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Luka Ribeiro

ROTINAS EXTRABANCÁRIAS – MEMÓRIAS II



                     Felipe Azzi
 

                As manhãs da Amazônia, herdando o calor das noites e das madrugadas, geralmente começam já quentes, incentivando certo cansaço desmotivador, conhecido como preguiça matinal. Era duro, para nós, bancários por vocação solteira de escolha, acordar cedo para enfrentar a faina diária.

                Certa vez, vínhamos, Salazar e eu, caminhando para o Banco, jogando conversa ao vento, premidos pela necessidade de chegar ma hora para a jornada de trabalho. Ao virarmos a esquina das casas Pernambucanas, cujo prédio era contíguo à Agência do banco da Amazônia, encontramos Ayrton e o Inspetor Nestor Arnaud, à porta do Banco, conversando sobre costumes pessoais e destemperos de apetite. Ao ver Salazar, Ayrton, de imediato, virando-se para o inspetor, disse;

                 – Como eu estava dizendo... Há pessoas com apetite voraz... Que comem por gostar de comer!... Veja o Salazar, por exemplo, não pode ver uma feijoada... Come mesmo, e não é pouco...

                Nisso, foi interrompido por Salazar, que retrucou áspero:

                – Ayrton, que conversa é essa?  Quem te disse que eu como feijoada?

                Ayrton engatando uma “primeira” na conversa, asseverou:

                – Ora, quem me disse, ninguém! Eu vi você na casa de dona Filó... Tá lembrado?

                Os noventa quilos de Salazar soltaram fumaça pelos flancos, com uma admoestação carregada de feijão preto, defumados e charque em imaginário caldeirão em efervescência, desse modo:

                – Você está louco, cara... Ou então está com ressaca braba. Eu nem gosto de feijoada!... Saiba que, quando menino, tive um empanzinamento com essa comida. De lá para cá, nunca mais comi isso.

                Ayrton, sem dar tréguas, bloqueou as explicações de Salazar, vociferando:

                – Que empanzinamento, que nada... Você gosta mesmo e come... E come muito!

                Ignorando a presença do inspetor, começaram os dois uma altercação com afirmações jogadas ao ar, como um gramatical pingue pongue, dizendo, ora um, ora outro: “COME!” “NÃO COMO!” “COME!” “NÃO COMO!”  Nestor Arnaud, com cara de “ “SIÁ MARIQUINHA CADÊ O FRADE?”, levantou-se, adentrando ao Banco, pois o expediente estava prestes a começar. Mas, ainda ouviu o ultimato de Salazar sobre o incidente:

                – Ayrton, quando você tiver suas estórias pra contar, por favor, não me meta nelas!

                Até hoje não se sabe, porque cargas d’água Ayrton montou essa conversação escalafobética com o inspetor Arnaud, evolvendo o colega Salazar.

                Sebastião Salazar e Ayrton Macedo Maia, amigos que recordo com apreço, sempre foram titulares da equipe de gozadores do Basa. Salazar logo migrou para Belém do Pará, onde ainda vive. Quanto a Ayrton, juntos caminhamos na carreira bancária, primeiro em Guajará, depois em Goiânia e, finalmente, em Londrina, onde, já aposentado, veio a falecer em 1989.

                Costumo comentar com amigos mais recentes que a Amazônia, além do lendário canto do UIRAPURU, tem estórias de fatos e de pessoas que impressionam pela alegria, sutileza e inocente sagacidade de seus personagens. Guajará-Mirim, minha terra natal, certamente é um dos arquivos que guardam relatos de interessantes “sucedidos” capazes de abrir o cofre de gargalhadas do mais casmurro soviético.

                Paulo Cordeiro Saldanha, escritor nativo e membro das academias de Letras de Rondônia e de Guajará-Mirim, já trouxe a lume muitos desses episódios, em crônicas esparsas e também reunidas em sua obra “PROSA QUE DESEMBOCA EM SAUDADE”. Quem gosta do gênero, é só conferir.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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