Salve-nos, Bento e Francisco

“Daí de comer a quem tem fome, daí de beber a quem tem sede”

Inicio esse artigo com o coração apertado. Nesta semana comemoramos o advento da morte de Jesus Cristo e o Dia das Águas. E quanta tragédia o Brasil está vivendo por conta do excesso e da falta dela. É a força do Divino castigando os humanos por seus pecados e mazelas? Ou é o descaso humano com os seus semelhantes?

Vejo o nordeste como uma ‘salsa ardente’ pegando fogo, virando cinza e transformando tudo em pó. As carcaças calcinadas da boiada da esperança do nordestino. A “branquinha”, a “estrela” e o boi “Azulão”. Doze milhões já se foram. Tudo ali, esturricado, no chão. Mortos pela sede e pela fome. E morto, com eles, os sonhos e a comida e o leite do seu João, de dona Severina e dos filhinhos. Até o pé de mandacaru secou.

Como não lembrar de Luiz Gonzaga registrando que:

“Por falta d’àgua morreu meu gado, morreu de sede meu alazão”

Que na singeleza do seu canto, gemia a dor dos seus irmãos há mais de meio século. Como ficar indiferente ao clamor estarrecido do intérprete de nossas dores?

“eu perguntei a Deus do céu, por que tamanha judiação?”

Talvez para nos punir, pelo silêncio cúmplice e criminoso, de cada um de nós que, no conforto da água em nossas torneiras e da comida sobrando em nossas mesas, ficamos coniventemente calados diante da omissão de quem tem a obrigação, de prevenir, para não deixar acontecer tragédias como essas.

Quem deixou sumir os quase 5 milhões de toneladas de milho existentes em 2011 nos estoques do governo federal, para prevenir tragédias como essa? Quem os reduziu a pouco mais de 300 mil toneladas e, ainda assim, não os fez chegar nas propriedades calcinadas, para  mitigar a  fome de homens, mulheres, crianças e animais?

Quem vem impedindo a construção dos canais de transposição do Rio São Francisco que, agora, estaria salvando a vida de todos o seres e ainda salvando a economia de toda uma Região?

E na outra ponta, onde estão os recursos liberados para amenizar o sofrimento do povo de Petrópolis? Por que não saíram as contenções das encostas e as casas para abrigar os abandonados pela crueldade humana?

Toda essa dor, todo esse sofrimento não tem causa no sol ou na chuva, que são elementos da natureza necessários à vida humana. São dádivas de Deus. 

Todo esse sofrer sem fim, que nos revolta e nos estarrece, tem causa no homem. No próprio homem que colocamos nos governos, nos parlamentos e até nas instâncias do judiciário. É deles a culpa em primeiríssimo grau de responsabilidade. E, em segundo plano, somos nós mesmos os culpados. Pela nossa leniência, pela nossa omissão, pela nossa conivência e pelo nosso silêncio.

Vamos por os culpados na cadeia? Vamos reformar e mudar o que está errado?

“O poder é do povo e em seu nome será exercido”

Já ouviram essa expressão que é, na verdade, uma sentença? Pois bem, ela está no início da nossa Constituição. Vamos exercê-la? Vamos descobrir sua força?  Que sabe assim, possamos a diminuir a nossa vergonha e a dor de tantos desesperançados. Por na cadeia quem merece. E mudar o rumo desse país.

Osmar Silva – Jornalista – [email protected]