Segunda-feira, 30 de março de 2020 - 09h58
Originária
do Peru, a Cinchona Officinalis, por
nós conhecida por quina quina, é uma árvore de médio porte, da família Rubiacea
é bastante comum em toda a região das selvas amazônicas, principalmente na
Floresta Amazônica Peruana e dos Estados do Acre, Rondônia e Amazonas.
A
casca, ou cortiça, contém vários alcalóides e o principal deles, o quinino, é
um poderoso aliado no combate à malária ou empaludismo.
A quina
quina (ou quinina ou quinquina) já era conhecida dos Incas e,a pós ter curado de
empaludismo a esposa do Vice-Rei Espanhol no Peru, Condessa Chinchón, foi
levada pelos espanhóis e teve seu nome popular
modificado para pó da condessa.
Coube
a Carlous Linnaeus, o maior taxonomista de todos os tempos, batizá-la com o
nome de Cinchona, um anagrama a partir do nome da condessa.
Posteriormente
os padres jesuítas que faziam catequese no Peru, passaram a comercializá-la em
forma de pó, quando passou a ser conhecida como Pó dos Jesuitas.
Quando
o empaludismo se transformou em epidemia em toda a região de Versailles, Louis
XIV importou uma grande quantidade do produto para a França e assim erradicou a
doença naquele país. A conclusão é que desde o século XVl a quina quina já era
conhecida nos meios científicos e da medicina ocidental.
Quando
o médico sanitarista Oswaldo Cruz esteve por estas bandas, durante a construção
da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, mostraram-lhe
a planta e falaram de seus benefícios, mas segundo os comentários da época, ele
não teria dado maiores atenções e se não morreu
mais gente é porque muitos
operários tomavam o chá. E alguns até ficavam intoxicados por exagerar na
quantidade ingerida, causando em muitos, diarréia.
A quina
quina sempre teve seu lugar na medicina cabocla. No Alto Guaporé corre uma
lenda que remonta ao tempo em que os escravos fugiram de Vila Bela da
Santíssima Trindade e formaram os quilombos ao longo do Vale do Guaporé. Com
eles, levaram também o empaludismo, causando grande mortandade entre os
moradores dos novos povoados.
Os
quilombolas eram amigos dos nativos, pois em comum, resistiam ao escravismo que
imposto pelos europeus e seus descendentes.
Conta-se
que um velho pajé, curandeiro, teve um sonho no qual Tupã lhe mostrara uma
árvore da qual se deveria extrair a casca e fazer um chá, que iria curar todos
os doentes. Ao amanhecer ele se embrenhou na selva e encontrou a árvore do
sonho, tirou várias lascas e colocou-as em um grande pote de barro com água e deixou
ferver.
Quando
esfriou o chá, ele começou a ministrar aos mais doentes e devido ao forte
amargor, a maioria vomitava e resistia a tomar a beberagem, mas como o pajé era
um ancião muito respeitado, engoliram o remédio amargo. Em pouco tempo os mais afetados
começaram a melhorar e com a continuidade do tratamento, logo se
restabeleceram. A notícia logo se
espalhou e todos os povoados passaram a usar o chá amargo.
Em
2011, estive em um dos lugares mais remotos e preservados de Rondônia, Barreiro
das Antas, onde passei quatro dias, fotografando a inigualável beleza cênica de
lá.
Na primeira noite, uma simpática moradora, D. Mariazinha,
filha de índios locais, deu-me uma xícara de chá; quase vomitei e perguntei a
ela de que era aquele chá tão amargo que fiz um esforço enorme para beber, e
ela me respondeu:
“Quinaquina, pois é o melhor remédio pra
malária, tanto pra prevenir,quanto pra curar.
E
continuou:
“Aqui não compramos remédios de farmácia,
pois não temos,e nem médico. A gente usa os remédios que a mãe natureza nos
fornece de graça.”
Coincidência
ou não, depois disso já andei por toda nossa Rondônia e em locais altamente
endêmicos, mas até o momento,nunca contraí malária ou outra doença tropical.
Todas
pesquisas que estão sendo feitas mundo afora para o tratamento da Covid-19,
doença causado pelo novo coronavírus, Cov-sars-2,
levam ao princípio ativo do quinino. É uma ótima oportunidade para a ciência,
dando a César o que é de César, reconhecer o verdadeiro descobridor dessa
maravilha da natureza: os nativos andinos e amazônicos.
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Habita no Vale do Guaporé, um dos animais que mais apavora a população ribeirinha por lá. Trata-se um quelônio chamado Matá Matá (Chelus Fimbriata).É