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Osmar Silva

O governador que só queria ser deputado - Por Osmar Silva


 
Quando perguntei ao professor Ângelo Angelim se sentia confortável como o primeiro governador civil do novo estado de Rondônia, ele fixou-me o olhar através da lente dos óculos semicerrando os olhos, querendo advinhar minha intenção e respondeu:

- Parodiando o professor Eduardo Portela, digo que estou governador.

- Estava em seus planos ser o sucessor do governador Jorge Teixeira?

- Não. Nem sonhava. Queria ser deputado estadual. Me elegi para a Assembleia Legislativa. Mas as circunstâncias me troueram até aqui. Estou pronto para governar Rondônia.

Dai em diante a entrevista transcorreu normalmente. Era a primeira semana do seu governo.

Sempre que nos encontrávamos, demonstrava simpatia e apreço. Me chamava de Parceleiro, não pelo meu nome. Aliás, como fazia a maioria das pessoas naqueles anos 80 e 90 em função do nosso jornal que tinha essa estranha denominação para os padrões da comunicação.

Todo mundo dizia que ele era marionete do deputado Jerônimo Santana, o maior líder político do novo estado após Jorge Teixeira. O número um do PMDB em Rondônia era apontado como o governador de fato. Embora fosse prefeito de Porto Velho.

Em função dessa percepção, certa vez um vereador de Ariquemes perguntou-lhe se esses comentários procediam. Ele simplesmente disse: faça seu juízo. E encerrou a conversa.

Desde o fim de seu governo em 1986, nos vimos poucas vezes. Uma delas foi na sua casa na Rua Calama, em Porto Velho. A última foi no final do ano passado ou início desse ano, não lembro bem. Nos cruzamos no corredor térreo de um dos prédios do Palácio Rio Madeira.

Caminhava como uma pessoa qualquer. Passava por servidores que não o cumprimentavam por não conhecer-lhe. Ninguém lhe deu bola.

Vestido com simplicidade, em manga de camisa, cabeça meio baixa, ia passando por mim sem falar por olhar somente o caminho e não as pessoas. Não estava buscando reconhecimento nem louvores de ninguém.

- Governador Angelim, que prazer vê-lo! O que faz por aquí?

Levantou os olhos meio assustado. Algumas pessoas pararam para olhar-lhe ao ouvirem o seu nome.
- Parceleiro! Como vai você? Estou resolvendo umas coisas...

Trocamos algumas rápidas palavras e me cobrou o retorno do jornal. Só então percebi que havia mais uma pessoa com ele. Nos despedimos.

Guardo a lembrança de um cidadão simples, integro, discreto, que nunca deixou o poder subir-lhe à cabeça. Uma pessoa honrada. Coisa difícil hoje em dia no meio politico brasileiro.

OsmarSilva – Jornalista – Presidente da Associação de Imprensa de Rondônia-AIRON – [email protected]


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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