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Gente de Opinião

Silvio Santos

PAULINHO RODRIGUES


Waku'mã e seus tambores, em DVD

O advogado, multi-instrumentista, artista plástico e agitador cultural Paulinho Rodrigues, pela segunda vez é nosso entrevistado. (em 1995 iniciamos justamente com o Paulinho Rodrigues a série de entrevistas que são publicadas aos domingos). Paulinho é dessas pessoas, amada ou odiada de "cara", com ele não tem meio termo, ou é, ou não é. Há quem o considere muito exigente, porém, quem o conhece de verdade, sabe que trata-se de um perfeccionista de primeira linha, com ele não tem esse negócio de mais ou menos, ou é perfeito ou não. Para se conferir o que escrevemos é preciso acompanhar Paulinho num dia de apresentação da Banda Waku'mã. Apesar de ser a principal estrela da Banda, é ele que vai conferir os detalhes da montagem, do palco, da aparelhagem de som e da iluminação. é ele quem afina os instrumentos e orienta o cenografista. Quando a gente pensa que o homem está concentrado para o show, o encontramos dando pitaco na maquiagem das dançarinas do grupo e até na maneira das recepcionistas receberem os convidados. Existe um momento em que podemos encontra-lo totalmente concentrado, isso acontece uma hora antes do show começar, ele se tranca no camarim, ou então vai para um canto do local onde o show vai acontecer, acende um bocado de incenso e fica bebendo um chá de não sei o que, aquele momento, é sagrado, ninguém consegue lhe falar, nem mesmo sobre qualquer problema que por ventura esteja acontecendo em relação ao andamento do espetáculo. É claro ou melhor, é impossível que o show de um artista como Paulinho Rodrigues não seja coroado de êxito. Foi com toda essa performance, que Paulinho Rodrigues trabalhou a Produção do DVD que será lançado no próximo dia 22 na Casa da Cultura Ivan Marrocos, lançamento que motivou essa entrevista. O Amo de Tracoá aproveita, para falar de algumas fases da sua carreira e o porque de sua admiração pela chapada de Tracoá. Prêmio Funarte "Klauss Vianna" de Dança e a luta pela valorização da nossa cultura, são assuntos que o Paulinho trata com muita seriedade nessa entrevista.


E N T R E V I S T A


Zk - Por que Amo do Tracoá ?

Paulinho - Na toada "Povo Moreno", me refiro a esse acidente geográfico que cruza o estado de Rondônia até os contrafortes da Cordilheira dos Andes. Sobre a "Chapada do Tracoá", visível para quem viaja para Guajará Mirim, existem histórias fantásticas, da qual destaco aquela que envolve os povos da Chapada, e, uma antiga civilização (descendentes de Quechuas e Aymaras), que habitava a face leste dos Andes e que mantinha estreita ligação de amizade com os povos do Tracoá. O carinhoso codinome, veio do amo Silvio Santos do Bumbá da velha tradição "Corre Campo".


Zk - Há comprovação científica sobre isso?

Paulinho - Aurélio Abreu (Antropólogo e Editor da Revista Planeta), pesquisou e publicou estudos, revelando estas histórias. Em São Paulo, quando tomou conhecimento, que eu era natural de Rondônia, fez contato, abriu sua biblioteca e me mostrou livros e escritos raros, além de fotos que comprovavam sua estada naquela Chapada. Conheci também, um exemplar dos tambores, que ele mesmo coletou durante sua pesquisa de campo. O antropólogo, após suas observações, concluiu que tambores do Tracoá (feitos até hoje com argila e pelas de seringa), foram levados para a Cordilheira dos Andes, e que os "Bombos Legueros" de lá, foram trazidos e deixados como presentes, aqui na Chapada do Tracoá (Pakaás nova).


Zk - O título do show deve-se a isso ?

Paulinho - Essa história, me envolveu de tal maneira, que depois do espetáculo "Histórias de Cada Canto", fiz uma prospecção mais acurada, realizei pesquisas demológicas, fui ao Tracoá e Cautário, e, decidi chamar o atual show de "Tambores do Tracoá", que também é o título do DVD da Banda Waku'mã. Vi nessa relação ameríndia, uma forma de resgatar as histórias que povoam o rico imaginário popular de Rondônia. Nós temos cultura, resta criar mecanismos para divulgá-la, inserindo positivamente nosso Estado, no mapa cultural da América Latina


Zk - A Banda Waku'mã existe desde quando?

Paulinho - Desde que retornei do estudo acadêmico em São Paulo, pelos idos de 1990. Aqui formei com Erivaldo (bateria), Wesley Santos (baixo), Bira Lourenço (percussão), a célula embrionária da atual Waku'mã. Depois vieram Paulinho Batera, Cícero Índio, Catatau, Tullio e Teimar; nos metais Denival, Lira, Marcelo, Odilon, que estão conosco até hoje; ainda, contamos com os vocais de Silvia Helena. Não podemos esquecer de Adriano Oliveira, Marcelo Trilha, Souza, Ely, Ramos e o maestro Tio Rufa, que neste show de lançamento do DVD, virá especialmente de Cuiabá-MT, para uma participação especial com seu trumpete de ouro. Vale registrar que na fase intermediária da Banda, Tio Rufa e eu, fizemos os arranjos da "metaleira", varando madrugadas inteiras para aprimorar a harmonia da Waku'mã. Ao Tio Rufa sou eternamente grato, pois além de amigo, é talentoso, exemplo de profissional dedicado.


Zk - O Grupo Waku'ma de Danças e o Prêmio Funarte?

Paulinho - Criei o Grupo de Danças logo após a formação da Banda. Inicialmente com a professora Berenice Beatriz, e posteriormente com Dina Simão. Como todo processo evolutivo, o Grupo participou de agendas importantes, e a pesquisa etnológica continuou com Lívian Luíza (la Quiña), que atualmente no âmbito do Grupo, desenvolve o trabalho de aprimoramento da dança, culminando em 2.006, com a participação do Prêmio Funarte "Klauss Vianna" de Dança, que contempla grupos que se dedicam à pesquisa e a dança regional, sendo o mais importante prêmio nacional no gênero, exigindo que as performances e gestual, reflitam verdadeiramente a linguagem de etnocentros, produtores de cultura. Vale registrar que o apoio da Petrobras foi de fundamental importância para o cumprimento da agenda de shows.


Zk - Falando em cultura e o projeto de políticas públicas no setor?

Paulinho - Juntamente com uma comissão executiva, e a participação de representantes de todos os seguimentos produtores de bens culturais no nosso Estado, elaboramos um estudo, que tem por objetivo, implantar políticas públicas de cultura em Rondônia. Assumimos a relatoria, tendo como vice relator Sílvio Santos (jornalista, folclorista, compositor, sambista multifacetado), e secretária Bebel. Este trabalho foi entregue ao governador Ivo cassol na noite de ontem, na Casa de Cultura Ivan Marrocos durante a Cantata de Natal. A partir daí sua Excelência poderá assinar o Protocolo de Intenções junto ao MinC o que virá viabilizar a realização de Projetos cultuais em Rondônia, vez que, a formatação deste estudo obedece critérios daquele Ministério. Um dos aspectos primordiais deste estudo, é o desmembramento da Secretaria de Cultura em duas; Uma de Cultura e outra de Esportes. Uma outra reivindicação, a mais urgente, é a construção do teatro estadual, para mim, a catedral de todas as artes.


Zk - Vamos falar sobre o DVD?

Paulinho - Dos "Tambores do Tracoá", com a pre-produção, produção e pós, com apoio da Secel, capturamos imagens que no processo de finalização geraram o DVD. Procuramos fazer um trabalho autêntico, sem usufruir dos avanços tecnológicos na área de áudio, com uma linguagem simples mas, sobretudo, preocupados com a nossa identidade cultural que mesclam valores migratórios, indígenas, ribeirinhos, folclóricos e fronteiriços.


Zk – Esse trabalho desde quando está no prelo para ser editado?

Paulinho – Desde os primórdios da Banda nos idos de 1990. Durante o espetáculo, não houve "stop" para retomadas ou regravações, daí a autenticidade do trabalho. Por sua vez a Banda Waku'mã, em total harmonia desenvolveu junto comigo um swing todo especial que resultou num vídeo de singela beleza.


Zk – Quantas horas dourou a gravação do DVD?

Paulinho – O planejamento, meses...a gravação em si uma hora e meia, o making off 32 horas, e, o processo de pós produção aproximadamente 150 horas, tudo com a nossa direção e a execução da G2, comandada pelo George.


Zk – Quantas câmeras foram utilizadas na gravação?

Paulinho – Cinco câmeras digitais sendo três fixas e duas móveis. Agora no processo de produção foram utilizados 53 pessoas entre técnicos de várias áreas.


Zk – Quanto as parcerias?

Paulinho – O governo de Rondônia através da Secel e da Casa de Cultura Ivan Marrocos garantiu o processo de gravação, a Waku'mã, Produções patrocinou os demais itens. Com respeito ao lançamento que acontecerá no Teatro Um do SESC Esplanada, o diretor Cláudio Ramalhaes Feitosa emprestou todo o apoio técnico. A logística fica por conta do Moto Clube Gaviões da Amazônia; outro apoio substancial veio com o Banco da Amazônia S/A que patrocinou a Comunicação Gráfica e as camisetas tanto para a Waku'mã, quanto para o Grupo Minhas Raízes do Distrito de Nazaré (Baixo Madeira), que estará se apresentando no saguão do Banco dia 22, e, na Ivan Marrocos dia 23 às 20 horas durante a Fenatal. O apoio também veio com a Emater que disponibilizará seu clube para hospedagem do Grupo Minhas Raízes.


Zk – O show vai ser com cobrança de ingresso?

Paulinho – Não. Os interessados deverão trocar na portaria do SESC Esplanada, o convite por Um Litro de Leite Longa Vida e Um Brinquedo a partir de 1,99. Os convites em número limitados, face a capacidade do teatro, estarão disponíveis entre 18 e 21 de dezembro. Brinquedo usado em bom estado de conservação serão bem vindos. Alimentos e brinquedos em parceria com o Programa Mesa Brasil do SESC, e as ações de inclusão social do Moto Clube Gaviões da Amazônia, serão destinados a famílias carentes previamente cadastradas e entrevistadas pelo Serviço Social do SESC.


Zk – Independente da pessoa trocar o ingresso por alimento ou brinquedo, o que é preciso para adquirir o DVD?

Paulinho – Compra-lo...ao preço módico de 15 Reais que cobre apenas o custo do printable, material de impressão do disco, capa e proteção.


Zk – Fora da portaria do SESC onde encontraremos o DVD?

Paulinho – Na Casa de Cultua Ivan Marrocos após o Natal.


Zk – Após o show de lançamento qual a agenda da Banda?

Paulinho – Férias merecidas e a partir de março/07, intercâmbios com instituições parceiras nos estados da Amazônia, e continuação da nossa sina de resgatar, amparar e divulgar as sagradas manifestações populares de Rondônia, sua bandeira inclusive.


Zk – Para encerrar?

Paulinho – Agradecer a toda a imprensa que vem me apoiando em mais de quarenta anos de luta em prol da cultura de Rondônia, mamãe Deolinda e o Moreira que impingiram na minha personalidade além da retidão e critérios de virtude, a competência, a sede de conhecimento, o respeito e a ética para com as pessoas. Aos Mestres Salesianos. Agradecer, também, aos músicos e técnicos que me assessoraram nesta caminhada, e que acreditaram no meu trabalho. Aos parceiros que igualmente incrementaram com seu apoio a produção de muitos espetáculos. Finalmente, aos amigos e público em geral, fãs da boa música, e das raízes deste lugar. A todos, indistintamente, desejo muita saúde, sonhos realizados, e, que a luz do Salvador e o sentimento da data magna da cristandade encha seus corações, transformando tudo num FELIZ NATAL ! ! !

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