Segunda-feira, 7 de novembro de 2011 - 08h11
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
“Eu quero que o senhor avalie essas jóias pra ver quanto dá.” Assim começa o diálogo de compra e venda de ouro usado entre a gerência da Comercial Ouro Velho, na Rua Barão do Rio Branco, e um pai de família desempregado. Sem perspectiva de qualquer melhora, ele tenta vender suas jóias e garantir a subsistência por mais um período.
Uma média de 30 pessoas visitava diariamente cada loja. A repórter Ana Maria Mejia publicava no jornal O Garimpeiro mais um retrato do cotidiano da cidade em 1985. “Esse homem pediu demissão da Transportadora de Bebidas Souza, onde trabalhava havia quatro anos, recebendo 300 mil cruzeiros por mês. Segundo ele, apareceram “vales” sem assinatura que foram descontados do montante que receberia na rescisão do contrato.”
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A repórter Ana Maria Mejia foi às lojas do ramo e constatou a venda de dentaduras de ouro no auge do garimpo do Rio Madeira, em 1985 /M.CRUZ |
Contava as horas para retornar a Manaus, onde estavam seus familiares. As passagens do barco custavam 380 mil cruzeiros. Ele confidenciava: “O jeito é me desfazer dessas coisas e ir embora; já marquei as passagens, saio amanhã.”
Foram 13 gramas de ouro de 18 quilates em jóias avaliados em 350 mil cruzeiros. Se pechinchasse talvez saíssem por 400 mil.
Rubens, 30 anos, paranaense, da Comercial Ouro Velho, havia trabalhado na Xerox do Brasil. Começou a comprar ouro usado em Cuiabá, dividindo a loja com um amigo. Um dia vendeu a sua parte e veio para Porto Velho ver a praça. “No mesmo dia aluguei uma loja e montei o negócio, fui o primeiro do ramo na cidade. Quando cheguei ninguém comprava ouro usado e a média mensal era de quatro a cinco quilos; hoje se compra um quilo e um pouquinho”, contava.
Eudisson de Oliveira, 21 anos, outro paranaense, proprietário da Compra de Ouro Dois Irmãos, queria comprar e vender ouro de garimpo, mas o capital exigido ultrapassava suas posses. Ficou no ramo do usado. “Compro qualquer tipo de ouro, porque depois, jóias, moedas ou dentes vão ser purificados e só fica o ouro que a gente revende para outros estados”, explicava.
O preço do ouro usado girava em torno de sete mil cruzeiros em 1984, subindo para 28 mil e chegando aos 30 mil cruzeiros no ano seguinte. Na reabertura do garimpo do Rio Madeira, a tendência era a valorização do metal. Os garimpeiros se desfaziam de tudo o que tinham para comprar mantimentos e material para o sustento.
“Nessa época que aparecem os dentes de ouro; são em geral dentaduras que os trabalhadores do ouro mandam tirar porque é a única coisa que têm para transformar em dinheiro vivo”, comentava o comerciante Rubens.
Mesmo na época da “safra do ouro” de garimpo – escrevia Ana Maria – as jóias continuam sendo vendidas pelo garimpeiro blefado (*) ou por aquele que adoece. São as pessoas da cidade que no auge da temporada também querem enriquecer.
E o comerciante Eudisson garantia: mesmo apresentando cédula de identidade, se fosse comprovado que o ouro oferecido originava-se de furto ou roubo as peças eram devolvidas e a vítima indenizada.
Quando começou a expandir-se o comércio de ouro usado em Porto Velho apareceram negociantes sem cadastro geral de contribuintes ou alvarás de funcionamento. Foram todos denunciados.
NOTA
(*)Empobrecido ou falido, por não ter tido sucesso no garimpo
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