Segunda-feira, 19 de dezembro de 2016 - 14h47
No último natal citei a Reverência ao Destino, de Drumond, uma provocação pra que cada um enxergasse a distância e a lógica entre o dizer e o fazer.
À época o povo brasileiro exigia moralidade na política elegendo como salvador da pátria o ex-deputado Eduardo Cunha, por autorizar motivado por vingança e com manobras ilegais a abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Não fazia sentido que a sociedade tivesse esperanças de ética na política aplaudindo a indecência do então presidente da Câmara e de todos os parlamentares que o apoiaram no impeachment sem crime.
A Procuradoria Geral da República tentou impedir que Cunha determinasse o passo do calvário de Dilma, mas a demora proposital o manteve no cargo. Muitos que com facilidade cobravam o fim da corrupção, elegeram Cunha como “bandido útil”.
Ele foi afastado da presidência duas semanas após o serviço sujo e o fim justificou os meios, sem registro de espasmo moral da parcela que usou panelas pra fazer barulho por um Brasil mais honesto.
Do poema que publiquei há um ano, destaco:
“Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.”
Hoje, duvido que alguém se convença que tenha valido a pena apoiar a chantagem como óleo lubrificante das engrenagens dos poderes.
O que restou foi esse natal mixuruca em esperança por um Brasil mais ético, mais justo, mais respeitado.
Dilma foi tirada do poder com alta impopularidade e não podia ser diferente, afinal, ela lutou contra a sabotagem do legislativo, a omissão/perseguição do judiciário e o terrorismo psicológico da grande mídia sobre as massas.
Temer teve tudo isso a seu favor e vira o ano sob a desconfiança de 72% dos entrevistados na última pesquisa Ibope.
No natal da desesperança nos serviremos da culpa.
Haverá enfeites, presentes, comes e bebes e abraços, mas com indisfarçável constrangimento pelo que foi prometido e não cumprido.
“Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.”
Nem quem lutou o ano inteiro em favor da legalidade e da democracia, ficará imune ao mal estar.
A incômoda verdade que une é a de que nos dividimos porque que uns querem ter mais escravizando outros.
Foi por mais direitos pra quem menos precisa que a maioria mandou às favas os escrúpulos de consciência.
O Brasil que dobra a esquina de um ano para outro é menos justo, torna os pobres mais invisíveis nas políticas de estado e isso nada tem a ver com os mandamentos cristãos tão exaltados no natal.
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