Sexta-feira, 25 de outubro de 2013 - 13h40
GABRIEL NOVIS NEVES
De Cuiabá
É comum receber reclamações de amigos da minha faixa etária queixando-se que, atualmente, falta-lhes tempo para tudo. Uma colega espirituosa inventou que acorda com várias vassouras, simulando o excesso de trabalho que irá enfrentar no decorrer do dia.
Nessas ocasiões, lembro-me muito da minha mãe. Ela dizia, quando a visitava, que não tinha tempo para nada, do alto os seus noventa e dois anos de idade. Acordava sem sono de madrugada e, no final do dia, não conseguia cumprir nem metade das suas tarefas programadas. Tentava acalmá-la dizendo ser essa atividade um excelente sinal de vitalidade e saúde.
São certas pessoas que, apesar da idade avançada, já na marca do pênalti, não perderam o sentido belo da vida. Elas, quando saem para um restaurante, procuram os que já conhecem e tomam o cuidado de reservar a mesa predileta para não ficar na fila de espera, coisa insuportável para um idoso elegante.
Geralmente assistem a filmes quando a crítica é favorável, pois não têm mais tempo para experiências desastrosas. Procuram sempre o certo para evitar o retorno a casa com o sabor do “não valeu à pena”.
Gosto muito das pessoas ocupadas, pois estas não estão mais disponíveis a viver experiências novas e enriquecedoras. Perder tempo é para os jovens.
O idoso sabe daquilo que gosta e até aprecia mais os prazeres juvenis. A única diferença existente entre o jovem e o idoso é que este não tem mais tempo para desperdiçar.
Nas viagens, preferem algumas cidades já bastante conhecidas. No meu caso, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Fico sempre nos mesmos hotéis, procuro os mesmos restaurantes, a mesma mesa, o mesmo prato e de preferência o garçom de sempre.
Estamos na fase em que não há mais tempo para perder com bobagens, e jogar a falta de tempo nas costas da solidão. “Tempo disso, tempo daquilo, falta o tempo de nada”. Carlos Drummond de Andrade.
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