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Lucio Albuquerque

'Tá sabendo?' Desta vez foi o Walmir



Lúcio Albuquerque
repórter, membro da Academia de Letras de Rondônia

Na parede do meu escritório aqui em casa um relógio gira os ponteiros em sentido contrário aos relógios “normais”. E foi assim, depois de recebr a notícia ruim, que fiquei, olhando os ponteiros girarem ao contrário e voltando no tempo, como o “Zuzubem?” que faz muita gente rir ao deparar com aquele produto da Imaginarium. Mas desta vez não era para rir.'Tá sabendo?' Desta vez foi o Walmir - Gente de Opinião

Enquanto eu olhava para o relógio que girava ao contrário, também fazia uma viagem ao tempo passado, pouco depois de o ex-presidente do Sinjor Marcos Grutzmacher ter ligado e feito a pergunta que parece ser regra de quem quer me dar uma notícia da morte de um colega de profissão: “Tá sabendo do ...?”.

Foi assim com o Pedro Sá, que passou para o outro lado numa mesa de cirurgia; com o Pedro Torres, vítima da irresponsabilidade de um caçambeiro; com o Sérgio Valente, com o Claudiné Almeida (de Ariquemes), com o Paulo Queiroz, sempre a mesma frase interrogativa: “Tá sabendo do ....?”

E foi a pergunta do Marcos quando eu estava entrando no carro: "Tá sabendo do Walmir?”. Bom, a frase, quase um chavão na nossa linguagem para dar notícia que outro profissional da imprensa local foi para “os belos campos de caça”, fez-me parar e voltar.

Olhando para o relógio que gira ao contrário, viajei no tempo. Era uma tarde de sol violento, dessas que temos aqui comumente. Fazia dois dias que eu desembarcara em Porto Velho e fui ao Palácio Presidente Vargas para conhecer o pessoal da Assessoria de Imprensa (o título era Assessoria de Imprensa e Relações Públicas – AIRP) e o jornalista Jorge Santos, seu diretor, informou que o governador Humberto Guedes iria dar uma entrevista coletiva. Era novembro de 1975.

Quando cheguei ao local, aquele salão no qual hoje as pessoas esperam para falar com o governador Confúcio Moura, pensei estar em outro mundo: com o calor beirando os 38 graus, a sala sem ar-condicionado, os jornalistas ali presentes todos de paletó e gravata. Eu estava de jeans, tênis e uma camiseta do Projeto Rondon.

Olhei e vi aquele grupo conversando, todos eram pessoas bem mais velhas do que eu: os jornalistas Emanuel Pontes Pinto, Euro Tourinho, Luiz Tourinho, Vinícius Danin, Roberto Uchoa, Rochilmer Rocha (os três últimos já falecidos). Talvez por coincidência, mas sentado meio distanciado vi um camarada que aparentava minha idade de então, 29 anos. Bom, do grupo eu conhecia apenas o Rochilmer. Creio que até por causa da idade sentei ao lado do camarada mais jovem.

Ele estava com um terno creme, gravata clara, colete (imagine o calor!) aquele ar aparentando importância – era o diretor de Jornalismo da única emissora de rádio local, a Caiari, e começamos a conversar. Apresentei-me, ele também: Jornalista Walmir Miranda – muito depois foi que eu soube que havia outro nome, da família paterna, o “Vitorino”.

E ontem foi o Marcos Grutzmacher, companheiro (não no sentido político, por favor!) de muitas jornadas jornalísticas, quem deu a notícia: “Tá sabendo do Walmir Miranda?”. Não, eu não estava sabendo, mas aí nem precisava acrescentar o detalhe “ele morreu”, até porque como já expliquei acima, com aquele introito nem era preciso explicar que o Walmir fora fazer companhia a outros amigos que seguiram à frente dele.

Naquela entrevista fiz a primeira amizade com um profissional de Imprensa local. Tornamo-nos amigos, minha esposa Fátima ficou amiga da – então – esposa dele e era comum, nas manhãs dos quatro últimos anos finais da década de 1970, eu dar uma passada no cubículo em que funcionava o Departamento de Jornalismo da Caiari, naquele prédio onde hoje reside o arcebispo dom Moacir Grechi, e ficar conversando um pouco.

Na Caiari nos reuníamos onde tinha o café, batendo um papo com outros profissionais de então daquela emissora: Lauro Pazeto, Moacir Fares, Ernesto, Lucivaldo Souza, Edinho Marques, uma espécie de troca de informações. Era comum aparecer o Pinguilito que imitava à perfeição a voz e o sotaque do bispo dom João Batista Costa.

Dali saíamos – eu, o Maurício Fares e o Walmir – em busca de notícia, eles dois cada um carregando um gravador daquele tipo tijolão, quase três quilos de peso, os “top” de linha de então. Talvez por pesarem tanto é que eu desde que comecei no jornalismo, ainda em Manaus, nunca gostei de gravar nada, nem de gravador. Pura preguiça de “desgravar” e, talvez mais ainda, de carregar aquela tralha. Mas eu trabalhava em jornal e eles em rádio, sistema em que a voz é o canal.

Citei “cubículo” um pouco antes? Era assim a sala do Walmir onde eram depositadas pilhas de aparelhos de rádio que o bispo Dom João Batista Costa recebia não sei de onde e doava para pessoas pobres. Havia uma mesinha com uma máquina de escrever em cima e um mini armário no qual o Walmir colocava material de trabalho, inclusive o gravador tijolão.

Mas o Walmir não era só isso: também atuava como escrivão na Delegacia de Polícia Civil e era redator de esportes, junto com o João Tavares e o Simeão Tavernard (este já falecido) no Alto Madeira, além de jogar como lateral direito do Flamengo dirigido pelo seu Dudu. Aliás o Flamengo carioca era seu time de paixão ,e aturar o Walmir naquele tempo em que o “urubu” conseguia, sabe-se lá como, ganhar títulos seguidos, não era fácil.

Aí pelo fim da década de 1970 ele conseguiu uma bolsa de estudos e foi para Belém onde cursou Educação Física. Várias vezes disse-me que o maior problema que sentia quando morava naquela cidade era a distância de sua mãe, pela qual tinha verdadeira paixão. No retorno foi técnico de futebol e depois assumiu a cadeira de Natação no curso de Educação Física da UNIR além, claro, de continuar atuando e atuante na Imprensa.

A roda da vida girou, o Walmir participou ativamente da criação do Sindicato dos Jornalistas, atuou como assessor de imprensa da Polícia Militar e, com o crescimento da cidade e a mudança do foco profissional, nos distanciamos, mas, sempre que nos encontrávamos, eram longas conversas lembrando do tempo em que fazer jornalismo era matar um leão por dia.

Da última vez que estivemos na mesma redação foi quando tive uma passagem pelo site noticianahora.com.br, com a assessoria da Eliane Vieira de Araújo, e no qual o Walmir assinava a coluna "Tribuna do Povo".

Agora o Walmir vai levar sua coluna, a "Tribuna do Povo" para o jornal lá do outro lado, onde encontrará certamente outros companheiros que já foram “desta para melhor”, como dizem muitos, mas sem ter prova real de que lá seja melhor que aqui, até porque quem já foi não se tem prova provada que voltou.

Fico, pedindo a Deus que receba bem meu amigo Walmir Miranda e que console aqueles que ficam por aqui tristes com sua partida mas, certamente, satisfeitos porque ele soube cumprir seu papel entre nós.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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