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Montezuma Cruz

Projeto Acolher encerra ano distribuindo roupas, comida e fazendo testes rápidos em moradores de rua de Porto Velho


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Crepad ofereceu baião de dois e refrigerante
a moradores de rua na noite dessa terça-feira

Em  sua última atuação no ano de 2016, a equipe do Projeto Acolher, do Centro de Referência de Prevenção e Atenção à Dependência Química (Crepad), serviu na noite de ontem, terça-feira (13) pelo menos 150 refeições, o mesmo número de cachorro quente, e distribuiu aproximadamente 100 peças de roupas e calçados para moradores de rua.

A equipe ainda aplicou mais de 50 testes rápidos de HIV, hepatites e tuberculose, pois muitas pessoas com qualquer uma dessas doenças só tomam conhecimento da situação e se submetem ao tratamento, quando levadas à sede do Crepad. No entanto, situações que exigem tratamento médico ou internação deverão ser encaminhadas a partir do início de janeiro do próximo ano, conforme informaram as assistentes sociais.

Já o Projeto Acolher será retomado em março, de acordo com a gerente de Tratamento do Crepad, psicóloga Dioneia Martins Marinho.

O projeto é mantido pela Superintendência Estadual de Políticas Sobre Drogas (Sepoad), sediada no bairro Liberdade.

O chamamento às igrejas para participar do projeto, com orientações transmitidas em reuniões nos meses de setembro e outubro, começou a dar resultado.

Nessa terça-feira, a Igreja Universal do Reino de Deus enviou uma equipe de 20 pessoas à estação rodoviária e atendeu em duas tendas armadas do outro lado da avenida Jorge Teixeira, em frente à tenda do Crepad. Sua equipe distribuiu refeições, verificou pressão arterial e dirigiu orações aos moradores de rua.

Palestras de sensibilização e orientação promovidas pelo Crepad em setembro e outubro deste ano tiveram representantes de paróquias católicas, Seicho-No-Ie, Igrejas Batista Filadélfia, Metodista Wesleyana e Nova Aliança, além dos Grupos Amor Exigente, Familiar Nar-Anon, centros espíritas kardecistas e umbandistas.

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Edson Teixeira disse que o banner lhe inspira a resgatar a cidadania perdida

DRAMA DO ALCOOLISMO

Sexto a ser entrevistado, o paranaense Edson Alves Teixeira, 56, confessou suas amarguras com o alcoolismo e iniciou um monólogo. A assistente social o identificou, e depois de ouvi-lo por 15 minutos seguidos recomendou o retorno ao Crepad, em janeiro do próximo ano.

É assim mesmo o momento que antecede aos testes rápidos, à visita ao varal de roupas e ao prato de comida. A maioria dos entrevistados ouve as perguntas básicas e relata o real motivo de viver na rua.

Torneiro mecânico, soldador, especialista em montagem industrial, Edson Teixeira conta que “perdeu tudo por causa do álcool”. Desempregou-se e não consegue mais vaga em empresa alguma.

Saiu de Cianorte (PR) para Ji-Paraná há 27 anos. Trabalhou no garimpo Sovaco da Velha (no rio Madeira), onde, conforme conta, ficou conhecido como Magrão.

O álcool é a porta de entrada para as drogas. Edson aprendeu isso ainda menino, mas só veio sentir as consequências quando buscou ouro em Rondônia.

“Misturei bebida de tudo o que o senhor possa imaginar. Consumi maconha, estou doente, tentei me aposentar, não consegui, e tenho consciência da culpa do álcool nessas recaídas”, contou logo após ter falado com a assistente social.

A situação de Edson assemelha-se à de milhares de garimpeiros mergulhadores que trabalhavam sob efeito de drogas nos garimpos, conforme constataram as Polícias Civil e Militar e a Divisão Subaquática do Ministério do Trabalho, em operações e inspeções feitas nos anos 1980 ao longo do rio Madeira.

Vivendo de bicos, passou por uma unidade dos Alcoólicos Anônimos (AA), perdeu um dedo da mão esquerda e teve corte interno no antebraço esquerdo. Quer o apoio do Crepad para visitar o INSS. Anteriormente perdera a oportunidade de ser atendido na Defensoria Pública.

Lendo o banner, ele prometeu a si mesmo: “Eu ainda vou resgatar a minha cidadania, mas tenho que pôr em prática o que me disseram no AA, com o dedo no meio da minha testa: só quem lhe recupera de verdade é você mesmo, e você precisa querer!”.

Resta-lhe também rever a filha Poliana, 27, que vive e estuda em Ji-Paraná. É a sua atual referência familiar em Rondônia. Possivelmente, ele o faça neste natal.

SAIBA MAIS
Igrejas fortalecem atendimento a dependentes químicos
Dependentes químicos têm acesso a empregos
Foco é dignidade e solidariedade


Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Ésio Mendes
Secom - Governo de Rondônia

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