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Gente de Opinião

Osmar Silva

O retrato


Assistir ao início do primeiro dia de aula da rede estadual de ensino em uma famosa escola da Zona Leste da Capital. De ensino fundamental e médio. Nela, todos querem estudar. Muita gente que ficou fora teve de contentar-se com outras, menos eficientes e mais longe de casa. Tive sorte em conseguir matricular meu filho ali. Estávamos. Eu e ele, ansiosos pela chegada desse dia.

Cheguei cedo e fiquei observando aquelas carinhas ainda sonolentas, de cabelinhos penteados, arrumadinhos, bem vestidos, bonitinhos. Crianças na puberdade e a maioria já na adolescência. A escola, em todas as dependências, foi se enchendo de sons, gargalhadas, gritinhos, conversas em voz alta, encontros e abraços entusiasmados, alegres. Exclamações de surpresas e saudades. ‘Nossa! Como estás diferente, mas bonita!’ “E tu? Onde arranjastes esse cabelo? Ficou legal!’ “E aí cara!’ Oi Doido! Que tu fez nas férias?’ A escola parece uma grande árvore onde os pássaros acabam de acordar e, aos poucos, vão soltando trinados, pios e cantos. Uma festa!

Mães, muitas mães puxando filhos pela mão, procurando na lista pregada nas portas das salas, o nome do seu filho. Por onde andam os pais? Eu era dos poucos, meio perdido entre tantas mães. Também fui levar o meu filho de dez anos. E rodei em busca da localização daquela que tinha o seu nome. Dá uma agonia. E se não registraram a matrícula dele? E se esqueceram de por seu nome na lista? Tudo vai rodando na cabeça. Aumentando a apreensão. Ufa! Que alivio! ‘Olha lá, meu filho, aí está o seu nome. É esta a tua sala’. O rosto alegre dá lugar à decepção. ‘Nossa! É feia!’.

Aí cai a ficha e constato. Todos se prepararam para essa festa que é o primeiro dia de aula. Só a escola não se preparou. Não botou ninguém pra receber, dá um sorriso. Ninguém para dizer ‘bem-vindo’ ou ‘bom dia’. Ninguém para orientar, dá uma informação, nada. As salas estavam sujas e desarrumadas. As carteiras, muitas quebradas e desiguais, jogadas nos cantos. Emporcalhei meu lenço limpando uma pro meu filho. O quadro negro – que agora é branco – estava lá, grudado na parede. Sujo, encardido, borrado. Pareceu-me assim desde o ano anterior. Uma tristeza.

Cada um chega, vai limpando como pode e vai sentando ou deixando a mochila marcando o lugar. Se sumir, como achar? Não tem hino nacional, nem hino de Rondônia. Não tem nada. Uma palestra, uma palavra. Graças a Deus, teve a presença do professor. ‘Bom dia”. E vamos ao que interessa. Esse é o retrato do primeiro dia letivo do ano da graça de 2012. Agradecemos ao Senhor. Teve aula, não teve greve. É o retrato da educação brasileira. É o tamanho do desafio do governo e da sociedade. É um desafio para quem quer revolucionar a educação. Mas antes de qualquer coisa, é preciso haver mudança na atitude dos profissionais que educam nossos filhos. A começar pela limpeza e organização da escola. Que não custam mais que vassoura, sabão e boa vontade. E prazer de ensinar, de dirigir a escola. É uma questão de vocação e de amor. De ter prazer de se preparar para esse encontro diário com o segmento mais importante da espécie humana: nossos filhos.

Osmar Silva
[email protected]

 

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