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Gente de Opinião

Silvio Santos

XOROQUINHO


O capoeira do Quilomblocada

Elias Fernando Ribeiro por esse nome fica difícil identificar de quem se trata, agora, se dissermos, Xoroquinho todo mundo sabe dizer quem é, o que faz e aonde encontrar. Ele veio para Porto Velho trabalhar como cozinheiro no restaurante do seu cunhado. "Aí ele achou que eu queria mandar mais que ele no restaurante e foi embora", sorte dos interessados em aprender a jogar capoeira na capital rondoniense, pois ao se ver desempregado Xoroquinho foi fazer o que mais gosta desde de criança, jogar e ensinar a jogar capoeira. "Montei o Grupo Barra Vento e comecei a ensinar capoeira em Porto Velho" Sempre envolvido no movimento capoeirista de Porto Velho nosso entrevistado também atua como percussionista no Grupo Quilomblocada. "O Quilomblocada é a junção de vários ritmos executados num esmo momento e que no final, se transforma num ritmo próprio". Mestre em Capoeira, Xoroquinho hoje faz parte do Grupo Candeias um grupo formado por seis Mestres onde cada Mestre domina uma região. "No meu caso sou Mestre da Rede da Região Norte, que engloba os estados do Amazonas, Acre e Roraima mais os paises Peru, Equador e Argentina". Por falar em estrangeiro, Xoroquinho tem um filho de 32 anos que é instrutor de capoeira no Equador país onde o Mestre deve estar no mês de novembro, participando do batismo de graduação de capoeiristas daquele país. Xoroquinho fala das dificuldades para conseguir patrocínio dos nossos empresários e do órgãos governamentais em Rondônia, mas diz que apesar das dificuldades dois alunos do seu grupo Candeias trouxeram para Rondônia e Acre troféus de terceiro lugar no campeonato mundial de capoeira. "Isso prova que nossos capoeiristas estão entre os melhores do mundo". Melhor mesmo acompanhar a entrevista com o Mestre Xoroquinho.


E N T R E V I S T A

Zk – O apelido Xoroquinho vem de onde?

Xoroquinho – Xoroquinho é de uma divindade africana que vem de xoroquê aí eu acrenceitei o diminutivo.


Zk – Agora, o Xoroquinho pessoa é quem?

Xoroquinho – Xoroquinho pessoa se chama Elias Fernando Ribeiro mineiro de Poços de Caldas.


Zk – Fala sobre tua infância?

Xoroquinho – Eu nasci em Poços de Caldas cresci em São Paulo, fiz o Exército em Poços de Caldas, voltei pra São Paulo, aprendi capoeira em Poços de Caldas e em São Paulo. Minha vida foi nesse trecho mais Rio de Janeiro.


Zk – E como foi que você veio parar em Rondônia especificamente em Porto Velho?

Xoroquinho – Na época, dois cunhados meus moravam aqui, um engenheiro agrimensor e o outro fazia sondagem de urânio aí ele montou um restaurante aqui o "Caco de Cuia" e como sou cozinheiro ele me trouxe pra trabalhar no restaurante. Acontece que nós não demos certo, ele achou que eu queria mandar no restaurante então foi embora pra São Paulo.


Zk – Você falou numa profissão que pouca gente sabe que você exerce, que é a de cozinheiro. É cozinheiro chefe de cozinha mesmo?

Xoroquinho – Na realidade tenho diversas profissões, sou cozinheiro, músico, mestre de capoeira, bar mam, faço diversas coisas. Ultimamente minha profissão é capoeirista. Como cozinheiro faço diversos tipos de comida porque em São Paulo a gente tem que ser versátil para poder trabalhar em restaurante. Preparo diversos pratos nacionais e internacionais.


Zk – E a capoeiras como surgiu na tua vida?

Xoroquinho – Comecei a treinar capoeira em 1966 em Poços de Caldas com o Mestre Zé Capoeira, fui pra São Paulo e comecei a treinar na Lagoa do Abaeté com o Mestre Roberto Itabuna e em 1982, montei o Grupo Barra Vento e com esse Grupo vim parar em Porto Velho, hoje faço parte do Grupo Candeias.


Zk – Como é que funciona. Quero saber dos estilos de capoeira?

Xoroquinho – Na realidade, capoeira é uma coisa só. Aí surgiu o Mestre Bimba e colocou "Capoeira Angola Regional Baiana" e para o outro tipo não ficar sem nome, ficou "Capoeira de Angola". Agora a gente tem "Capoeira Contemporânea" que á a capoeira moderna em síntese, tudo é uma coisa só.


Zk – Isso quer dizer que tanto o jogo da capoeira do mestre Bimba como as demais são iguais. Não tem diferença entre um estilo e outro?

Xoroquinho – Tem diferença sim. A capoeira de Angola é mais de malandragem, pessoal antigo, o capoeira joga pro chão. A capoeira regional, é jogada em pé. Já a contemporânea abrange os dois estilos, é mais arte marcial, é mais defesa pessoal mesmo.


Zk – Capoeira é mais dança ou mais luta?

Xoroquinho - Capoeira é arte, esporte e defesa pessoal. Ela é a arte marcial brasileira.


Zk – Eu particularmente, nunca vi uma luta de capoeira onde os participantes usem golpes mais violentos. Existe esse tipo de competição entre os capoeiristas?

Xoroquinho – Tem! Tem Campeonato Brasileiro, Campeonato Universitário, Campeonato Mundial. A capoeira em si, é arte marcial, ela bate muito. É uma arte de resistência que o negro usava para se defender.


Zk – Como no caratê, na capoeira tem golpes mortais?

Xoroquinho – Tem golpes mortais sim. Só que como a gente ensina capoeira como educação esse golpes não são muito divulgados ou colocados em prática. Mesmo nas competições de capoeira não se usa esse tipo de golpe. Nós praticamos capoeira como esporte e não como uma arma de matar.


Zk – E movimento capoeirista em Rondônia com está?

Xoroquinho – Eu cheguei em Rondônia em 1985 e montei o Grupo Barra Vento. Aqui já existiam alguns capoeiras, conheci um capoeirista antigo daqui que saia na escola de samba Diplomatas que era o Bola Sete. Hoje a capoeira em Rondônia está progredindo, acontece que enfrentamos um problema muito grande, é que nosso estado é muito longe dos grandes centros onde se pratica capoeira e em conseqüência fica difícil se trazer o pessoal desses locais para se fazer aqui uma reciclagem, fica muito caro em virtude do meio de transporte que tem que ser avião em suma, nós capoeiristas de Rondônia estamos um pouco atrás em relação aos capoeiristas dos grandes centros.


Zk – Você é Mestre. Tem outros Mestres em Porto Velho ou em Rondônia?

Xoroquinho – Aqui tem o Mestre Geoli que veio do Rio de Janeiro. No interior tem capoeiristas formados, mas, mestre mesmo, não conheço muitos não. Tem esse Geoli que eu conheço e tem eu, se tiver mais algum eu não conheço.


Zk – Na capoeira como é que se classifica o capoeirista. Quero saber se é por cores nas faixas como acontece no judô, caratê etc...?

Xoroquinho – Na capoeira existem dois termos. O termo "Cordéis" que é um cordel feito ou de lã ou de nylon e tem o "Cordel" que é uma corda de algodão pintada. No meu Grupo o capoeirista começa com, cinza, verde claro, verde amarelo claro, amarelo, laranja, azul claro. Essas são as cores para os iniciantes. As cores para os graduados são: verde escuro, verde azul escuro, azul escuro, roxo, roxo e marron, marron, vermelho e branco que é a Corda de Mestre. Acontece que tem outros grupos que têm outros tipos de corda. A Capoeira Brasil a Corda de Mestre deles é Preta. A maioria dos grupos é branca e em alguns, vermelha.


Zk – A capoeira de Rondônia já foi premiada em nível de Brasil, exterior?

Xoroquinho – Meu grupo já ganhou diversos prêmios. Agora em 2006 no Open Internacional campeonato mundial do grupo, ficou um aluno meu em terceiro lugar e um aluno do Acre em terceiro lugar na categoria dele.


Zk – E você da aula no Acre?

Xoroquinho – O Grupo Candeias é formado por seis Mestres e cada Mestre é uma rede. A minha rede é a Região Norte então tenho aluno no Amazonas, Rondônia e Acre e também tenho fora do país, no Peru, Equador e na Argentina.


Zk – Por falar em Equador você está de viagem marcada pra lá. Vai fazer o que?

Xoroquinho – No dia 17 de novembro tem um evento dos meus alunos que dão aula lá e vai acontecer a graduação dos capoeiristas do Equador. Vamos batizar 150 equatorianos.


Zk – Além do Grupo Candeias quais outros grupos existem em Porto Velho?

Xoroquinho – Tem o Grupo Giorge de Capoeira, Oficina da Capoeira e tem o São Bento. Existem outras pessoas que dão aula mais a gente não tem muito contato.


Zk – Em Porto Velho existe campeonato de capoeira?

Xoroquinho – Existe, existe mais os capoeiristas não participam não, geralmente faço um campeonato e quem participa são meus alunos. A capoeira em si tem uma certa rivalidade de grupo pra grupo, isso é uma coisa que não deveria acontecer. Se a gente fosse unido a capoeira de Porto Velho seria bem mais forte, acontece que o pessoal tem maneiras de pensar uma diferente do outro.


Zk – Já aconteceu ou acontece dos capoeiristas de um grupo entrar em conflito com os do outro grupo e pau quebrar de verdade?

Xoroquinho – Já, já acontece! Eu faço uma roda que se chama "Roda da Paz" que acontece todo passagem de ano, aí, de vez em quando aparece pessoas de outro grupo querendo digladiar aí o bicho pega.


Zk – Você recebem apoio dos órgãos governamentais?

Xoroquinho – Esse é o problema do esporte em Rondônia. O negócio aqui é complicado e ainda tem aquele problema da Lei do Incentivo só que os empresários locais não estão informados sobre essa Lei. Deixa eu dizer uma coisa.


Zk – O que?

Xoroquinho – A capoeira é a maior fonte de tradução da língua portuguesa no mundo. Tem capoeira em mais de 100 países e todo capoeirista é obrigado a falar português e quando a gente faz festival no exterior eles querem vir ao Brasil para ver a nossa capoeira, então, eles aprendem português pra aprender capoeira. Só que nossos empresários não vêm nossa capoeira com bons olhos. Na minha opinião a capoeira é a melhor fonte que existe para uma empresa mostrar seu produto.


Zk – Agora vamos falar do percussionista?

Xoroquinho – Eu freqüentava um Centro Espírita em São Paulo. Acontece que machuquei o joelho e um rapaz falou. Xoroquinho porque você não vai no Centro ali, eles arrumam essa lesão. Fui. Cheguei lá uma entidade disse, ô rapaz tu toca ali, e eu respondi, não sei tocar não, e a entidade disse, tu toca sim. Depois de ver meu joelho essa entidade me botou pra tocar,m no primeiro dia sai com a mão que parecia três de tão inchada, só que achei que dava pra tocar. Na capoeira tocava berimbau e depois disso passei a tocar percussão também, certa vez fomos fazer um show de maculelê numa festa de gradação de bacharel em direito e o percussionista da orquestra contratada pra tocar o baile faltou e como o maestro tinha me visto tocando atabaque no maculelê me convidou para fazer a percussão na Banda disse que nunca tinha tocado em banda, mas ele me convenceu a tocar na festa. A primeira música foi Beija-me Muito, depois veio uma seqüência de Ray Connyff era muito bolero e acertei todas, o maestro gostou tanto que me contratou pra ficar tocando na orquestra. Já toquei em diversas bandas, toquei em banda que se apresentou no programa do Chacrinha, já toquei em muitas bandas de gente famosa. Aqui em Porto Velho de vez em quando dou uma canja por aí.


Zk – Quer dizer que você foi ogan de toque?

Xoroquinho – No caso do Centro Espírita não é ogan é atabaqueiro. Fui ser ogan mesmo, no Candomblé.


Zk – A pessoa para se transformar em ogan tem que saber quantos toques de candomblé. Aliás, quais os toques mais importantes no candomblé?

Xoroquinho – Vou falar dos toques "pesados". Barra Vento, Arujá, Congo de Ouro, Cagula, Quebra Prato, tem diversas formas de se tocar é uma verdadeira escola de música.


Zk – Cada entidade tem seu toque?

Xoroquinho – Cada toque é pra uma certa entidade, só, que essa entidade pega quase todos toques pra ela também. É assim, é tipo você ir no baile, começa lento, depois fica médio, depois rápido e depois super rápido.


Zk – E o Quilomblocada como surgiu?

Xoroquinho – O Quilomblocada foi uma fusão. Tinha o pessoal do Hip Hop, o pessoal do Rock e o pessoal caboclo nativo da terra mesmo. Aí nos unimos e resolvemos montar o grupo. Até estamos pensando em montar um Bloco, porque existe Bloco Afro só que falta um Bloco Afro-Indígena no Brasil. O Quilomblocada é uma mistura de caboclo, negro e índio. Trabalhando porá ver se sai um DVD.


Zk – De repente a gente assimila dentro do grupo a batida do bumba, rock, hip hop e outros ritmos. Como vocês conseguem essa fusão numa única música?

Xoroquinho – Tem também maracatu, coco, embolada, bumba-meu-boi had core e colocamos tudo junto. Eles criam a letra e a gente cria o ritmo. Esse ritmo nós chamamos de Quilomblocada que é próprio daqui. O pessoal diz que é um pouco Chico Siens, um pouco Cordel do fogo Encantado, mas, se você prestar bem atenção o Quilomblocada é bem diferente.


Zk – Vamos detalhar melhor?

Xoroquinho – Por exemplo, o Flamarion faz rock na guitarra, o Tino bate Boi-Bumbá no surdo e eu faço o afro-cubanao na percussão e tem o Foca no baixo. Estamos tentando colocar uma mulher como back vocal. Os cantores em si fazem uma embolada, uma atrapalhada, aí vamos botar uma mulher pra ver se o negócio melhora.


Zk – Quem são os cantores?

Xoroquinho – O Átila que é o Boca e o Samuel que vieram do movimento hip hop o Samuel veio mesmo do beiradão é o verdadeiro caboclo da Amazônia.


Zk – Quem faz as letras e as músicas para o grupo?

Xoroquinho – O Boca o Samuel, eu tenho algumas letras, Mas os principais são o Boca e o Samuel. Nos dias 23 e 24 de novembro vamos participar do Festival "Beradeiro".


Zk – Você me disse que quando voltar do Equador vai promover um festival. Que festival?

Xoroquinho – Em dezembro pretendo realizar o FEMUCA que é o Festival de Música de Capoeira com oficina de percussão, dança afro e uma apresentação de tambores – "Se os tambores falassem". O Projeto ta Pronto falta conseguir os patrocinadores.


Zk – É difícil aprender a tocar berimbau ?

Xoroquinho – Acho que não, ele é complicado porque é uma corda só e a caixa de ressonância é a cabaça com a própria barriga. Se a pessoa tem aptidão musical fica fácil aprender.


Zk – Qual a melhor vara para se fazer uma berimbau?

Xoroquinho – Eu pego dois tipos de vara. A vara própria é o Biriba, acontece que Biriba ta em extinção e aqui não tem e o da Bahia muitas vezes eles dizem que é Biriba mais não é. Aqui eu uso Envira, Branquinha e Marmelo. A corda é arame de pneu. Corto o pneu e tiro o arame que é de aço e a cabaça que tem que ser cabaça mesmo e não cuité (cuieira). No meu caso faço berimbau alternativo já que dou aula pra criança. Faço berimbau com latinha, com cano de PVC que é pra não ter perigo de machucar a criança, também faço pandeiro daqueles pratos que seguram planta. Depois que a criança aprende passo a usar os instrumentos profissionais.


Zk – Vamos encerrar falando da família. Você é casado?

Xoroquinho – Cheguei em Porto Velho já casado. Tenho um filho Edson que da aula no Equador que tem 32 anos o apelido dele é Madeira em homenagem ao nosso rio Madeira; tem o outro Filho que é pagodeiro e toca cavaquinho que é o Elias Júnior, tem a filha que está fazendo Educação Física e minha mulher Maria José trabalha no Hospital das Clínicas.

Zk – E para entrar em contato com você?

Xoroquinho – Tenho uma página na Internet www.candeiaspvh.com tem o meu e-mail [email protected] e o telefone é 9986-0046 ou 9242-3690 e 3224-6188.


Fonte: [email protected]

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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