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Samuel Saraiva

Um honrado carpinteiro que se entregou à Amazônia


 

(Umirim, Ceará, 1906 – São José do Rio Preto, São Paulo, 1993) - Militar, Servidor Público, microempresário, construtor.                                

Mas foi como carpinteiro, praticando um dos ofícios mais antigos e nobres da humanidade, que se destacou, combinando conhecimentos técnicos e aptidões artísticas com simplicidade, honradez e abnegação, escolhendo para si a mesma profissão que Jesus exerceu há mais de dois mil anos. Um honrado carpinteiro que se entregou à Amazônia - Gente de Opinião

Nos evangelhos, São Marcos narra que os doutores assim comentaram quando o Mestre pregou pela primeira vez na sinagoga: “Não é esse o carpinteiro?"

Homem de natureza pacifica, Antônio Sales carregava em sua essência um sentido inato de justiça. Comenta-se que, em certa ocasião, quando desempenhava a função de ‘intendente’, duas vizinhas que moravam nas redondezas compareceram à delegacia disputando o direito de propriedade sobre uma galinha.

Num lampejo de discernimento Salomônico, ele colocou o bípede embaixo do braço e pediu que elas o acompanhassem. Ao soltar a ave na linha imaginável que dividia o terreno desprovido de cerca, a penosa dirigiu-se ao poleiro habitual, dando assim por encerrada a disputa.

Com a mesma perspicácia e singularidade, cruzou o rio da vida após uma caminhada de 86 anos. Partiu deixando uma imensa saudade, restando seu gracioso e inseparável guarda-chuva, que também o abrigava nos dias sol, na modesta sala da casa que lhe serviu de ultima morada na terra.

Sua epopeia começou ainda menino. Seus pais, Antônio Ferreira de Farias e Francisca de Paula Sales, formaram parte da legião de nordestinos que foram incentivados pelo famoso acordo de Washington D.C, assinado em 1943 por Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt (presidente dos Estados Unidos).

Naquela época, os aliados precisavam de borracha e a ocupação japonesa havia eliminado o fornecimento da matéria prima pelo sudeste asiático, antes da eclosão Segunda Guerra Mundial. A partir de então, ocorreu a migração em massa de nordestinos, sendo a maioria oriunda dos estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

Eles chegaram a Belém para depois percorrer o interior daquele inferno verde rumo a Santarém, Óbidos e outros lugares dos Estados do Pará, Amazonas, Acre e a região do Vale do Guaporé, dedicando-se à produção de borracha, o que possibilitou, tendo como preço a vida de milhares de patriotas anônimos que ficaram pelo caminho, o fim de um ciclo de estagnação que, por décadas, castigou impiedosamente a Amazônia.

Foi no Lago Grande do Salé, precisamente no Território de Juriti, pertencente à Comarca de Óbidos, que Antônio Sales de Farias e a jovem Tertuliana Paiva formaram família, tendo sido agraciados pelos filhos Aloísio, Álvaro, Adamar e Antoniana.

Quis o destino que Tertuliana partisse precocemente e, 11 anos depois, Sales recebesse como dádiva celestial a Leonor Soares Canto, que o acompanhou fielmente até o leito de descanso eterno, em 12 de junho de 1993, reverenciado pelos filhos Alcides, Aldira, Aguimar, Almira e Jorge, criados no Areal, bairro da saudosa cidade de Porto Velho no estado de Rondônia.

Seu Sales, como gostava de ser chamado, era exaltado como paradigma de conduta ética e sua reconhecida integridade tornou-se norte e orgulho de seus descendentes. Sua biografia retrata fielmente o legado da valorosa gente amazônica, servindo como exemplo de que alguns homens galgam as alturas, superando seus contemporâneos, para alimentar incessantemente a história que servirá de referência para as gerações vindouras.

Samuel Sales Saraiva

Washington D.C., Verão de 2016

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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