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Liliane Melo

Entendendo alguns termos utilizados no autismo – Por Liliane Melo


Entendendo alguns termos utilizados no autismo – Por Liliane Melo - Gente de Opinião 
Durante bastante tempo convivi com meu filho Matheus fazendo exatamente isso

No artigo desta semana resolvi facilitar, pelo menos um pouquinho, as dificuldades enfrentadas por muitos pais quando descobrem que seu filho foi diagnosticado com autismo. Termos que nunca ouviu falar antes passam a fazer parte de seu cotidiano. Muitas vezes os pais ficam perdidos quando conversam com os especialistas que utilizam alguns termos que para eles são habituais e você fica boiando, literalmente.

Autismo? Muitos ouvem falar mas na realidade não sabem exatamente o que é, como a grande parte da sociedade – claro – até receber o diagnóstico e passar a estudar sobre isso. Um mundo que parece estar alheio a você ou você a ele.

Sites, blogs, matérias, estudos, depoimentos... informações não faltam... umas coerentes, outras não... mas o mundo é assim! E é justamente neste momento que você lê tudo o que aparece em sua frente numa busca intensa por possibilidades.

Da mesma forma que iniciei tentando ajudar pais, que como eu, se sentem ou já se sentiram perdidos, meu intuito é continuar nessa linha... posso falhar, mas com a única intenção de propiciar conhecimento, alento, esperança.

Então como há muito tempo tenho essa fome incessante de buscar mais e mais informações me deparei com o site: comunicandodireito.com.br e para minha surpresa encontrei o “Dicionário Autista” e quero compartilhá-lo com vocês!

Autismo:

No Brasil, assim como em 114 outros países, se utiliza a CID – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde – lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O autismo, na CID 10 (versão atual), é classificado no capítulo F.84 dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, ao lado de outros como a Síndrome de Asperger. Para a CID, o autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento.

Já os Estados Unidos utilizam o DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais) que, em sua última versão (V), lançou o termo “Transtorno do Espectro do Autismo” para designar tanto o autismo quanto outros transtornos como a Síndrome de Asperger, que não é mais considerada como um diagnóstico separado. No DSM o autismo é classificado por níveis (1, 2 e 3), de acordo com as características apresentadas, e pode ser chamado simplesmente de leve, moderado e severo.

Autismo na neurodiversidade:

Autismo é uma condição da neurodiversidade humana, uma forma diferente do cérebro processar as informações, principalmente as que estão relacionadas com o sistema sensorial (visão, tato, audição, paladar, olfato, sistema vestibular e proprioceptivo). Não se sabe qual é (ou quais são) a causa do autismo e sim suas consequências: um cérebro que possui um número de sinapses muito maior do que uma pessoa não autista, uma deficiência nos fatores neurotróficos e no processamento das informações sensoriais que, por sua vez, podem causar déficits na interação social e na comunicação e um padrão de comportamentos repetitivos e interesses restritos. Como cada autista é um indivíduo, esses déficits variam de uma pessoa para a outra. Não existem pessoas mais ou menos autistas, existem indivíduos com suas particularidades.Entendendo alguns termos utilizados no autismo – Por Liliane Melo - Gente de Opinião

Capacitismo:

É o preconceito contra pessoas com deficiência. Em nosso sistema social e político, existe a ideia de que pessoas devam ser hierarquizadas de acordo com o funcionamento dos corpos, do modelo de beleza vigente, do gênero, da raça, da orientação sexual. No caso do capacitismo, o (pré)conceito dominante é que pessoas com deficiência são incapazes (de trabalhar, de estudar, de manterem relacionamentos amorosos) e, por isso, dependentes das pessoas ditas “capazes. Elas valem “menos” do que as ditas “normais”. O capacitismo se expressa de diversas formas, de “piadas” até a negação absoluta dos direitos das pessoas com deficiência.

Cognitivo:

Processo cerebral de entendimento ou conhecimento. Habilidades cognitivas incluem pensar, analisar e compreender a informação.


Deficiência:

Para a psiquiatria, a deficiência é uma insuficiência psíquica ou intelectual.
 

Deficiência para a neurodiversidade:

A deficiência é o resultado da interação do indivíduo com o ambiente que o cerca. De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) em seu artigo 2, “Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.”

Atenção: Não se usam os termos “criança especial”, “portador de necessidades especiais”, “portador de autismo”, etc. Pela lei – definida de acordo com o resultado da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas Com Deficiência – o termo correto é Criança com Deficiência ou Pessoa com Deficiência. Ainda existe um grande debate entre as pessoas com deficiência em relação ao deficiente x com deficiência e vem predominando, no Brasil, a preferência na utilização do termo pessoa autista e não pessoa com autismo.

Ecolalia:

É uma repetição da fala, podendo ser a última palavra dita ou até a frase inteira. De acordo com autistas, o uso da ecolalia auxilia no entendimento da comunicação falada e na organização do pensamento para uma resposta mais adequada.

Estereotipia:

Movimentos repetitivos realizados por autistas com a finalidade de se autoestimularem sensorialmente. Os movimentos mais comuns são o balançar as mãos (flapping), pular, girar, alinhar objetos de acordo com um padrão determinado, usar de ecolalia na fala. Até pouco tempo atrás a psiquiatria considerava esses movimentos inadequados e, por meio de terapias comportamentais como ABBA tentaram eliminá-los, mas as evidências científicas e o depoimento de diversos autistas vêm demonstrando que os movimentos – que não são controláveis pelo autista – são necessários para sua autorregulação e retirá-los causam prejuízos graves.

Estereotipia na Neurodiversidade:

Chamados de stims ou stimming pelosautistas estadunidenses, além de serem movimentos autorregulatórios são também uma forma de expressão e comunicação. Pessoas não autistas também utilizam stims como tamborilar os dedos ou balançar as pernas em situação de excitação ou stress.

Psicofobia:

Semelhante ao capacitismo, a psicofobia é o preconceito com pessoas que tenham alguma deficiência mental. É um dos preconceitos mais enraizados e naturalizados em nosso dia a dia. Quando queremos falar que alguém é mau caráter, ruim, usualmente utilizamos termos ligados aos transtornos ou deficiências mentais. Por outro lado, alguns transtornos mentais são invisibilizados e considerados como uma escolha da pessoa, não como uma deficiência que demanda apoio e respeito.

Neurodiversidade:

É um conceito que defende as diferenças neurológicas como sendo parte da diversidade humana e assim devem ser reconhecidas e respeitadas. Para muitas pessoas autistas, o autismo é uma condição, não um transtorno ou uma doença a ser tratada. Não se trata o autismo, busca-se promover a derrubada das barreiras físicas e atitudinais existentes no ambiente, oferecendo as ferramentas necessárias para que as pessoas autistas possam usufruir de seus direitos e viverem como autistas que são, sem precisarem se “adequar” a um conceito único de padrão neuronal.

Síndrome de Asperger:

Pela CID 10 a síndrome é caracterizada por uma alteração qualitativa nas interações sociais, semelhante ao autismo. Para o DSM, como disse acima, o diagnóstico da Síndrome foi descartado.

Síndrome de Asperger na Neurodiversidade:

Hans Asperger, pesquisador e psiquiatra austríaco, foi o primeiro a descrever a síndrome, quase que ao mesmo tempo que Leo Kanner, seu colega de faculdade, radicado nos Estados Unidos, descreveu o autismo infantil. Ambos pesquisavam a mesma coisa, mas com olhares diferentes: Asperger via seus pacientes como “pequenos mestres” e os estimulava a desenvolver suas habilidades, enquanto Kanner era adepto da internação e medicalização.
Asperger foi o termo cunhado para as pessoas que apresentavam, aparentemente, um autismo “mais leve”.

Sistema Vestibular:

É o conjunto de órgãos do ouvido interno responsável pelo nosso equilíbrio.
 

Terapia de Integração Sensorial:

Muitas crianças autistas (e também não autistas) apresentam o transtorno do processamento sensorial. Existe uma grande variedade nas experiências sensoriais e no grau de intensidade dessas experiências, portanto o terapeuta ocupacional deve estar atento àquela criança e não em uma fórmula qualquer. A terapia de integração sensorial busca, por meio de brincadeiras exploratórias e interação social, auxiliar a organização cerebral para processar de forma mais eficiente as informações sensoriais e apresentar respostas apropriadas ao conjunto de estímulos.

Transtorno do Processamento Sensorial:

O cérebro de quem tem transtorno do processamento sensorial processa as informações sensoriais de uma forma diferente dos chamados “neurotípicos”. Não é comportamental, é neuronal. Existem crianças que não suportam barulhos ou atividades em que tenham que se sujar – são aquelas que evitam sensações por terem hipersensibilidade sensorial) e as que buscam sensações sensoriais a maior parte do tempo.

Creio que devem existir muitos outros termos, além dos que foram apontados neste artigo e estou aberta a sugestões. Se você leitor (a) tem uma história de superação e luta em relação ao TEA também pode dar a sua contribuição nesta coluna, que tem por único objetivo partilhar experiências e desfazer rótulos, fazendo com que as pessoas entendam o autismo! Na realidade nascemos para sermos incríveis, não perfeitos!

Caso queira enviar sugestões pode entrar em contato comigo
através do e-mail: [email protected] - até o próximo!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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