Sábado, 18 de agosto de 2012 - 05h04
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário/UNIVEM/Marília-SP
Na novela adaptada de Jorge Amado, Gabriela, há personagens de todo tipo que ocuparam a cena da vida real de uma Bahia (ou do Brasil) do passado. Por isso, muitos são personagens da vida real, a começar pelos coronéis e ex-escravos que se esforçavam em se manter vivos, na condição de trabalhadores ou de capangas da morte.
Há a própria Gabriela, uma retirante que também sobreviveu aos dramas secos do sertão. E há um professor meio esquisito, aliás, bastante estranho, mas de certa funcionalidade no enredo porque indica um esforço civilizatório daquela sociedade. O mais estranho, no entanto, é o fato de que tenha se amasiado com uma quenga, prostituta, e ela mesma uma personagem “tida e mantida” por um coronel.
Se não fosse trágico seria cômico, mas este professor – com o engenheiro e o dentista (morto) – que forma o núcleo do processo civilizatório, é tido e mantido pela quenga. Lá como cá, a vida material do professor é irrisória, um atentado à dignidade: não tem dinheiro para trocar de sapatos. O que parece cômico, na verdade, é trágico porque revela o que sempre foi feito da educação no Brasil.
Sua condição material de existência, refugiando-se sem esperanças na casa da quenga, é um demonstrativo dos muitos donativos e esmolas que a escola recebe. Dos “amigos da escola”, daqueles que trabalham de graça em atividades extraclasse, às doações de migalhas que muitas vezes servem de única merenda/refeição diária, tudo se revela absurdamente precário. A educação no Brasil é formada por um corpo descrente e outro doente.
Em Gabriela, o professor teúdo e manteúdo recebe, além dos afagos e demais préstimos de assistência emocional, doações de ordem econômica, como sapatos e gravatas (e muitas refeições). É certo que o tal professor/poeta é acometido de muita fragilidade emocional, como alguém que não se adapta à realidade social.
O professor parece um ser tímido, uma imitação de intelectual, mas no fundo é deslocado, provocado e provocador da miséria humana; um tipo claro de dominação pelo estranhamento, um “sujeito sujeitado” capaz de recitar, mas ignorante por completo do Iluminismo. Não é um poeta de verdade, com suas rimas encomendadas, medidas com força na métrica, mas é um provocador da civilização adormecida. O professor pode alertar suas alunas acerca da Ilustração, mas ele mesmo é incapaz de reconhecer a liberdade, a igualdade.
Com as rimas pretende indicar ao mundo que há saída para aquele estado de coisas, que no lugar da violência, da morte anunciada, da ignorância, do desprezo social, há a possibilidade de realização dos sonhos individuais não-excludentes. A ironia das relações sociais e o tipo bem caricaturado deste professor nos levam a rir, mas é de chorar se pensarmos que a realidade dos “sonhos de humanidade” está apartada de milhares de brasileiros.
Seus versos, pobres em sentido técnico, são ricos na mensagem da inteligência social que congregam – quando a quenga revela não entender o que lê, apesar de achar fabuloso, o que nos diz é que o espírito humano do brasileiro da época estava muito atrasado, preso ao passado de sombras e escuridão do analfabetismo. A bela moça é portadora da negação do acesso à cultura, educação, liberdade de pensamento e expressão.
É óbvio que qualquer indicação de refinamento intelectual é combatida como subversão, como ameaça às estruturas sociais dominantes, porque levam consigo a mensagem da interrogação. A dúvida sobre a certeza das relações sociais é o que há de mais civilizatório nos romances de Jorge Amado. São expressões já empregadas no pensamento social, mas o professor vê atonitamente a pulsão econômica que se origina no caleidoscópio ou ornitorrinco da ordem social brasileira.
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