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Silvio Santos

BRENNER PAIXÃO: De Guajará para o Maracatu cearense


BRENNER PAIXÃO: De Guajará para o Maracatu cearense - Gente de Opinião
 

Muitos são os rondonienses que se destacam por esse Brasil a fora, entre eles, encontramos o guajaramirense Brenner Paixão, que aos 14 anos de idade deixou a Pérola do Mamoré em busca de melhores condições educacionais no Nordeste. “As famílias de Guajará tinham por tradição mandarem seus filhos fazer faculdade em outros estados”. O destino primeiro foi o estado Nordestino de Rio Grande do Norte exatamente a capital Natal, depois foi estudar Agronomia em Mossoró. “Como minha origem é cearense, resolvi conhecer meus parentes na terra de José de Alencar e por lá fiquei”. Foi justamente em Fortaleza que Brenner descobriu sua paixão pelo Maracatu um folguedo popular que acontece principalmente em tempo de carnaval. “Fui aprender com os grandes Mestres do Maracatu a batucada e como se compõe a LOA”. Loa está para o Maracatu assim como o samba enredo está para a escola de samba. 

Brenner Paixão está em turnê pelo Acre e Rondônia onde participa até o dia 5 de maio pesquisando a música indígena e negra destes estados, participando junto a comunidades locais do programa da capacitação em projetos culturais do Ministério da Cultura e apresenta o espetáculo “MPB – Manguegarapé Popular Brasileiro”, em monólogo e violão nas cidades e Rio Branco (AC), Porto Velho e Guajará-Mirim. Em Guajará a apresentação será com a Banda Delírios que formada por seus parentes. Em maio Brenner entra em estúdio para participar da gravação do 2º Disco da Banda Vigna Vulgaris.

Semana passada, fomos apresentado ao Brenner pela Gerente de Cultural da Secel advogada Bebel, depois de alguns minutos de conversa nos interessamos pelo projeto desse Rondoniense filho de Guajará-Mirim e o convidamos para uma visita a redação do Diário da Amazônia, onde gravamos a entrevista que segue:
 

 
ENTREVISTA
 
 
Zk – Quer nos passar breve história da sua vida?
Brenner – Nasci em Guajará-Mirim, sou Brenner Paixão cantor, compositor, percussionista, ator e produtor cultural. Nasci no ano de 1976, mês de outubro libriano. Dizem que os librianos costumam ser culto. Vivi a infância e estudei até a oitava série em Guajará-Mirim. Morava no bairro Industrial na rua Manoel Murtinho 914.
 
Zk – Seus Pais?
Brenner - Minha mãe é Guilhermina Marques Paixão professora de português aposentada e o meu pai Antônio Paixão mais conhecido como Paixão do Balneário Ecológico onde a gente come um peixinho e toma banho de igarapé.
 
Zk – Você falou que estudou em Guajará apenas até a oitava série. E daí?
Brenner - Em 1991 fui pra Natal no Rio Grande do Norte. Em Guajará tem uma tradição das famílias mandarem os filhos fazer uma faculdade fora, em outros estados, principalmente no Nordeste e no Sudeste. Fui pra Natal em 1991 fazer o 2º Graus, fiquei lá até 1993 quando fiz o vestibular para Agronomia na Escola Superior de Agricultura de Mossoró, uma escola bem tradicional em se falando de agronomia. Morei em Mossoró em 94, 95 e 96. Meu avô Bruno Marques de Oliveira era cearense.
 
Zk – Por que de repente você citou o seu avô?
Brenner - Porque é preciso esclarecer a minha ligação com o Nordeste. Meu avô veio para a Amazônia como Soldado da Borracha em 1937 e se erradicou em Rondônia, mais especificamente em Guajará-Mirim onde formou família.
 
Zk – Até 1996 você estudou em Mossoró e depois foi pra onde?
Brenner – Fui conhecer meus familiares lá de Fortaleza. Fui à busca da minha identidade familiar, cultura e me identifiquei muito com a cidade por isso resolvi mudar, transferi meu curso para a Universidade Federal do Ceará.
 
Zk – Quer dizer que você se formou em agronomia em Fortaleza?
Brenner – Não cheguei a me formar, parei no 8º período, mas, desde pequeno,  tenho envolvimento com a arte por conta da minha mãe que sempre me estimulava a participar de atividades culturais.
 
Zk – Quer dizer então que você desistiu da agronomia para se dedicar a arte?
Brenner – Não foi bem uma desistência! Na época da agronomia sempre estava envolvido com atividades de arte. Fiz um curso técnico em música, extensão na própria Federal do Ceará, participava também de grupos de teatro, me envolvendo com os dramaturgos, atores da cidade. Fundamos Banda “Vigna Vulgaris” dentro da Universidade Federal do Ceará.
 
Zk – O que quer dizer Vigna Vulgaris?
Brenner - A origem do nome “Vigna Vulgaris” vem de duas espécies cientificas do feijão, “vigna unguiculata” é o nome cientifico do feijão de corda, “fhazeulos vulgaris” é o nome cientifico do feijão mulatinho. Então é um hibrido, uma espécie e um gênero já simbolizando a própria cultura brasileira, nós somos multiculturais.
 
Zk – Musicalmente falando, qual o gênero da Banda? É o Maracatu, o Rock, Pop, enfim?
Brenner – Muita gente participou e diz é do Movimento Mangue Beat que foi o grande movimento da década de noventa em Pernambuco. Aí você vai pro Ceará e já ta mais pro pessoal do Ceará que foi outro movimento musical específico, agora já estamos em São Paulo e então a gente escuta o seguinte: “Pô, vocês tem muita influência da Tropicália, Gilberto Gil, Caetano”. Acredito que a gente tem influência de todos esses movimentos artísticos musicais e até da própria MPB. As letras, as composições pegam uma temática voltada para a MPB, ecologia, meio ambiente, as questões sociais.
 
Zk – Hoje a banda está radicada em São Paulo e a formação, continua a mesma do inicio no Ceará?
Brenner – Atualmente do Ceará só tem o Cauã que é meu filho. A Michele Tajra que é de Teresina (PI) minha esposa, que faz parte do grupo o Zé da Lua é de São Paulo, mas, é um paulista que foi para o Nordeste, percussionista, zabumbeiro, pesquisou toda questão do forró pé de serra, tradição de Luiz Gonzaga. A formação baixo, bateria e guitarra é com músicos de São Paulo. Os cearenses ficaram no Ceará por opção.
 
Zk – Você é muito ligado ao Maracatu. Fala sobre o Maracatu no Ceará?
Brenner – O Maracatu no Ceará é um folguedo popular muito forte presente na cultura do povo. O principal momento do Maracatu é no carnaval quando acontece a disputa pelo prêmio de melhor Maracatu, uma promoção da prefeitura, apesar da prefeitura também apoiar com recursos financeiros que são investidos na confecção das roupas, batuque, como acontece com as escolas de samba.
 
Zk – Quais são os elementos do Maracatu?
Brenner – Os elementos típicos do Maracatu são: o Balaieiro, a Corte-Rainha, o Batuque, Porta Estandarte a Nêga Kalunga (Ala das Negras) que é uma negra que vem com a boneca Kalunga simbolizando a fertilidade, a prosperidade daquela comunidade, a riqueza do povo negro. Durante o ano todo os Maracatus de Fortaleza participam de vários festivais, alguns viajam pra outros estados e também para a Europa.
 
Zk – Como ocorre o apoio do governo estadual e municipal a esses grupos, fora do carnaval?
Brenner - O apoio vem através dos eventos de cultura popular como os festivais de música e os encontros de Mestres. Tipo assim, quando o grupo é convidado para se representar o Estado, recebe um cachê, mas, não tem o apoio permanente. Apoio mesmo só durante o carnaval e mesmo assim, geralmente o dinheiro só saia na semana dos desfiles o que fica complicado para comprar os adereços, fazer a Loa que é a música do Maracatu etc.    
  
Zk – Num grupo de Maracatu você faz o que?
Brenner – Lá em Fortaleza entrei pelo Batuque do Maracatu Az de Ouro fundado em 1936, é o mais antigo hoje em atividade, fui diretor de Batuque. Depois fundamos o Maracatu “Nação Fortaleza” com o Calé Alencar em 2004 e depois fundamos outro Maracatu com o nome de “Nação Solar” do grande cantor e compositor Pingo de Fortaleza. Esses dois são grandes mestres da cultura popular.
 
Zk – E o Vigna Vulgaris?
Brenner – Nosso grupo contou com grande apoio dessas duas pessoas que trabalham com a cultura no estado, fomentando um projeto pra gente gravar nosso primeiro disco, fazendo produção de show etc. O Vigna trabalha uma pesquisa com a cultura tradicional, mas, não deixando de lado a influencia da música e da arte contemporânea. A gente tenta misturar o tradicional com o contemporâneo. Acredito que é importante a tradição. Se não fosse a tradição não teríamos hoje grandes trabalhos que envolvem a música contemporânea. Quando fala contemporânea estou me referindo ao Rock, Blues, Jazz e a própria MPB que vai evoluindo durante o tempo.
 
Zk - Você entrou no mundo da composição por qual seguimento musical?
Brenner – A primeira brincadeira, essa coisa de compor, começou justamente com o Maracatu, aprendendo com os Mestres como é que faz. Aprendendo o caminho das pedras.
 
Zk – Na escola de samba a gente tem o samba enredo. No Maracatu qual é o estilo?
Brenner – Todo ano tem o tema. A música é chamada de LOA. É assim, o Maracatu Nação Solar já fez a LOA dele para o próximo carnaval. O Nação Solar faz um concurso para escolher a LOA que será cantada no carnaval. Outros Maracatus têm os seus Mestres que compõem a LOA. No Nação Fortaleza quem compõe é o Calé Alencar. Já o Maracatu “O-Ba-O-Bá” depende da relação do presidente do grupo com os compositores, um ano é um compositor, no outro é uma compositora, eles tem a ala de compositores de Maracatu como existe a ala de compositores nas escolas de samba.
 
Zk – Essa sua vinda a Rondônia foi apenas para rever parentes ou tem outro objetivo?
Brenner – Primeiro estou rebuscando conhecer mais o meu estado. Como sai muito jovem daqui, conheço muito pouco da cultura do meu estado e também o que está sendo produzido atualmente. Sei alguma coisa via Internet, mas, você conhece realmente a cultura quando vem e conhece as pessoas, os grupos, artistas, aí você vai tendo noção do que o estado tem a oferecer. Essa é uma das minhas metas durante minha passagem por aqui. Mesmo a gente estando longe, no Nordeste e agora em São Paulo a gente nunca deixa nossas raízes. Nas minhas composições, aqui acolá, falo de alguma coisa da nossa cultura rondoniense, desde a gastronomia às questões de etnia, geográficas. Tenho até uma composição  que está no último disco que chama “Açaizeiro Popular”. Nos shows faço essa frase, que é o encontro do Nordeste com o Norte. Na realidade,  é uma auto biografia. Me considero um açaí que vai para o mar e lá no Nordeste e conhece o coqueiro, mas sempre relacionado com a minha cultura que é o açaí.
 
Zk – Fala alguns versos dessa música pra gente?
Brenner – Um dia as palhas do coqueiro, vieram anunciar que as nuvens trazem a chuva, para a arte respirar. Na prosopopéia da vida, o tempo cria as ondas do mar. (Refrão) Açaizeiro popular, na proa de beira mar.
 
Zk – Sua primeira investida como cantor foi na Vigna Vulgaris?
Brenner - Tudo começou a Universidade Federal do Ceará aonde comecei no Coral, depois fui pro Coral do IBAMA, comecei a vivenciar a arte e então criamos o grupo.
 
Zk - Quando você saiu de Guajará-Mirim em 1991 já existia o movimento de Boi-Bumbá?
Brenner – Lembro que na infância, quando chegava à época Junina o pessoal da escola convidava dona Georgina pra fazer uma pequena apresentação do seu Boi. Lembro que era uma coisa bem humilde, hoje está com uma dimensão muito maior graças a Deus. Graças à força do povo de Guajará.
 
Zk – Você chegou a conhecer a dona Gregório dona do primeiro boi de Guajará?
Brenner – Conheci sim. A gente chegava até a participar porque o Boi a cultura popular, tem uma relação com o público e o grupo artístico muito próxima. No Nordeste também tem muito isso. O Reisado no Ceará tem muito essa dinâmica do Boi. Ta no meu imaginário os Bois de Guajará. Minha mãe também me estimulava muito a participar das coisas artísticas. Lembro que tinha as gincanas e a gente ia tocar imitar algum artista famoso.
 
Zk – Você fazia imitação de quem?
Brenner – Naquela época o pessoal dizia que eu parecia muito com o Jairzinho filho do cantor Jair Rodrigues e sempre me colocavam para imitá-lo, o Michel Jackson também.
 
Zk – Qual seria a possibilidade da Vigna Vulgaris vir se apresentar em Rondônia, especificamente em Porto Velho e Guajará-Mirim?
Brenner - Além da Banda a gente poder vir aqui passar um pouco através de palestras e oficinas o que a gente aprendeu com os Mestres. As possibilidades são todas. Fui muito bem recebido pelos dirigentes dos órgãos culturais tanto do estado como municipal. Tenho observado que existe uma evolução muito grande referente a outros estados, quer dizer Rondônia está na frente de muitos estados por onde já andei. Tem muita coisa a melhorar, mas, estão no caminho muito bom. Lá em Rio Branco (AC) conheci a produtora da banda Soda Acústica que é daqui de Porto Velho e ganharam o projeto Pixinguinha e o Itaú Cultural Música, uma boa representatividade e com uma música contemporânea da melhor qualidade.
 
Zk – Além de rever parentes e amigos.         Qual o objetivo da viagem a Guajará-Mirim?
Brenner - Meu grande sonho, acho que vou realizar agora, que é conhecer minha família. A Banda Delírios são os meus parentes que tocam o Davino o meu tio Jorge Paixão que foi uma das pessoas que incentivou os filhos a criar a banda. Vou me reunir com todos e como estou trabalhando com os projetos direcionados para Rondônia a gente está com a meta de criar uma associação, uma ONG pra futuramente fazer projeto especifico para Guajará, não preso apenas a questão do Boi.
 
Zk – Para contratar a banda Vigna Vulgaris ou apenas você. Entra em contato através de que?
Brenner – Tem pelo e-mail que é [email protected] ou hotmail. Tem meu telefone (11) 9864-5708 e tem nossa página na Internet que www.vignavulgaris.net
 
Zk – Você é casado com quem e desde quando?
Brenner – Casei em 2006 com a piauiense Michele Tajra, a família dela também tem um envolvimento com a cultura, o pai é sociólogo, a mãe é filosofa e ela também é artista cantora, socióloga graduada em arte/educação, compositora minha parceira. Tem nosso filho Cauã de três anos que nasceu em Fortaleza. Agora estamos morando em São Paulo onde trabalho na escola de música e gravadora Dasik Music. Também divulgando um pouco da cultura rondoniense.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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