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Lucio Albuquerque

EURO TOURINHO: uma homenagem de amigos que trilharam o jornalismo com ele (2)


EURO TOURINHO: uma homenagem de amigos que trilharam o jornalismo com ele (2) - Gente de Opinião

Esta série é uma homenagem de jornalistas de várias gerações que trabalharam, em ocasiões diversas, com o diretor do Alto Madeira, jornalista Euro Tourinho. Quétila Ruiz é da safra jovem, que atuou no período final do AM, entre 2015 e 2017. Sílvio Santos, o Zé Catraca, atuou na época do chumbão ainda na redação da Barão do Rio Branco, e Rodrigo Pacheco da fase intermediária, quando o AM se mudou para a área ao lado do Hospital de Base. Cada um tem uma história, ou várias histórias para narrar, de sua convivência com Euro.

Lúcio Albuquerque, repórter, organizador. - Gente de Opinião
Lúcio Albuquerque, repórter, organizador.

A visão da experiência que vê além do fato

Com tudo o que seu Euro já havia presenciado nesta vida, as pessoas ao redor estavam sempre aprendendo, absorvendo algum conhecimento. Ele era frequentador assíduo do Mercado Central. Certo dia ele chegou cedo ao jornal e me perguntou: “Está com sua máquina aí? Você pode ir ali comigo?” Ele me levou até a parte lateral do Mercado Central.

Ali um casal, usuário de drogas, tinha feito uma cabana de compensado nas grades do ‘Prédio do Relógio’, e, além disso, haviam estendido roupas nas grades, calcinhas e cuecas. Ele disse: “Tire uma foto e escreva sobre isso”. E reforçou: “A gente sabe de toda a situação, mas isso é um local histórico, passam diversas famílias com crianças. As autoridades precisam fazer alguma coisa a respeito, inclusive prestando apoio a esse casal”.

“Eu já havia passado por ali, o casal já estava naquele local. Mas meus olhos, acostumados com o caminho, não prestaram atenção aos detalhes. Seu Euro, todos os dias tomando café no Mercado, não perdia os detalhes, atento e sempre observando tudo ao seu redor”.

Apesar da idade, sempre lúcido, sempre. Uma das lições para essa aprendiz de jornalista, ‘atenção aos detalhes’, da rotina, do caminho, da vida.

QUÉTILA RUIZ, jornalista  - Gente de Opinião
QUÉTILA RUIZ, jornalista

A coluna social “Eurly” do seu Euro Tourinho e o aprendiz de tipógrafo

Corria o ano de 1966 e por um fato que não tinha nada a ver comigo, fui dispensado da Sociedade de Cultura Rádio Caiairi, onde exercia as funções de Sonoplasta, Locutor e Discotecário.

Voltando no tempo! Comecei a trabalhar na imprensa de Porto Velho, no ano de 1958, no Jornal Alto Madeira como entregador de jornal, office-boy e aprendiz de tipógrafo.

Em 1960 fui contratado para exercer a função de sonoplasta e discotecário na Rádio Caiari, que entrou no ar no mês de julho daquele ano, depois passei a locutor apresentador de programa, funções que exerci até meado do ano de 1966,

Desempregado, consegui ser contratado pelo Jornal Alto Madeira desta feita, como tipógrafo. Na época a redação ficava à Rua Barão do Rio Branco, em frente à praça Jonathas Pedrosa. Logo de cara, no primeiro dia de serviço, o chefe da oficina me escalou para ‘COMPOR’ a Coluna Social Eurly escrita pelo seu Euro Tourinho. Era uma página de informações sociais e como a época, não existia clicheria em Porto Velho, a página era constituída praticamente só de notícias.

Eu estava há mais de seis anos, sem exercer a profissão de tipógrafo e mais, o corpo (tipo – letrinhas) era o CORPO 8.

Terminei de compor (juntar as letras), por volta das 17 horas, bati a “prova” e apresentei para o seu Euro corrigir.

Quando peguei a prova de volta, estava cheia de erros que deveriam ser corrigidos até as 18 horas.

Corrigindo os erros contidos na minha “composição”, em determinado momento, meu cotovelo esbarrou na “composição” quebrando parte do que estava pronto.

A remontagem atrasou deveras, e, também, a impressão do jornal naquele dia. Apesar do incidente seu Euro Tourinho,  talvez para me dar uma força, exigiu que eu continuasse compondo a sua coluna, dai em diante.

Desde então, passei a admirar a pessoa do seu Euro Tourinho que se tornou meu amigo e é meu amigo até os dias atuais.

ZÉ CATRACA, jornalista - Gente de Opinião
ZÉ CATRACA, jornalista

Lembranças de “seu” Euro 

O incansável jornalista manauara Lúcio Albuquerque, mas rondoniense de coração (e bota coração nisso), me pediu um texto sobre o saudoso Euro Tourinho, o mais prestigiado profissional da imprensa de Rondônia, proprietário e diretor do centenário e inesquecível Alto Madeira, onde tive a honra de fazer parte do corpo redacional por nove anos.

Ele me disse para esquecer as loas, que todos sabem enormemente merecidas, e buscar algo sobre a faceta do dia a dia do “seu” Euro, tarefa da qual vou procurar me desincumbir da melhor maneira possível, desde já pedindo desculpas por não ter aquela memória privilegiada de alguns que lembram os acontecimentos em seus mínimos detalhes.

Vamos lá.


O telex

Quando o jornal passou do endereço da Rua Barão do Rio Branco, no centro de Porto Velho, para a nova sede da Avenida Jorge Teixeira, nas proximidades do Hospital de Base, ele organizou a disposição das mesas na redação pessoalmente.

 No primeiro dia em que compareci para trabalhar, uma moça que fazia as vezes de arquivista de fotos e algum outro tipo de serviços gerais, me passou a determinação de que nenhuma mesa poderia ser trocada de lugar. Era de manhã cedo e só estávamos nós dois na redação. Eis que chegou um técnico da Embratel para instalar a máquina de telex (estamos falando do início dos anos 80), fonte de abastecimento das notícias nacionais e internacionais. 

O rapaz precisava de uma mesa, que deveria ser levada até o local onde tinha sido feita a instalação elétrica para aquela finalidade. Pedi à jovem secretária que mostrasse qual mesa poderia ser deslocada. Ela, com algum temor, nos disse que nenhuma estava disponível porque “seu” Euro havia dito que as mesas não poderiam ser deslocadas e não iria desobedecer a ordem dele. Sem a presença do diretor e não dispondo, na ocasião, dos meios instantâneos de comunicação atuais (celular, WhatsApp, etc e tal) criou-se um impasse.

O funcionário da Embratel disse que iria embora e que teríamos que agendar outra data para instalação do telex, o que provavelmente só seria possível dias depois. Resolvi, por minha conta e risco, pegar uma mesa qualquer e colocar nas proximidades da tomada específica, onde o equipamento foi instalado e começou a funcionar. Quando “seu” Euro chegou informei-o do ocorrido e ele simplesmente disse:

- Muito bem. Mostrou que tem iniciativa.

 

O herói 

Em determinado período do tempo em que trabalhei no Alto Madeira fiquei responsável pela edição da primeira página. Chegou-nos à informação do falecimento de Luís Carlos Prestes, militar e líder comunista, uma figura polêmica, mas, a meu ver, importante no contexto histórico brasileiro.

Fiz uma nota de capa, sem muito destaque, indicando em que página interna estava o noticiário completo do tema, coloquei uma foto dele e titulei da seguinte maneira: “Morreu um herói”.

Manhã seguinte, estava eu sentado à mesa que ocupava normalmente e, coincidentemente, tinha à minha frente o jornal (era meu costume, assim que chegava, ler a edição do dia todinha para verificar erros e avaliar o trabalho impresso). Estava revisando exatamente a primeira página.

“Seu” Euro chegou, muito sério. Ficou em pé na minha frente. Lançou-me um olhar duro e apenas apontou a chamada sobre Prestes, pousando um dedo firme em cima do título – “Morreu um herói”. Encarou-me mais uns momentos e, sem dizer palavra, saiu da redação, deixando-me com a absoluta certeza de que ele, sem dúvida, não considerava o ex-deputado do PCB merecedor de nenhuma homenagem.


O carro

Numa ocasião, acho que foi durante algum período eleitoral, trabalhamos até tarde e, na hora de encerrar o expediente, como eu ainda não tinha carro próprio, “seu” Euro me autorizou a usar um Fiat utilizado nas reportagens para ir embora. 

Chegando em casa, coloquei o veículo na garagem e fui repousar. No dia seguinte, para minha surpresa, constatei que não tinha deixado o carro com a marcha engrenada e também não tinha puxado o freio de mão totalmente, o que fez com que o automóvel fosse, ao longo da noite, deslizando devagarzinho até esbarrar no portão, onde ficou escorado até de manhã.

O resultado foi uma lanterna quebrada. Fui trabalhar com medo de relatar o ocorrido e em vez de falar diretamente com “seu” Euro procurei dona Adelice, gerente administrativa e quem cuidava da gente com amor filial. Ela disse que ia resolver. Além do jornal, o Grupo Tourinho tinha também a concessionária da Fiat, o que facilitou o conserto.

Porém, “seu” Euro, obviamente, ficou sabendo que o veículo da reportagem estava na oficina e quis saber o que havia acontecido. Me procurou e perguntou se tinha chegado em casa bem, estava tudo tranquilo e tinha devolvido o carro em ordem. Aí, não tive outro jeito a não ser abrir o jogo. Ele me disso, então, que já sabia e só não tinha gostado de uma coisa: porque levei o assunto a terceiros, sem procurá-lo diretamente.

Pedi desculpas, e me comprometi a pagar o serviço, obrigação da qual ele me dispensou.

Assim, essas são pequenas lembranças de um grande homem. Me veio à memória agora a figura dele, aos sábados, quando, não raras vezes, chegava na redação de bermuda, uma camiseta folgada e a inseparável máquina fotográfica pendurada no pescoço. Ficava por ali, conversava com um e outro, buscava saber como estava a edição dominical, escrevia algum texto e, depois de tudo pronto, chamava o pessoal para comer uma feijoada no Rondon Palace Hotel.

Por conta da casa, naturalmente.

 Rodrigo Bomfim Pacheco - Jornalista, bacharel em Direito e escritor - Gente de Opinião
Rodrigo Bomfim Pacheco - Jornalista, bacharel em Direito e escritor

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