Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024 - 09h10
A revista Social Science and Medicine publicou
o resultado de uma pesquisa coordenada pela Universidade de Yale, dos Estados
Unidos, denominada “Um capítulo por dia.
O estudo analisou 3.635 pessoas
com mais de 50 anos, durante 12 anos, sobre seus hábitos de leitura. Os
pesquisados foram divididos em três grupos: os que não tinham o hábito de ler,
os que liam até 30 minutos por dia e os que liam mais que esse tempo.
A pesquisa concluiu que o
grupo intermediário, o de leitores ocasionais, apresentou 17% mais tempo de
vida que aqueles que nada liam. Esse percentual comparativo de
longevidade chegou a 23% entre os leitores vorazes de obras literárias. Ao comparar esses dados com
as análises do The University of Michigan Health and Retirement Study,
que estudou os fatores que influenciam na saúde de pessoas na mesma faixa
etária, os cientistas confirmaram que, em geral, quem lê livros regularmente
tem mais chances de viver mais.
A leitura habitual envolve processos
cognitivos que melhoram a inteligência emocional, a empatia, a percepção social,
a capacidade imaginativa, a concentração — a leitura é nossa maior fonte de
conhecimentos. Quando lemos, estimulamos nosso córtex cerebral, que está ligado
aos pensamentos, memória e consciência, o que reforma e fortalece as funções
cognitivas mais complexas do cérebro.
Entretanto, não é apenas o tempo que conta para que
a leitura traga todos os seus benefícios, mormente o relacionado à longevidade.
É preciso ler com atenção e refletir sobre o que se está lendo. A investigação em
questão também dá ênfase à leitura de livros, posto que ler textos simples, com
conteúdos pouco significativos não estimula uma atividade cerebral consistente.
O número de leitores brasileiros não é o desejável
e denota estar diminuindo. A conclusão publicada na 5ª edição da pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-livro (IPL), Itaú
Cultural e Ibope Inteligência, com dados de 2019, revela uma queda de 4,6
milhões de leitores, entre 2015 e 2019 — esse estudo considera leitor toda
pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos 3 meses que
antecederam sua participação na citada verificação.
Importa destacar que, entre leitores, há os analfabetos
funcionais, ou seja, aqueles que reconhecem letras e números, mas não conseguem
compreender textos nem realizar algumas operações matemáticas simples. No
Brasil, 1/3 das pessoas se enquadra nessa categoria. Essa grave deficiência
intelectual atesta a lamentável precariedade do nosso sistema educacional, que
há muito tempo precisa de melhorias estruturais vultosas.
Aos tantos benefícios da leitura, o acréscimo de mais esse literalmente vital é mais um estímulo à sua prática. Impõe-se enfatizar, todavia, que a capacidade de o leitor discernir sobre o melhor que a leitura lhe pode oferecer — condição que adquirida também pela leitura — definirá o nível desses benefícios e suas repercussões individuais e sociais.
*Médico,
jornalista, artista plástico, cartunista, chargista, frasista, autor de 22
livros, incluindo um sobre os primórdios da Medicina em Rondônia e os 50 anos
do Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia, 3 opúsculos e
participou de 9 coletâneas literárias. Recebeu diversas condecorações a nível
municipal, estadual e nacional, sendo a mais recente delas a Comenda Moacyr
Scliar – Medicina, Literatura e Arte, que lhe fora outorgada pelo Conselho
Federal de Medicina. É membro da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e
Artes, da Academia de Letras de Rondônia e da Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores.