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Gente de Opinião

Silvio Santos

HEITOR ANDRADE MACEDO - De guia de cego a Juiz de Direito


HEITOR ANDRADE MACEDO - De guia de cego a Juiz de Direito  - Gente de Opinião
Dr., Heitor começa a entrevista contando sobre o motivo que o levou a se casar com sua atual mulher dona Francisca. “Eu ia assumir a Comarca de Brasiléia (AC), isso uma semana antes e fui ao churrasco que o Juiz que estava saindo ofereceu. Aí olhei pra ela e disse pra mim mesmo, essa vai ser minha. Acontece que achei pela aparência, que ela era filha de árabe. Como sempre gostei de comer comida árabe fiz a aposta - Ela era escrivã - Quando assumi comecei a dar em cima dela sem saber quem era pai, quem era mãe, aquele negócio todo. Quando foi um dia, ela me convidou para almoçar em sua casa para conhecer seus pais. Quando cheguei lá, fiquei sabendo que o pai dela era peixeiro, que a comida era peixe e que ele não era árabe coisa nenhuma. Como eu já estava ‘ferrado’ mesmo, continuei e continuo comendo peixe até hoje”.

O Dr. Heitor hoje residente em Rio Branco (AC), veio a Porto Velho para participar do aniversário do seu irmão Rui Ramos que completou 80 anos de idade ontem 18, (Rui Ramos será o nosso entrevistado da próxima segunda feira). Na entrevista, Heitor lembra da sua infância em Porto Velho de quando ia apanhar tucumã no Campo do Mário Monteiro (hoje 5º BEC) e da Ponte Guapindáia na Prudente de Moraes a única passagem para o cemitério dos Inocentes a época. “Certa vez brincando a noite na ponte apareceu uma sombra enorme na minha frente e eu desmaiei. Daquele dia em diante passei a ter medo de defunto”. O menino que bateu tambor no batuque da Mãe Esperança Rita, e sentia orgulho em carregar na cabeça sem rodilha, uma panela com 20 litros de água da Bica de Santa Bárbara, chegou a Juiz de Direito ao se mudar para o estado do Acre aonde até hoje atua como advogado. Heitor Andrade Macêdo.


E N T R E V I S T A  


Zk – Aonde você nasceu?

Heitor – Nasci aqui abaixo de Porto Velho num local chamado Prosperidade. Na realidade, seringal Prosperidade que pertencia ao meu pai. Hoje estou com 69 anos. Meu pai era Fortunato Cândido Ramos e minha mãe Nair Andrade Macedo que está com 93 anos de idade.

Zk – Você viveu sua infância em Prosperidade?

Heitor
– Quando eu tinha 4 anos de idade viemos para Porto Velho com nossa mãe porque o pai tinha morrido.

Zk – Você estudou aonde? 

Heitor
– Estudei o primário e o ginásio em Porto Velho, conclui o segundo grau em Guajará Mirim onde morei 14 anos. De Guajará fui pra Rio Branco (AC) e assim que cheguei a Rio Braço, iniciei o curso de direito, depois de formado fiz concurso e passei para Promotor de Justiça. Não satisfeito com a profissão de Promotor me submeti a concurso para a Magistratura passei e fui ser Juiz de Direito lá em Brasiléia. Depois andei por outras cidades do estado do Acre como Sena Madureira, Cruzeiro do Sul onde demorei mais e depois fui para a capital Rio Branco aonde me aposentei já com 38 anos de serviços prestados à Justiça e fui trabalhar como Advogado.

Zk – Sua infância em Porto Velho como foi? HEITOR ANDRADE MACEDO - De guia de cego a Juiz de Direito  - Gente de Opinião

Heitor
– Minha infância em Porto Velho foi vivida em diversas ruas. Quando chegamos de Prosperidade fomos morar na rua Julio de Castilho, depois a mamãe foi morar lá na frente do cemitério dos Inocentes na hoje rua Almirante Barroso. Lembro que certa vez, fomos brincar a noite, na ponte Guapindáia que era na Prudente de Moraes e apareceu uma sombra muito grande se dirigindo pra mim e essa sobra tinha um chapéu, dei um grito muito alto e desmaiei. Oswaldo meu irmão, foi quem me levou pra casa. Eu pensei que aquela sombra era um fantasma, uma visagem que tinha saído do cemitério. Depois disso passei a ter medo de defunto.

Zk – A ponte do Guapindáia foi muito famosa?

Heitor
– Foi famosa porque era a única ligação da cidade para o cemitério dos Inocentes e para o areal. Quando falo em areal estou me referindo a mina de areia e não ao bairro. O bairro só veio muito depois, a passagem era para o cemitério e para o bairro do Mocambo.

Zk – E a rua Campos Sales não dava passagem para o Areal também?

Heitor
– Só depois de muitos anos foi que fizeram a ligação pela Campos Sales. Ali onde está o colégio Dom Bosco hoje a gente chamava de bombeamento, tinha o igarapé que era o igarapé dos “Padres” onde íamos tomar banho.

Zk – E o igarapé Grande?

Heitor
– Esse ficava na Prudente de Moraes e a mamãe saia de onde a gente morava em frente ao cemitério, lá da Almirante Barroso para lavar roupa no igarapé Grande. Enquanto ela ficava lavando roupa eu e meu irmão Oswaldo íamos apanhar tucumã onde hoje é o 5º BEC que a época era o Campo do Mário Monteiro. Como a gente era muito pobre a base da nossa alimentação era tucumã.

Zk – Tucumã com que?

Heitor
– Tucumã com café, tucumã com farinha d’água, essa era a nossa alimentação naquela época.

Zk – Você chegou a ser lavador de carro no igarapé Grande?

Heitor
– Não porque naquele tempo não tinha carro aqui em Porto Velho. Fui guia de cego, ajudante de pedreiro, ajudante de mecânico, inclusive servente de escritório. Quer dizer, trabalhei como ajudante de diversas profissões até servir o Exército onde fui cabo.

Zk – E depois?

Heitor
- Quando dei baixa do Exército fui trabalhar na construção da hoje BR-364. Conheço toda a história da construção da BR 364 de Porto Velho até Cuiabá. Trabalhei no consórcio formado por três firmas que foi a responsável pelas obras da rodovia até Vilhena. De Vilhena até Cuiabá a responsável foi a Camargo Correia. O escritório desse consórcio era ali onde hoje está a Assembléia Legislativa de Rondônia. Aquele prédio foi construído para ser um hospital.

Zk – Nesse consórcio você exercia qual função?

Heitor
– Eu era o comprador de mercadoria. Passou muito dinheiro pela minha mão. Na época a maior firma que fornecia mercadoria era Tuffy Matny. Naquela época, só para o Tuffy Matny cheguei a pagar mais de 30 Milhões de Cruzeiros por mês, fora as outras empresas que também forneciam mercadoria para o consórcio.

Zk – Como essa mercadoria chega às frentes de serviço?

Heitor
– A gente ensacava toda a mercadoria em sacos para sessenta quilos e nesses sacos colocávamos apenas 30 quilos, embarcávamos em aviões – um Douglas e uma Catalina, que sobrevoavam as frentes de serviço, jogávamos esses sacos. Geralmente os trabalhadores abriam uma clareira para que a mercadoria fosse jogada ali. Era arroz, feijão, charque, conserva, farinha, inclusive machado, facão etc.

Zk – Machado?

Heitor
– Naquela época as grandes árvores eram derrubadas na base do machado. Ainda não existia Moto Serra.

Zk – Voltando no tempo. Vocês também moraram no bairro Santa Bárbara. Vamos lembrara esse tempo?

Heitor
– Realmente a gente morou na Joaquim Nabuco com a rua Riachuelo (hoje Paulo Leal) e mais adiante ficava o Batuque de Santa Bárbara da Mãe Esperança Rita. Para ganhar alguns trocadinhos, de vez em quando eu batia tambor, atuava como Ogan de Toque pra velharada “baiá”.

Zk – E a Bica?

Heitor
– Do Batuque de Santa Bárbara para a Bica não dava mais que uns 300 metros. Era da água da Bica que a gente bebia. A água era muito pura. Lembro que carregava água numa panela de 20 litros e para me exibir, botava a panela na cabeça e vinha com ela solta pelo meio da rua só para as pessoas ficarem admirando: “olha aquele garota carrega aquela panela de água na cabeça sem rodilha e sem segurar”. Eu ficava todo pávulo. O interessante foi que quando a mamãe foi trabalhar no governo do Território Federal do Guaporé no hospital São José, nós, eu e meus irmão Oswaldo e Arlete éramos obrigados a lavar roupa e arrumar a casa. A mamãe fazia um rodízio, uma semana um ia pro igarapé lavar roupa, enquanto os demais faziam à comida e cuidavam da casa. A Arlete como não gostava de fazer comida sempre trocava com o Oswaldo. Eu gostava de ir para a bica porque lá tinha muita mulher lavando roupa. Eu nos meus nove dez anos de idade, ia pra lá, só para ficar olhando as mulheres tomar banho. Sempre elas tomavam banho nuas. eu me deleitava com aquele visual, apesar de ainda não poder fazer nada.. A mulher só é perfeita quando está totalmente nua.

Zk – agora vamos falar da sua fase em Guajará Mirim. É verdade que você criou um clube de futebol lá?

Heitor
- Fui para Guajará Mirim em 1962 e então comecei a jogar futebol no América, mas, como algumas vezes eu ficava na reserva, resolvi, juntamente com outras pessoas, fundar no dia 4 de dezembro de 1964 a Sociedade Esportiva Pérola do Mamoré. Esse clube se tornou um clube respeitado em Guajará Mirim, chegou a disputar o campeonato estadual.

Zk – Por falar em futebol de Guajará Mirim você também foi presidente da Liga?

Heitor
– É! Fui presidente da Liga. Inclusive tem um fato interessante que é importante contar:

Zk – Valos lá?

Heitor
– Foi a primeira vez no Brasil que um clube de futebol jogou numa segunda feira, naquela época não existia jogo quarta feira era só sábado e domingo. Então o Fast Clube de Manaus veio jogar em Porto Velho e telefonaram para Guajará se oferecendo para jogar lá. Eu como presidente da Liga disse que só aceitava se eles fossem jogar no domingo. Acontece que eles alegaram que não podiam jogar domingo porque o Conselho Nacional de Desportos proibia que acontecessem dois jogos do mesmo time com menos de 48 horas de intervalo. Sendo assim topei realizar o jogo segunda feira.

Zk – Deu certo?

Heitor
– Na época eu era vice diretor no colégio Paulo Saldanha e tinha um jogador do Pérola que era chefe da rede elétrica, então combinamos. Ele dava um jeito de fazer faltar luz no colégio Valdir Leal que eu dava o jeito de suspender as aulas no Paulo Saldanha. O combinado deu certo. Acontece que mesmo assim não consegui o dinheiro suficiente para pagar o contrato com o Fast. No outro dia de manhã a Aliete Mata Mory que trabalhou muito tempo aqui no Tribunal de Justiça e na época era diretora do colégio Paulo Saldanha, foi me questionar: “Com qual autorização você suspendeu a aula de ontem?”. Com a minha autoridade de vice diretor do colégio. E ela disse: “Sei que quarta feira você vai fazer o segundo jogo. Vou vir pra cá, quero ver você suspender as aulas!” respondi: quarta feira não vai ter aula é em canto nenhum, porque vou falar com a secretária de educação dona Marize Castiel pra ela suspender as aulas.

Zk – Resultado?

Heitor
– Saí de lá fui bater na prefeitura falar com o seu Paulo Saldanha que era o prefeito. Solicitei que ele mandasse um rádio pra dona Marize solicitando a suspensão das aulas na quarta feira. Ele pediu que eu mesmo redigisse o documento e mandou para Porto Velho. Na quarta feira, deu cinco horas da tarde e nada da resposta chegar, e eu apavorado. Cinco e meia da tarde chegou a autorização suspendendo as aulas em todos os colégios. Realizamos o jogo e apuramos 12 Mil Cruzeiros com 3 Mil que havíamos apurado na primeira partida somamos 15 Mil. O cachê do Fast era 10 Mil, quer dizer, tivemos um lucro de 5 Mil Cruzeiros.

Zk – Você também foi juiz de futebol?

Heitor
– Fui juiz de futebol, fui dirigente de futebol, fui técnico de futebol, fui gandula, fui roupeiro fui tudo.

Zk – Como juiz de futebol qual foi a sua grande atuação?

Heitor
– Apitei em Porto Velho o Jogo Ypiranga X Marechal Rondon de Guajará. Aliás, o Marechal foi o único time de futebol, do interior dos estados envolvidos, que participou da disputa do grande tornei “Copão da Amazônia”, graças a esse amigo aqui, que batalhou junto a direção da Federação de Futebol que tinha como presidente o jornalista Vinicius Danin para que incluísse um time de Guajará Mirim na disputa e esse time foi o Marechal que ganhou do Ypiranga.

Zk – E o Dr. Heitor Juiz de Direito. Qual foi a grande causa presidida?

Heitor
- Olha, presidi muitos bons julgamentos. A grande lembrança é do julgamento de quatro médicos e uma enfermeira que foram acusados de negligencia médica. Acontece que uma bioquímica morreu na mesa de operação. Na realidade ela já chegou no hospital morta. Ela gostava muito de beber e nesse dia havia bebido além da conta e se envolveu num acidente automobilístico e chegou ao hospital em coma alcoólica e em conseqüência, nenhuma anestesia podia pegar. Resultado, ela morreu e acusaram os quatro médios mais a enfermeira chefe de negligencia. Eu fui ser o presidente desse processo porque alguns colegas não quiseram assumir e o tribunal me nomeou.

Zk – Resultado?

Heitor
– Lembro que o atual senador Tião Viana era testemunha de acusação contra seu próprios colegas. Quando ele chegou pra depor eu o chamei em particular e o alertei: Olha o senhor está com pretensões políticas. Tome cuidado naquilo que o senhor vai dizer contra seus colegas, até porque não existe uma prova concreta contra eles. O que você disser, pode ou não ser favorável para o seu futuro político. Na hora que ele foi depor agiu moderadamente e todos foram absolvidos. Nesse mesmo processo aconteceu outra coisa interessante.

Zk – Qual foi essa história?

Heitor
– Um dos acusados que atuou como médico muitos anos em Feijó, chegou muito nervoso, tremendo mais que vara verde em temporal, chamei uma funcionária, pedia pra ela servir um copo com água pra ele, fui procurar saber como era Feijó e ele passou uns quinze minutos falando sobre Feijó. Então indaguei: O senhor está em condições de depor? Ele respondeu: Olhe doutor, vou lhe dizer uma coisa, se quando eu cheguei aqui o senhor tivesse começado esse interrogatório, acredito que teria morrido, porque estava num estado de choque tão grande que talvez não tivesse resistido, porque nunca fui acusado de nada e agora fui acusado de negligência médica porque atendi uma pessoa que já chegou morta. O patrono dele me agradeceu e tudo terminou na paz.

Zk – Para encerrar. Quantos filhos

Zk
– Que eu sei são 12 filhos. Tem um outro que a mãe foi embora pra Belém. Tive dois casamentos apenas. Oito filhos com a primeira mulher um filho com a atual Francisca Santiago Barbosa Macedo e os demais foi pulando cerca.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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