Quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011 - 18h28
De repente, apagou-se a luz e a sala foi tomada por assombrosas trevas. Algo precisava ser feito, urgentemente – e foi.
Intuitivo e lépido, o professor Eliézer não se fez de rogado. Tendo a obscuridade por cenário e palco, entoou seu canto poético como se fosse um profeta pregando na escuridão do templo e, por um segundo, o mundo se houvesse permitido escutá-lo.
O reverberar de sua voz inundou a sala, espalhando metáforas que se chocavam nas paredes e resvalavam nos nervos atentos da platéia. Pancadas de vento atiçaram um rio de figuras de linguagem, e o que se viu foram os efeitos especiais de perífrases, onomatopéias e fonemas entrecortando o espaço, para delírio dos corações de estudante.
Pelos ares voaram redondilhas, rimas contundentes, frenéticas, desconcertantes, elegantes, jóias raras daquela atônita catilinária poética. Soltou-se o verbo, e com tal intensidade, que trouxe o adjetivo assinalando os barões, as armas e o poder da palavra em terras dantes lusitanas, num despertar da ilocução, do lírico, do lúdico, do lábaro que ostenta estrelado o verde-louro do povo Mamoré-tupiniquim.
A musicalidade pediu passagem e desfilou risonha, inculta e bela, na passarela da métrica. A cadência do ritmo desfolhou um romântico buquê de notas provençais e correu para o abraço da galera, na Praça Conotativa da Apoteose. A sátira rimou geminado e até curtiu:
Minha terra tem palmeiras/de açaí e babaçu/tem o grande rio Madeira/e o famoso candiru/Não permita Deus que eu morra/sem que eu volte pra lá/sem que aviste as palmeiras/e tome meu tacacá...
Feito cavalo de umbanda, o mestre rodou a baiana e trouxe o espírito do trovador medieval, a teimosia de um viandante que insistia em não ir por ali, como se fosse um pajé, um beradeiro, um Bruce Lee. Tomada por sinalefas, antíteses, eufonia e outras esmeraldas cedidas por especial vênia aos imortais, a sala transbordou em poesia, enquanto versos decassílabos e alexandrinos vazavam pelo ladrão.
Encantada, a estudantina era só ouvidos. Inebriada, curtiu o inédito, o pitoresco, um ar fresco reciclando a noite inusitada, batendo de cara com o novo, o ovo de Colombo, redescobrindo a vida e viajando nas asas de um épico beija-flor talhado a verso e prosa. E a alma do artista pôde, então, ser tocada, sorvida, dissecada e experimentada por dentro, auscultada em cena de explícita sensibilidade. Fez-se fim o que era meio, perto o que parecida longe, e houve um despertar do encanto onde só indiferença havia.
A Ceron trouxe de volta a luz, o normal voltou ao normal. Uns viajaram, outros não. É uma pena. Há quem jure não ter visto nada de novo, e que a “manjada” aula de literatura começa sempre com: “O amor é fogo que arde sem que ver/é ferida que dói e não se sente...”.
Serpa do Amaral
*Uma homenagem ao professor Eliézer
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