Segunda-feira, 2 de dezembro de 2013 - 14h39
GABRIEL NOVIS NEVES
De Cuiabá
É possível transformar, através de decreto, a vocação de uma cidade de quase trezentos anos apagando toda sua história e tradição? Esse é o presente que recebi ao ler que a nossa querida Cuiabá não será mais a cidade dos fundadores desta civilização, responsáveis em parte pela conquista da Amazônia, dos poetas, escritores, historiadores, estadistas, de uma gente generosa e estudiosa.
Abandonada pelo poder público por séculos conseguiu sobreviver e, hoje, é o maior centro universitário do Estado e referência de saúde de alta complexidade. O seu passado de “Cidade Agarrativa e Linda” será ignorado pelas futuras gerações?
Aliás, de há muito este trabalho de descaracterização e de desvalorização da nossa Cuiabá vem sendo realizado.Há poucos dias, ao receber a visita de um famoso historiador brasileiro especializado no estudo da República, e, ao saber que Deodoro morou aqui, procurou o casarão da sua hospedagem e não encontrou nada que indicasse a sua presença nesta cidade.
Eu assisti ao único Presidente da República, o cuiabano Eurico Gaspar Dutra, descerrar a placa da falsa casa onde nasceu. Onde está essa placa? Além do Dutrinha (pequeno estádio de futebol), não encontro outro marco da presença do cuiabano ilustre em sua cidade natal.
Cuiabá, ou melhor, nossas autoridades nunca zelaram pela nossa memória histórica. Já não somos mais Cidade Verde. Agora, por decreto, seremos a cidade do agronegócio.
A igreja de São Benedito com certeza será transformada em um armazém de soja. A Catedral, de milho. Todas as outras serão utilizadas para armazenar os produtos do agronegócio que produzirão o nosso crescimento, que nem sempre é benigno.
Em medicina, as células em crescimento desordenado são transformadas em tumores malignos, causando a morte destes pacientes.
Uma cidade que cresce sem passado será apenas um centro de negócios lucrativos para alguns empresários. Cuiabá precisa, e muito, de desenvolvimento social, que se faz com vontade política. É importante respeitar o nosso passado que não mais nos pertence, mas que não pode ser ignorado.
O presente é um momento para procura do futuro sustentável. Nesse crescimento e transformação de Cuiabá para capital do agronegócio, nenhuma palavra foi dita sobre investimento padrão FIFA para a educação e saúde.
Um povo imbecilizado jamais entenderá o que é um legado de dívidas.
Retomar o crescimento econômico sim, mas com prioridade em educação e saúde.
Essa é a cidade que sonhamos para nossos filhos, netos e bisnetos. Desenvolvimento com crescimento.
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