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Silvio Persivo

Luiz Gonzaga e Anastácia, o rei e a rainha



Silvio Persivo

Por uma dessas felizes coincidências estava lendo o livro “Eu sou Anastácia-histórias de uma rainha”, da historiadora Lêda Dias, com a própria Anastácia (Lucinete Ferreira), editado pela FacForm do Recife, na mesma semana em que a TV Globo veiculou “Gonzaga- De pai para filho”, sobre a trajetória de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, seu filho. É muito prazeiroso, como nordestino, estar assistindo, mesmo que por um tempo breve, homenagens que são feitas a verdadeiros ícones nordestinos (e brasileiríssimos, por sinal) como são Luiz Gonzaga e Anastácia. Um dos pontos fortes, por exemplo, do livro de Anastácia é, justamente, o fato por seu depoimento amplamente demonstrado, que jamais cultivou, como é usual hoje, o marketing, a busca de se tornar um ídolo, uma estrela. Caminho diferente não trilhou Luiz Gonzaga, que sempre foi o que foi, um operário musical com enorme talento. Luiz se tornou uma lenda muito mais pelo trabalho contínuo, por sua forma de ser e de se comportar, como um sanfoneiro, um artista de sua terra do que qualquer outra coisa. Anastácia, que não teve tanta fama, é sua face feminina. Ele foi uma “Anastácia de calças”; ela, um “Luiz Gonzaga de saias”. Ambos, artistas insuperáveis que percorreram o Brasil, ainda no tempo dos circos, levando beleza e alegria aos rincões mais longínquos de nosso país.

Se, no filme, o destaque está para a vida, nem sempre em linha reta, de Gonzaga e a tumultuada relação familiar, em especial com o filho, o que se destaca no livro de Anastácia é sua coragem, sua ousadia, sua alegria de viver, que se esparrama mesmo nas piores situações. Em ambos as criações tomamos contato com a figura real de Luiz Gonzaga, uma pessoa generosa, mas, ao mesmo tempo, casmurra, com certos padrões nordestinos antigos entranhados que, hoje, seriam considerados “preconceitos”, porém, que revelam os padrões éticos e o caráter de uma certa época, mesmo que com suas contradições, na medida em que não somos perfeitos. Mas, é a humanidade dos personagens, suas qualidades e defeitos que o tornam ainda mais louváveis. Ser artista jamais foi fácil e, ser capaz de ter destaque no meio, exige certos sacrifícios que só compreende quem os enfrenta, embora, hoje, o sucesso, seja, aparentemente, uma coisa mais fácil de ser conquistada.

Todavia, o que se destaca nas figuras de Luiz Gonzaga e de Anastácia não é, simplesmente, o sucesso. É o fato de que se tornaram símbolos, exemplos de trabalho, de determinação, de permanência, de qualidade. São padrões que, de uma forma ou de outra, estão presentes no imaginário popular por sua importância e representatividade. Muitos outros existem que trilharam os mesmos caminhos. Impossível, por exemplo, não lembrar de Marinês, de Jackson do Pandeiro, de João do Vale, de Waldick Soriano, de Genival Lacerda, do Trio Nordestino e do próprio parceiro maior de Anastácia, Dominguinhos. São nomes de pessoas, entre muitas outras, que, no Brasil do passado, enchiam os circos de plateia, levavam multidões aos auditórios de rádios e televisões, encantavam cantando nas ruas, se necessário. São artistas que, em Luiz Gonzaga e Anastácia, tiveram representantes máximos do forró, do baião, do maxixe, de canções de amor e de sofrimento que marcaram e marcam a alma nordestina.  Luiz e Anastácia, são, de formas diferentes, os expoentes máximos de uma época, embora ele o seja pelo todo de sua obra e ela, pela sua capacidade de transformar em canções a vida de seu povo. 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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