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Gente de Opinião

Serpa do Amaral

O Ponto do Velho pergunta: os traidores se escolhem ou são escolhidos?


Mal o ano novo se avolumou no horizonte e as flâmulas partidárias já se preparam para mais uma eleição do morubixaba da Tribo do Madeira. Sem demora, três frontes lideradas por líderes locais saem na dianteira da corrida: o Mentiroso, o Cínico e o Pândego. Eles, ávidos pelo assento real, disparam com vigor seus discursos para a conquista do apoio popular.

Nosso Pinóquio não poupou a verve para proclamar os seus projetos em caso de vitória no pleito. “Prometo construir um viaduto que acabará com o engarrafamento. Isso em menos de um mês. Seguiremos o padrão Japonês: obra de qualidade, com baixo custo e concluída em tempo ínfimo. Farei com que todos os recursos disponibilizados pelas Usinas sejam gastos na revitalização de toda a cidade. Não pouparei esforços fazer com que os usuários de serviço público sejam tratados com respeito. A cobrança de propina para as empresas contratadas pela municipalidade será abolida. Os conhecidos e odiosos 40% e 30% não serão mais cobrados dos fornecedores. Faremos um mutirão para acabar com o apadrinhamento no serviço público. Nada de nepotismo. E mais: vamos construir creches para as pessoas de baixa renda. Faremos com que o IPTU e a taxa de coleta de resíduos sólidos, líquidos e gasosos tenham valores módicos. Implantaremos um sistema de transporte coletivo de Primeiro Mundo. Isso tudo sem aumentar a tarifa...”. O Povo aplaudiu em regozijo as grandes promessas do Herói da Verdade. Percebeu-se, nesse primeiro ato, que a disputa seria histórica.

O Cínico não deixou por menos. Foi conciso e expôs com eloqüência a sua plataforma de governo. “Não mentirei para vocês. A verdade é o nosso carro-chefe. Tenho que a falácia não é comportamento adequado de um ‘político de boa cepa’. Por isso, vou ser direto e dizer que eu vou pagar a bagatela de R$ 100,00 por cada voto. Quero apenas que assinem um termo de compromisso e me dêem cópia do título eleitoral. Quando eleito, vou construir o viaduto mais caro do mundo e saibam que ele vai demorar muitos aditivos e a contratação de muitas empresas para a sua finalização. E, depois de terminado, vamos realizar uma monumental reforma, mais cara que a obra principal. Todo o recurso da compensação sócio-econômica pela construção das Usinas será utilizado para fomentação do meu bem-estar e da minha família. Nós riremos muitos da nossa bonança (eu, eu e os meus eus!). Aliás, aviso aos fornecedores que a cobrança de propina vai acabar, já que todos os serviços serão realizados pelas minhas empresas. E mais: somente os meus correligionários exercerão os cargos públicos.”. De modo abrupto, a fala foi interrompida. Um senhor com um vultoso saco de dinheiro e uma máquina de xérox solicitou para a multidão fazer fila. E o Povo correu para assinar o pacto maldito e receber a epinephelus marginatus (garoupa). Enquanto isso, o placar eletrônico acenou um vertiginoso aumento de popularidade do Cynicu.

De repente, fogos de artifícios retumbam e o Pândego e seu séquito fazem do palanque um desfile de bloco carnavalesco. Não tardou a mostrar os seus projetos. “Povo, meu Povo querido. Por que se preocupar com viaduto ou outras questões sociais. O Céu e a Terá passará e o Viaduto não terminará. Acordem. Carpe diem. Vivam o momento e curtam a efêmera vida. Vamos dançar, beber, dançar, beber... Existir é bom demais para não festejarmos todos os dias. Por isso, meu primeiro ato será criar a Secretaria da Festança que terá a alegre missão de gerir o Primeiro Carnaval Permanente do Brasil. Vamos distribuir quites abadás e vinho, cerveja, cachaça, uísque e tudo que embriagar. Vamos direcionar todos os recursos oriundos das usinas para que a nossa festa comece e nunca acabe. Vamos usar o orçamento para deixar toda a cidade embriagada pelo néctar dos deuses. Aliás, vamos criar um dia para o deus Baco. Acredito que com essas medidas vocês serão muito felizes e, sem dúvida, não se preocuparão mais com os problemas que se multiplicam nesta cidade. Chega de chorar pelas ruas esburacadas ou com o trânsito infernal. Agora tudo é carnaval. Quanto ao transporte coletivo, vou transformar todos os ônibus em carros alegóricos. Com direito a DJ e tudo mais. E olhem só, meu Povo querido: no nosso governo, não haverá a constante propina, mas as vibrantes Heroínas e os dançantes Sátiros.”. O Povo se entorpeceu com a Flor de Lótus oferecida e, em seguida, repousou em sono profundo. A eleição seguia para um fim trágico.

Longe da multidão, uma criança, na vã esperança, olhou os efusivos traidores do seu solo materno e, com tristeza na pena, lançou uma profecia: “A cidade vê a feiúra em risos e os filhos em pranto.” E a alegre canalha a soltar fogos e a contar o dinheiro sujo. Contudo, cada pedra de desrespeito será guardada no inventário da memória universal. Para que, quando o último voto for lido pela Toga, (Aquele que não ama Porto Velho) seja recluso na lousa fria da derrota eleitoral.

Lânguido, o último fio se desfez e tudo, novamente, se fez como antes. Enganada, corrompida e embriagada, a História da Terra Karipuna sempre escolheu o mesmo monstro tricéfalo para cacique. Por quê? E até quando?

Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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