Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

PM despeja, processo desaparece e promotora vai embora


 Gente de Opinião

MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 

Em 1976 e 1977 Igarapé Grande e Abaitará viviam sob clima de tensão em Rondônia. Por licitação, o fazendeiro paulista Fernando Iberê e seu grupo arremataram cerca de 10 mil hectares de terras então ocupadas por 70 famílias de colonos com antigas benfeitorias. De posse do título definitivo outorgado pelo Incra, mesmo sem ter feito acerto algum, o fazendeiro promoveu ação possessória.
 

Mais realista que o rei, por conta própria o oficial de Justiça Ivaldo Mello requisitara a PM para esvaziar toda área. O então juiz de Direito e mais tarde desembargador, César Montenegro, decretara o despejo de apenas cinco famílias. O oficial foi afastado do cargo.

PM despeja, processo desaparece e promotora vai embora - Gente de OpiniãoO comandante da PM em Rondônia, coronel Ivo Célio da Silva, não só concedera a força policial como coordenara o cumprimento do mandado judicial. Determinara à tropa desalojar à força todos os ocupantes, mesmo que seus nomes não constassem no mandado entregue por Mello.
 

O despejo ocorreu. Sob a mira de metralhadoras e fuzis, as famílias foram despejadas e jogadas à beira da BR-364 (Rodovia Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco). Iberê nada lhes restituiu, tampouco as galinhas e os porcos que criavam para vender no comércio.
 

A situação de penúria foi contornada pela ajuda de comerciantes e da Igreja Católica.
 

Os poderes de Iberê se estendiam à polícia. Seus jagunços cercaram várias vezes Noraldino Gonçalves Pereira, líder dos sem-terra, para dissuadi-lo de assinar uma procuração ao advogado Agenor Carvalho, para a defesa das famílias ocupantes de Abaitará.
 

E devem ter se estendido também ao Poder Judiciário. Nunca foi esclarecido, por exemplo, o sumiço do rumoroso processo sobre o despejo. Quem o escondera?
 

A promotora Sara de Sousa Lima, autora da denúncia de abuso de autoridade contra o comandante da PM, contra o tenente que comandou o despejo e contra o oficial de Justiça, imediatamente pediu transferência para a Comarca de Guajará Mirim, na fronteira brasileira com a Bolívia.
 

O juiz temporário Julio de Oliveira rejeitara a denúncia da promotora, com o argumento de que o crime “era de competência da Justiça Militar”. Foi este, durante muitos anos, um dos maiores absurdos cometidos para poupar a condenação de militares envolvidos em arbitrariedades. Conforme denunciou o ex-vereador e deputado federal José Viana dos Santos (PMDB-RO), o processo contra o coronel Ivo Célio foi arquivado pela Justiça Federal.

 

Siga montezuma Cruz no

Gente de Opinião

www.twitter.com/MontezumaCruz


Clique AQUI e leia artigos anteriores

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

A história do tenente-coronel paraquedista Abelardo e Alvarenga Mafra, ex-governador do extinto Território Federal do Guaporé não aparece em livros, t

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Em 1º de janeiro de 1918, passados 107 anos, a edição nº 65 do jornal Alto Madeira via "tudo azul", ou seja, o Estado do Amazonas estava bem em sua gi

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

O agrônomo William Curi teve efêmera passagem pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, onde ensaiou seus passos políticos, sem obter o mes

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Depois da exoneração de William Cury e do êxito do Polonoroeste, o INCRA daria conta de titular 3,4 milhões de hectares de terras em Rondônia, somando

Gente de Opinião Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)