Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Serpa do Amaral

O dia em que Rio Madeira jorrou toda a sua indignação


Em dia insólito para a História deste Estado, o Rio Madeira resolveu violar o seu silêncio secular e jorrar toda a sua indignação. Não era mais possível calar-se diante da eterna manifestação de desamor e desprezo a que este rincão da Amazônia é submetido por seus gestores. O Rio das Usinas, primeiro morador destas plagas, não podia mais se conter diante de tanta dilapidação e desrespeito ao patrimônio moral e material dos habitantes karipunas. E estas são as suas palavras.

Quando o Imperador Segundo, no banho de sangue que patrocinou a serviço da coroa inglesa, enviou os soldados de chumbo para proteger o Brasil de invasão boliviana (inimigos armados de estilingues e zarabatanas), foi construído um regimento militar próxima às cachoeiras de Santo Antônio. Um destacamento que de tão inútil não tardou a ser desfeito. Talvez não pelo chamamento da Coroa, mas pelos mosquitos e pelo calor insuportável. Esse famoso Ponto Velho dos militares foi abandonado. Assim começou o repertório de desamparo que perdura até hoje: Porto Velho nasceu sob a égide do desperdício e do despreparo para a construção de uma futura cidade. Rondônia, por sua vez, seguiu o mesmo passo.

Depois disso, os reiterados cenários dantescos mostraram às claras o descompromisso dos "eleitos pelos astronautas" em construir nesta terra um local aprazível para se morar, criar os filhos e os netos: migração vultosa, ciclos de borracha, ouro, estrada de ferro, usinas. Períodos que não tiveram o condão de construir as bases para o crescimento qualitativo do Estado e, por conseguinte, desta Capital. Na verdade, apenas restaram os túmulos, malária, miséria, filhos sem pai, viadutos inacabados, violência, baixa qualidade de vida e muito, muito discurso de que aqui as coisas não são tão ruins assim.

Lembro-me do dia em que, na calada da noite, o homem das três estrelas gemadas reuniu, ao seu redor, não por coincidência, o séquito de políticos que até hoje administram este Estado. Nessa triste noite, vi como eles, pululantes de alegria e com os olhos cheios de cifrões, pousavam para a foto que registrou o Círculo dos Escolhidos. Sem pudor e sem moral, fizeram o pacto da governabilidade e gravaram a mensagem desoladora: "Durante mil anos seremos os senhores desta terra e os escravos, mesmo com todas as dificuldades que lhe serão impostas, vão celebrar terem nascido sobre o nosso governo. Vamos distorcer todas as verdades e convencê-los a aplaudir a nossa enganação. O bem público será a nossa fonte de riqueza; e o cinismo, a nossa bandeira. Porque nós somos os políticos e sempre decidiremos o destino do Povo...".

Infelizmente, olhei no instante em que boa parte da nova geração de políticos, no afã de inserir-se nessa sociedade lucrativa, aderiu ao espírito de parasita, em prejuízo da coletividade. Um seleto e pernicioso clube que aceita qualquer político promissor para as fileiras dos homens que têm como único valor depredar o patrimônio público deste Estado.

Então, nessa perpetuação do uso negativo do poder, descobri que a parte mais interessada (o Povo) não tem valia alguma a não ser quando a TV anuncia a data para a nova eleição... É como viver eternamente entre parênteses.

Vi todos os escândalos que macularam o nome dos rondonienses perante o Brasil. Acontecimentos que entristeceram muita gente e fizeram da esperança uma descrença. Além disso, esses fatos trouxeram efeitos nefastos à economia, ao moral e ao futuro dos karipunas. Cito alguns e os mais recentes, para não tornar minha irresignação um livro das mil e uma noites.

Lembro quando o BERON já doente recebeu o tratamento pelos médicos de Brasília e, estranhamente, por isso foi levado à morte (falência múltipla das finanças). A dívida se tornou trívida. E o conluio recebeu a bênção da trivial impunidade. A Operação Dominó começou com batida de camburão e depois terminou com desfile, ternos e carruagem: só faltou a carroça de duques. As Sanguessugas não contavam com o vermicida utilizado pela Polícia Federal. Mas, apesar da medida purgativa, os vermes não foram extirpados e ainda continuam a sugar sangue.

Depois, fui testemunha ocular do momento em que os 300 gregos, com suas múltiplas faces investigativas, chegaram para mostrar para todo o Brasil o lado promíscuo e podre dos que apenas se interessam em enriquecer à custa de pacientes sem tratamento, de crianças sem escola de qualidade e de cidadãos sem segurança pública. Mesmo nessa situação, o Rei Xerxes voltou para a Pérsia e se ouviu daqui muitos fogos pelo retorno do rei. Mas logo o eco se fez silente e presença se fez ausência e o tempo perguntou curioso: para onde fugiste, José?

Apesar desse histórico, este Estado tem na maioria de sua população pessoas honestas. Por isso, eu vejo uma densa nuvem de indignação com o propósito de romper com o pacto milenar que fizeram sem o consentimento do Povo. O espírito de não aceitação não é mais isolado e individual. É o momento anunciado pela famosa canção: "Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade".

Ou ainda se permitirá que a cara dos que sempre impediram a melhoria desta Capital e deste Estado seja exposta em um superfaturado museu de cera? Não. Agora chegou a hora da Operação Caíssa e todos os que desrespeitam a coisa pública começarão a receber o xeque-mate. Políticos desonestos! Preparem-se para a boa nova: game over.

Somente os rondonienses podem escolher o seu próprio destino e, sem dúvida, eles derrubarão aqueles que insistem em atravancar a visão do Sol que surge para aquecer este dia... Eis o Rio de indignação.

Ação Popular: Respeitem Porto Velho!!!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A origem do nome das Três Marias – as estrelas cintilantes da nossa identidade cultural

A origem do nome das Três Marias – as estrelas cintilantes da nossa identidade cultural

Em Porto Velho, todo mundo sabe que as caixas d’água instaladas numa praça do bairro Caiari são popularmente chamadas de Três Marias! Porém, ninguém

 Brasil e o Guaporé, tudo a ver!

Brasil e o Guaporé, tudo a ver!

A obra do jornalista Zola Xavier, Uma Frente Popular no Oeste do Brasil, que será lançada em breve na Casa da Cultura de Porto Velho, desponta hoje

Os Trapezistas do Circo da Fuleragem Assaltaram o Mercado Cultural

Os Trapezistas do Circo da Fuleragem Assaltaram o Mercado Cultural

O bafo sonoro do berimbau de lata repercutiu azedo e cativante ao mesmo tempo, enquanto Dom Lauro verbalizava um canto tribal, tomando para si o cocar

Manifesto de repúdio ao índex rondoniense

Manifesto de repúdio ao índex rondoniense

“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente”.

Gente de Opinião Sexta-feira, 29 de março de 2024 | Porto Velho (RO)