Sábado, 22 de outubro de 2022 - 11h51
Tudo bem aí? Tomara! Por aqui de vez em quando preciso medir pulso e
pressão para ver se essa ansiedade que quase me tira o ar, faz ranger os
dentes, esses medos repentinos e pensamentos atravessados, não são o meu corpo
reagindo fortemente a esse tempo louco que passamos. Tempos estranhos esses em
que não adianta quase nada ter razão. Tempos estranhos esses em que ser
sensível à sua própria dor e a dos outros traz tantos dissabores.
Só me sinto um pouco melhor quando vejo que não é
sentimento exclusivo meu. Gente importante, famosa, rica, linda, resolvida,
exemplos de equilíbrio que acompanho ou que mantenho entre meus amigos relatam
sintomas muito parecidos aos meus. Alguns até descrevem situações ainda mais
aterrorizantes e melancólicas. Creio até que meu bom humor e capacidade de
adaptação me ajudam a que ainda não esteja tão atingida.
Antes de continuar, peraí! O que se transformou a eleição é
só um item, antes que as defesas de todos os lados se armem e comecem a me
mandar desaforos, que já ando cheia de receber e me controlar para não mandar
uns coices de volta.
Muda de assunto um pouco que esse aí é pequeno diante da
real e já encheu, se esgotou e nos esgotou profundamente, levando justamente
mais pedaços de nossa saúde, especialmente a emocional. Falo do que restará
após esse período tão longo, de anos, de dificuldades, destemperos,
retrocessos, ataques, violência e desconsideração, doenças. Do que surgiu dessa
situação pós pandemia, que tantos tentam resumir e afastar como se nada tivesse
acontecido. Faltam assobiar para muito mais de meio milhão de mortos, cenas
angustiantes, covas a céu aberto, aqueles números, gráficos, falta de
assistência, remédios, ar, isolamento. Excesso de negação, ignorância, demora
de tomada de providências. Muitos dessas consequências e reflexos, incluindo
econômicos, só estão sendo sentidos agora, e o que até pode explicar um pouco
da loucura, agressividade aflorada, da irracionalidade das discussões sobre
qualquer tema; inclusive, a busca de mitos tão dispares entre si.
Por questão de dias, porque não tiveram tempo de tomar a
vacina, perdi – aliás, o Brasil perdeu – enormes pedaços de nossa história, de
minha história, amigos que por décadas as construíram e que perderam o tempo
que tinham por aqui para fazer muito mais. Seus legados, suas obras, as
lembranças e aprendizado dos que com eles conviveram. Não quero perder mais
ninguém. E tem muita gente atingida.
Temos o dever de honrar a memória de todos e buscar que
nada mais se repita assim.
Por conta da negação desenfreada e disseminada muitos
outros foram embora, senão da vida mesmo, de nossas vidas, por não conseguirmos
mais com eles conviver. Por mais que tivéssemos tentado alertar, eles acreditaram
e, talvez, ainda acreditem nas mentiras, nas falseadas, passam por certa
lavagem cerebral.
E mentiras matam. São insidiosas, convencem e comprometem o
entendimento. Agora vêm revestidas, buriladas, maquiadas com ar tão inocente
que conseguem provocar e escavar mundos sombrios, como a censura, o ódio e o
confronto insuportável. Comprometem a liberdade.
Teremos de lidar com isso tudo ainda por muito tempo. Esse
ar irrespirável. Pior, temos de nos preparar para isso como se em nossas vidas
fossem estas as únicas preocupações, sendo que temos tantas outras que se
aglomeram e nos pegam justamente tão frágeis, dificultando que possamos
resolvê-las por não conseguirmos prever nem o que ocorrerá nos minutos
seguintes.
Vocês entendem? Amigos, razão, sensibilidade e palpitações.
E expectativas, muitas. Como sempre me aconselha um considerado leitor: “Tem
calma, tem calma” ...
Difícil.
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MARLI GONÇALVES – Oposição ao que é ruim, seja de que lado
for. Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de
Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora
Contexto. (Na Editora e na Amazon). marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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