Segunda-feira, 17 de dezembro de 2012 - 07h39
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Demolição de casas abre espaço à ocupação imobiliária da orla /AMMA, 2012 |
MONTEZUMA CRUZ
Um dos três mais tradicionais bairros da Capital rondoniense conta seus dias desde os anos 1980, quando sua população viu-se acuada pela transformação das áreas centrais de Porto Velho. “O Triângulo fica na orla, é um bairro ribeirinho e sempre foi valorizado pela paisagem e pela proximidade com o centro”, explica o presidente da Associação dos Amigos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, arquiteto Luiz Leite Oliveira.
Em depoimento ao Gente de Opinião/Amazônias no final da semana, ele reiterou críticas à administração municipal, a quem atribui a conclusão de um “plano de despejo”. Oliveira lamenta a derrubada de casas antigas e da iminente derrocada da própria sede da Associação dos Remanescentes das Famílias Tradicionais e Pioneiros do Bairro Triângulo. “Ela está em pé, mas com os dias contados para desaparecer, com o aval do Serviço de Patrimônio da União, Prefeitura de Porto Velho e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)”, assinala.
Para o arquiteto, autoridades estaduais e federais “desconsideraram a resistência dos moradores” e, devido a isso eles teriam perdido batalhas morais e judiciais. “Cederam a planos criminosos executados por pessoas capazes de destruir oficinas da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, pátio e outras relíquias”, lamenta.
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Barbadiana sai à janela de sua casa de madeira no Triângulo /KIM-IR-SEN, 1975 |
Inspiração caribenha
O funcionamento da ferrovia que ligou Porto Velho a Guajará-Mirim, no início do século passado deu a Porto Velho a oportunidade de erguer um bairro semelhante às cidades caribenhas, especialmente Barbados. “Em cima de palafitas, ali viviam negros barbadianos e caboclos ribeirinhos, a exemplo de outras pequenas Vilas do Baixo Madeira”.
Oliveira prevê “a agonia do bairro” até o final deste ano. Segundo ele, não será fácil aceitar isso “sem choro e soluços”, pois centenas de folhas de documentos e denúncias respaldadas em leis ou na história teriam sido ignorados por autoridades federais em Porto Velho e Brasília.
O bairro surgido desde a colocação dos trilhos da Madeira-Mamoré fora constituído por um complexo triangular, “uma rótula de ligação para que as locomotivas penetrassem a leste, nas proximidades dos igarapés, onde ficavam as caixas-d'água abastecedoras dos tenders (vagão acoplado) das locomotivas”.
“Quando ainda frequentava os bancos escolares, a atual geração de políticos, membros do Ministério Público, do Poder Judiciário, e alguns técnicos a serviço desses órgãos em Brasília não percebia o que ocorria na margem do Rio Madeira”, diz o arquiteto inconsolável. Refere-se principalmente ao Seminário de Preservação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em 1980, cuja decisão mais importante foi a reativação da ferrovia e a conservação do Bairro do Triângulo.
Por ironia do destino, descaso de diversas autoridades e até por desconhecimento da história regional, há mais de 30 anos o bairro já vem sendo praticamente despejado. O arquiteto não poupa ninguém e coloca num único rol “os culpados” pela situação: “Empresários, políticos, e o prefeito Roberto Sobrinho, este, apoiado pelo Iphan e bafejado pelo dinheiro das compensações oferecidas pela construção da Hidrelétrica de Santo Antônio”. “Recursos que deveriam ser usados na restauração, cumprindo-se a decisão do seminário de 1980, na verdade serviram para a destruição do bairro histórico, com a consequente expulsão dos seus infelizes moradores. É um saque, pouco sobra do original”, acusa.
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Reportagens de "O Guaporé" em 1980 mencionavam os primeiros despejos /REPRODUÇÃO |
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