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Gente de Opinião

Lucio Albuquerque

Morreu, ficou bonzinho....


Não sou de demonizar ninguém. Há alguns dias quando conversava com algumas pessoas sobre aquela torcedora do Grêmio que, claramente, chamou o goleiro do Santos de “macaco”, eu lembrei que é importante que ela e outros respondam por seus atos, mas deixei claro que “demonizá-la” não vai a lugar algum, como também ouvi, ainda nesta quinta-feira, críticas ao fato de Pelé ter dito que a resposta que ele e o time do Santos (que tinha outros jogadores negros como Coutinho e Lima) davam quando começavam a xingar era jogarem melhor e vencer.

Da mesma forma não concordo quando alguém morre e, de repente, é citado como “bonzinho” pelos que antes os detratavam, caso recente do ex-governador pernambucano Eduardo Campos que, num átimo, passou a ser elogiado até pelos seus mais virais críticos que, face à morte e à necessidade de fazer média política, logo mudaram o discurso como se nada tivessem dito antes.

Faleceu o ex-deputado federal, ex-prefeito de Porto Velho e ex-governador Jerônimo Garcia de Santana. Como com outros políticos também com ele nunca tive um relacionamento bom. E dele, reconheço, recebi uma grande homenagem profissional – pelo menos considero assim. Foi assim:

Em 1983 durante a convenção do PMDB para escolha do novo diretório regional – disputa vencida pelo então deputado estadual Ronaldo Aragão – o Dr. Bengala quando o fui entrevistar disse uma frase que nunca mais esqueci.

“De que lado você está? Não sei se você está contra mim ou está a serviço daqueles que estão contra mim”. Ele não entendia, como outros políticos com os quais convivi em mais de 30 anos de reportagem, inclusive governadores do Amazonas e outros daqui, que eu estava a serviço da minha profissão, da qual tenho muito orgulho, repórter.

No entanto, do que ouvi de jornalistas em entrevista e em programa de rádio, sobre a morte de Jerônimo pesquei pelo menos algumas colocações que colocaram a História de lado. Vejam só o que anotei:

Afirmação: O Jerônimo foi o primeiro prefeito eleito de Porto Velho.

Verdade: O primeiro prefeito eleito de Porto Velho foi Joaquim Augusto Tanajura, em 1916 (Livro “De Guapindaia a Roberto Sobrinho”, autor Abnael Machado de Lima e também citado em outros autores).

Afirmação: Exerceu mandato tampão na prefeitura de Porto Velho.

Verdade: Jerônimo foi eleito prefeito e renunciou ao ser indicado candidato a governador.

Afirmação: Retomou aos acreanos a Ponta do Abunã que fora invadida.

Verdade: Quem retornou a Rondônia aquela região foi uma decisão do Supremo Tribunal Federal.

Mas há outros fatos que não podem ser deixados de lado quando se confronta a figura de Jerônimo com a História. Já em 1975 Jerônimo criticava duramente seus companheiros (vereadores Cloter Motta, Abelardo Castro e Paulo Struthos) e na eleição de 1976 colocou-os de lado formando um grupo próprio na disputa para vereadores em Porto Velho. Os três foram reeleitos e Jerônimo só viu um vencedor de seu lado, o advogado Itamar Moreira Dantas.

Em 1981 não votou a favor da criação do Estado porque, segundo ouvi de vários membros do PMDB, preferiu ficar fiel à bancada, deixando de ser fiel a Rondônia onde obteve três vezes seus mandatos de deputado.

No mesmo ano, ou pouco antes, “importou” um cristão novo, Mucio Athaíde fazendo-o secretário geral do PMDB rondoniense, colocando de lado companheiros da base como Enjolras Araújo Veloso. Múcio foi eleito deputado federal dando chapéus e vestidos de noiva. Assumiu e nunca mais veio a Rondônia.

Como governador Jerônimo Santana cometeu outras imprecações, por exemplo a questão do Beron, banco estadual que caminhava para sua consolidação e que sofreu duros golpes em sua gestão.

Outra: quem era servidor público estadual durante sua administração sabe o quanto penou para receber os últimos três ou quatro meses de trabalho, só na gestão seguinte.

Há mais um fato que parece ter sido esquecido quando falam da figura de Santana: na campanha ele garantia que iria governar com quem ajudasse a eleger. No cargo Jerônimo comportou-se na linha dos governadores do Território que ele tanto criticava – muitas vezes sem razão, apenas para marcar opinião: “importou” secretário de Comunicação e trouxe não sei quantos assessores para secretarias vitais. Um deles, mesmo sem qualquer identificação com a população, foi candidato a senador.

Como governador Jerônimo, que fora deputado federal três vezes e sempre criticava administradores, chamou a Assembleia Legislativa de “gaiola de ouro”. E, ainda em relação a Porto Velho não dá para esquecer ele ter alimentado a ideia de transferir a capital do Estado para uma região próxima a Ouro Preto – proposta apresentada e derrubada durante a discussão da Constituição Estadual de 1989.

São fatos como tais que, do ponto de vista da História, não devem ser colocados de lado, especialmente por aqueles que tenham a responsabilidade de formam opinião.

Lúcio Albuquerque

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* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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