oito meses descubro que não receberia o auxílio maternidade porque a tal empresa DNA Propaganda que me contratou como terceirizada para prestar serviços em uma estatal era à mesma cujo proprietário Sr. Marcos Valério estava sendo acusado de gerenciar o repasse de verbas públicas para a maioria dos partidos políticos do País. Este foi o primeiro contato do Vinycius com o mensalão. Dois anos depois deste escândalo eu tive coragem de buscar meus direitos, referente a quatro anos de serviços prestados diariamente sem ter recebido férias, 13º, licença maternidade, depósito de FGTS e ter minha carteira assinada. Enfim, o Vinycius já tinha dois anos quando isto aconteceu. Mais um pouco, como nossas leis funcionam e muito, eu perderia o prazo para contestar esta situação.

Eu consegui, na verdade, nós conseguimos comprovar a existência de um vínculo empregatício com a principal empresa do Sr. Marcos Valério, mesmo a Justiça não tendo encontrado nenhum representante da DNA Propaganda para assinar minha CTPS. O julgamento foi à revelia e eu comprovei através de notas fiscais os anos de serviços prestados, reforçados com testemunhos de colegas de trabalho. Ponto para mim, ponto para o Vinycius e todo o meu respeito à justiça trabalhista!

Agora que meu filho completou sete anos acontece o julgamento do Mensalão. Engraçado que ele assiste os noticiários sobre o julgamento, no entanto ele não sabe o quanto esteve envolvido, ou melhor, foi atingido por tudo o que aconteceu. Para ele, o mensalão: “foi um coisa muito feia que um monte de pessoas ruins fizeram com as crianças é por conta disso muitos não irão frequentar as escolas”! Na sua visão infantil, ele até que está certo porque todo o dinheiro que foi para o bolso de uns e outros fizeram, faz e fará muita falta para a educação e a saúde brasileira.

O engraçado disto tudo, se é que podemos rir, é que até hoje eu não consegui receber nenhum dinheiro da indenização. Meu advogado conseguiu bloquear um dos muitos pagamentos que as estatais devem a DNA Propaganda?! Exatamente o que você acaba de ler, muitas empresas públicas estão devendo o Sr. Marcos Valério. O motivo é a quebra de contrato há sete anos quando estourou o mensalão. Quando ele receber tudo o que lhe devem, eu ficarei feliz e triste. Feliz como indivíduo e triste como cidadã. Até hoje não recebi absolutamente. Imaginem o que acontece com um bloqueio de um pagamento, cuja prioridade é para causas trabalhistas depois os demais, que não é liberado em uma vara do Tribunal de Justiça de DF?!

Nos últimos três anos foram mais de 20 cartas precatórias cobrando a liberação do dinheiro bloqueado sem nenhuma resposta em ofício sobre a situação. Com um detalhe incrível se ele fosse feito o depósito em minha conta corrente seria imediato, através do sistema on line, onde o próprio juiz libera o recurso com um simples toque na tecla enter. Felizmente a justiça trabalhista foi um das maiores conquistas deste País! Foi ela quem determinou à prisão três vezes seguidas de Sr. Marcos Valério, em Minas Gerais, por débitos como o FGTS...

Quanto a meu filho, se depender de mim, jamais ele saberá o quão intimo indiretamente foi de tudo isto. O Vinycius pode descobrir que estava certo quando afirmou que o mensalão prejudicou milhares de estudantes, uma nação e fez muitas pessoas deixarem de acreditar em todos os partidos políticos brasileiros. E, principalmente talvez tenha que guardar na memória um episódio triste da nossa história em que as penalidades de um crime contra os cofres públicos só foram julgados quando estava para prescrever em pleno ano político.

Observação: Setembro de 2013 e ainda não recebi minha indenização trabalhista... Nada mudou.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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