Quarta-feira, 18 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Vivemos sob um golpe - Por Vinício Martinez e Marcos Del Roio


O que é viver sob um golpe? Primeiro é preciso saber de que golpe se trata. Em 1964 houve golpe militar e o trancamento das instituições democráticas e do direito foi brutal nos anos seguintes.

Desde 2016 temos um tipo de golpe “chapa branca”, como se dizia antigamente: o indivíduo ou a empresa recebem para facilitar a vida do pagante. Uma de suas características é distorcer, deturpar a realidade e expor uma imagem palatável ao gosto do consumidor ou do eleitor.

Por isso, a expressão foi (ou é) corriqueira no meio jornalístico. Daí que a participação da mídia oficial no processo de deposição do poder em 2016 sempre é acentuada.

A relação dessa mídia oficial com o impeachment é óbvia. Desde a manipulação das pretensas provas de crime de responsabilidade – passando pela inversão processual: o impeachment na democracia jamais seguiria um rito político-jurídico –, até a sustentação atual oferecida às reformas capitalistas de direitos: previdenciária e trabalhista. Bem como a escolha calculada dos inimigos para execração pública.

Aliás, se procurássemos pela memória encontraríamos o célebre debate entre Lula e Collor, com graves distorções já assumidas por seu autor, Boni: o capo jornalístico da Globo na época, e que deu posse ao “caçador de marajás”. Então, a história da chapa branca é longeva, remontando ao apoio dado ao golpe de 64.

Pois bem, acresce que os tanques nas ruas, em 1964, atiravam contra os direitos políticos e hoje, a começar pelo Rio de Janeiro, cumprem um estatuto chamado Garantia de Lei e Ordem.

Porém, em certa semelhança a 1964, quem atira contra os direitos – e não somente políticos – é o Poder Judiciário. Mas, não está só. O Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil não fez manifesto público contra o Golpe de Estado, nem antes e nem agora.

Outra diferença entre os períodos é que hoje o direito é tratado de forma diversa: em 1964 o direito terminava na ponta da baioneta, em 2016 a Constituição se torna um peso morto. Hoje, os militares são ameaçados pela insegurança pública e a Constituição é uma insepulta vagando pelos tribunais – à espera de quem lhe dê a pá de cal.

Portanto, é um golpe chapa branca porque a violência institucional superou – até agora – a violência que a presença dos militares na vida política poderia provocar. É chapa branca porque as tais reformas capitalistas de direitos, de um governo temerário por sua descrença, é endossada dia a dia pela mídia oficial.

Seu real empregador – os setores mais atrasados e oligárquicos da elite nacional, associados ao setor financeiro –, no entanto, troca os holofotes pelo controle da mensagem.

Por fim, é um golpe chapa branca, em curso e sem data de validade, porque o Judiciário lhe dá a guarida de legitimidade na “livre interpretação” da lei. E a liberdade é tanta que nos acostumamos a interpretar as leis – e os supostos fatos a que deveria se referir – em desacordo ou contra a vontade expressa da Constituição.

É chapa branca, neste sentido, porque o Judiciário – especialmente suas altas cortes – não pode desconstituir a Constituição. Se lá estivesse escrito que 2 e 2 são 4, um juiz iluminado por exegese inconstitucional afirmaria que o constituinte queria dizer 5. Pois bem, de 5 em 5 chegamos a “noves fora” e está fora o interesse popular, a democracia, a cidadania, a Constituição, o Estado de Direito, a República.

Nesse sentido, o golpe chapa branca de 2016 é pior do que a ação militar de 1964, porque hoje a imensa maioria não sabe que ocorreu e, obviamente, não percebe seu andamento.

            Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política)

Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Departamento de Educação- Ded/CECH

Marcos Del Roio

Professor Titular de Ciências Políticas da UNESP/Marília

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 18 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Dia da Criança

Dia da Criança

Hoje não é Dia da Criança. Ou melhor, todo dia é dia da criança – e é nosso dever denunciar, lutar e combater o trabalho infantil.           Afinal

Forma-Estado na Constituição Federal de 1988

Forma-Estado na Constituição Federal de 1988

No texto, relacionamos algumas tipologias do Estado (Teoria Geral do Estado) com suas subsunções no Direito Constitucional brasileiro, especialmente

Educação Política

Educação Política

Em primeiro lugar, temos que verificar que sempre se trata de uma Autoeducação Política. Parte-se do entendimento de que sem a predisposição individ

O Livro Teorias do Estado: Estado Moderno e Estado Direito

O Livro Teorias do Estado: Estado Moderno e Estado Direito

A Teoria do Estado sob a Ótica da Teoria Política, do professor Vinício Carrilho Martinez - oferece uma leitura acessível e profunda na formação, es

Gente de Opinião Quarta-feira, 18 de junho de 2025 | Porto Velho (RO)