Quinta-feira, 14 de junho de 2012 - 20h39
Já em plena era dos e-mails, tive um professor que ainda escrevia cartas. Aquilo me intrigava e cheguei a perguntar os porquês. Não me lembro bem, mas a resposta foi algo assim: “É como se tivesse a pessoa por perto”. Sua resposta, àquela época, também não me parecia muito clara.
Afinal, em tempos de comunicação instantânea, por que depender dos correios, por que escrever à mão se poderia digitar?
As redes sociais eram apenas um ambicioso projeto político que vingou em parte. Contudo, foi com o tema das redes políticas que fiz o primeiro doutorado. Nessa fase, entendi, ou penso que entendi, adequadamente, o conceito do que é o virtual. Aprendi que não é o contrário do real, por mais que assim se pareça para a maioria de nós.
De todo modo, aquelas imagens do virtual sempre ficaram em minha mente – mesmo depois que deixei o tema de lado. Acho que me esgotou o fato de ter lido tudo que havia no Brasil, de mais importante.
Hoje, lendo sobre filosofia do direito, deparei-me com várias referências à troca de correspondências entre os autores tratados no livro. A conversa entre ambos se passou na Alemanha de 1930-1933 e transcorreu com imensa gentileza.
Acho que um pouco impressionado com as cartas dos autores, lembrei-me do antigo professor e dos seus amigos que mantinha próximos com suas longas escritas. E novamente me peguei fazendo a mesma pergunta: “Por quê?”.
Apesar de ser mais rápido, o virtual não lhe parecia material, real, sensível à própria dificuldade da redação. O e-mail pode ser refeito, nos erros. A carta manuscrita precisa ser pensada antes de ser escrita, não há como alterar, seria preciso refazê-la inteiramente. O e-mail pode ser escrito em partes, começo hoje e termino amanhã. A carta obedece a um projeto, cronograma de realização, com começo, meio e fim bem delineados – não há como apagar a incerteza que se tinha no início.
A carta parece mais racional, e é. Nisto não se torna exatamente mais real, pois o e-mail também comunica sentidos e sentimentos. Aliás, a carta também é virtual, uma vez que relata apenas aproximações ao “real” sentido e ao sentimento professado. A carta é apenas um meio, como também o é, o e-mail. Tal qual o e-mail, a carta conduz apenas uma potência do que gostaríamos de expressar. Quando se diz um “grande abraço”, por mais que seja sincero, jamais se exprimirá a sensação do verdadeiro abraço. Mas, nisto estão equiparados, carta e e-mail. Então, em que potência se diferenciam?
Farei outra analogia e aí talvez possa explicar o que só hoje entendi, a respeito das cartas de meu antigo professor. Produzir e enviar um e-mail é similar a escrever uma crônica – a exemplo desta. Você senta ou dita e tudo se passa como se fosse uma conversa na sala de sua casa, sem muitas ambições, tranquilamente tomando café ou até vendo TV. Lembro-me que ditei uma crônica inteira e minha mãe foi anotando – não é o caso de hoje, mas escrevo com a TV ligada ou lendo outras coisas.
Agora, escrever uma carta seria equivalente a redigir um poema para uma pessoa de quem se gosta muito. Aí não é fácil, tente para ver. É preciso aliar toda uma engenharia, uma racionalidade própria: coração e mente, inspiração e um grande refazer, mesmo que seja recortar e colar. Ainda que sem rimas ou de rimas pobres, você precisará convencer a outra pessoa de que seus versos são a mais pura verdade. Também tentei isso na adolescência.
A crônica tem o único compromisso de satisfazer a curiosidade do leitor, às vezes conduzido pelos sentimentos do autor. No dia seguinte, pode servir para embrulhar peixes, como se dizia a respeito dos jornais impressos e, na era dos e-mails, pode ser deletada sem remorso.
A carta, dirigida unicamente a você, a mim, não é reservada a uma possível (virtual) leitura, exige ser materializada com todos os sentidos. No e-mail, mesmo que enviemos uma carta – também já fiz isso –, não nos resta outra opção a não ser passar os olhos.
Na carta, além de tocá-la, em certos casos, pode-se sentir a trama do papel, o relevo, ou o perfume dos apaixonados. A carta tem uma assinatura única, uma caligrafia como impressão digital. O e-mail, mesmo com assinatura digital, não altera a gramatura do original. Quando assinamos, alteramos, riscamos o papel, alteramos sua substância e forma. O papel nunca mais será o mesmo. O e-mail pode ser duplicado, copiado, reenviado, como cópias sem fim – mesmo que eu o delete, o outro poderá guarda-lo. A carta é única, original, como os sentimentos, não admite cópias – o xerox de uma carta é uma farsa. A cópia do e-mail é autêntica, como se o autor a tivesse produzido.
Definitivamente, não vou escrever cartas, penso ter ficado pós-moderno demais, sossegado pela facilidade do teclado e da Internet. Mas, que a modernidade tem muito a nos ensinar, mesmo que pareça coisa do passado, disso não tenho nenhuma dúvida. Realmente, o tempo nos leva a perceber muitos deslizes, dele, tempo, e nossos.
Mas, é certo que a carta guarda o que o pensador Walter Benjamin chamou de “aura”, um relevo da verdade, o mais próximo da alma de quem a escreveu. A letra pode indicar a ansiedade, a pressa, a calma, se está de pé, sentado, se é destro, se está falhando nos sentimentos, como a própria tinta da caneta.
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