Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Silvio Persivo

A Perversidade Tributária


 
O governo enviou para o Congresso e se encontra em discussão uma reforma tributária. Aparentemente, mas só aparentemente, o governo faz o que seria de se esperar dele. Afinal a reforma tributária é um assunto urgente e inadiável que embarga o crescimento do país. Na verdade, no entanto, o governo, que tem no marketing seu forte, tenta fazer, mais uma vez, a mágica que, até agora, deu certo: mexer muito pouco sem perder nada e, se possível, aumentando seu controle. É o que tenta via seu projeto de reforma tributária. Afinal simplifica o cipoal de impostos em troca de, praticamente, acabar com o federalismo e a guerra fiscal por meio da arrecadação do ICMS transformado em imposto agregado. É um contorno sobre o problema real.

O problema real se observa quando são divulgados dados sobre o crescimento econômico e a relação impostos/Produto Interno Bruto-PIB que mostram, com clareza, que é cada vez maior a transferência de dinheiro dos setores produtivos para os cofres públicos (o aumento constante das arrecadações, aliás, é um sintoma mensal de tal realidade). O IBGE, na comparação do 1º trimestre deste ano com o do ano passado, evidencia que a economia cresceu somente 0,8% abaixo do esperado (1,1%) o que, se mantido este patamar, redundaria num aumento, em 2008, do PIB de apenas 3,2%. Por outro lado, no mesmo período, a arrecadação tributária alcançou RS 222,39 bilhões, ou 37,30% do PIB, 1,03% acima do registrado no primeiro trimestre de 2006. Sem a inflação medida pelo IPCA, a carga elevou-se em 10,2%, ou RS 19,96 bilhões (em valores reais). A arrecadação per capita nos primeiros três meses do ano foi de RS 1.190,73. O governo abocanhou RS 28.599,92 por segundo e RS 2,471 bilhões por dia.

Os dados são de um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário-IBPT sobre a relação impostos/PIB que deixa cristalino que é cada vez maior a transferência de dinheiro dos setores produtivos para os cofres públicos. Números são números. Não dá para engabelar: estão retirando cada vez mais de uma economia que cresce menos do que poderia se respeitados seus limites e capacidade de contribuição. A questão se torna insensata diante da busca de criar um novo imposto para a saúde e do fato de que o Estado não se mostra responsável, continua gastando mais do que arrecada e de maneira perdulária. Vide a falta de recursos para investimentos em infra-estrutura e no social. Assim estamos no pior dos mundos possíveis: com um setor público que arrecada demais, gasta mal e não aloca os recursos em projetos necessários à geração de renda e emprego. Assim a  carga crescente de impostos, vai reduzindo a capacidade de investimento da iniciativa privada. E as medidas que se tomam são somente as indicadoras da voracidade do fisco como a invenção de nome único para o mesmo conjunto de impostos, sem redução na carga, e com medidas como a Nota Fiscal Eletrônica e, agora, como não há formas de garantir a queda da sonegação e fraudes,  inicia uma operação de caça em grande escala com a finalidade de arrecadar mais. É uma fome insaciável que ameaça arruinar a vida de pessoas físicas e jurídicas e, de quebra, aumentar o custo das empresas. O problema é que não se conseguem mais ovos matando a galinha.

Fonte: Sílvio Persivo

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Split Payment: o Grande Desafio para os Negócios em 2026

Split Payment: o Grande Desafio para os Negócios em 2026

A partir do próximo ano, o Brasil, por força da reforma tributária, irá começar a implantar o split payment, um mecanismo que modifica a forma como

Esperando para ver o que fazer

Esperando para ver o que fazer

É inevitável que, quando chega o fim do ano, as pessoas e as empresas recaíam no ciclo de sempre: analisar o que se passou, verificar os erros e os

Baixa taxa de desemprego: pleno emprego ou ilusão

Baixa taxa de desemprego: pleno emprego ou ilusão

A taxa de desemprego no Brasil manteve-se em 5,6% no trimestre encerrado em agosto de 2025, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí

Eu, um desconhecido em Porto Velho

Eu, um desconhecido em Porto Velho

Existe uma sensação peculiar que se instala com o passar dos anos e a vertiginosa mudança do mundo ao nosso redor: a de se tornar um estranho na ter

Gente de Opinião Domingo, 7 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)