Sexta-feira, 14 de janeiro de 2011 - 15h03
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Em Cacoal não teve prostituta pobre naquele agitado 1985. Os empregados dos mafiosos pagavam as mulheres com dólares e assim se tornavam isca fácil das investigações do Ministério Público e dos agentes da PF. Pagar serviços de sexo com moeda norte-americana era esnobação em tempos de crise econômica, daí, o desconfiômetro das autoridades.
Para chegar ao fio da meada, o promotor Manoel Rodrigues dos Santos executava um trabalho minucioso. Tomava depoimentos de dirigentes de clubes de serviço, vereadores, policiais da cidade e de alguns servidores municipais.
Forte chuva prejudicava as diligências do delegado Nei Cunha no dia 28 de fevereiro. Uma lancha lotada de ácido escapava pelas águas do Rio Guaporé, em Pimenteiras do Oeste, rumo a uma fazenda de Camilo Rivera Gonzales, situada em Itenez, território boliviano. Mas a farra seguia envolvendo a mulherada em Cacoal. Durante as noitadas os agentes colocavam as mãos nos principais suspeitos de colaborar com o narcotráfico, ou dele participar diretamente.
De Vilhena eu recebia a notícia da prisão de mais três colombianos pela PM e pela PF, quando eles desembarcavam na estação rodoviária. Eles iriam ao encalço de Jonas Costa de Jesus, o Baianinho, testa-de-ferro do traficante Camilo Gonzales, o Dr. Zé Luiz.
Em conseqüência das investigações do promotor Manoel Santos, a PF prendia em Cacoal pessoas direta ou indiretamente ligadas à máfia: Carlos Roberto de Paula, Francisco Xavier Teixeira, Idenésio Zivico, Joaquim Vieira Simões, Natanael Ulian, Omilson Claiton Dias Tavares, Sávio Alberto de Aguiar Araújo e Wilson Sebastião Silveira. Idenésio e Francisco pilotavam um avião adquirido em nome da Master Táxi Aéreo, uma das empresas de Macilon Braga.
A cada golpe sofrido, o esperneio era grande, principalmente em São Paulo: Neusa Ribeiro Gonzales, mulher do peruano Wilfredo Gonzales Ruiz, por exemplo, acusava os agentes da PF paulista de forjar o flagrante contra o marido, “colocando cocaína dentro de sua casa”. O coordenador da Operação Eccentric, delegado José Augusto Bellini, reagia: “Isso é descabido e sem fundamento”.
A essa altura morria num acidente aéreo no Paraguai o empresário paranaense Gilberto Yanes, peça importante no refino da coca para a máfia colombiana. Com criatividade, empregados de Yanes pintavam os galões de éter de azul e trocavam os rótulos, indicando inseticida “mata rato”.
Bem longe da Amazônia Ocidental, os suspeitos de alimentar negócios dos traficantes cuidavam da imagem. O industrial Olivier Moura Viteli de Carvalho, presidente da Rio Química, negava envolvimento com o bando que agia em Rondônia e no Amazonas. Outro industrial, Eduardo Batista Ferreira, deixava a sociedade da Gama Química, mas não escapava de ser indiciado, porque a empresa fornecia aos colombianos grande quantidade de éter e acetona.
Em Porto Velho, o superintendente da PF, Juliano Maciel, não se se surpreenderia com o fato de a Agropecuária Guaporé, pertencente a Camilo Gonzales e à sua companheira Glória Sanches, constar no registro de cartório em nome de Jonas de Jesus, o Baianinho. Glória, Baianinho, Manoel José da Costa e Luiz Carlos Gomes, envolvidos com Gonzales, seriam todos presos em Vilhena.
Desmantelado o bando que agia na rota São Paulo-Rondônia, amontoavam-se na mesa do superintendente Maciel cerca de quinhentas folhas de inquéritos, resultando na expedição de 20 cartas precatórias para indiciados, somente na capital paulista.
Por aí é fácil de entender o significado exato do termo “tentáculos da máfia”.
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