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Carlos Henrique

blog do cha - Pesadelo


 
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Carlos Henrique Angelo
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Pesadelo

É incrível como alguns episódios ainda me surpreendem, embora já devesse estar mais bem adaptado, tamanha a incidência.

Em exemplo aconteceu na última semana. Precisei comprar “O Estadão” para ver um edital. Fui no final da tarde à banca de revistas, aquela da Carlos Gomes, onde funciona uma livraria e um excelente “sebo” ao qual visito com freqüência, sempre tratado com absoluta cordialidade e atenção.
 
Dei uma olhada nos títulos dos livros, comprei uma barra de chocolate e, como estava na companhia de minha filha adolescente, pedi dois sorvetes de casquinha. Já estava de saída quando lembrei do jornal. Voltei e pedi um, pagando com uma nota de R$ 5. Verifiquei que a moça, que estava passando um pano no chão e parou para me atender, deu-me apenas R$ 2 de troco e voltou à limpeza.

Como o preço de capa do jornal é R$ 1,25, reclamei que o troco estava errado. A mocinha ergueu os olhos e explicou que custa R$ 3 a edição de dias anteriores do jornal.

- Mas esse jornal é de hoje, eu disse, em tom mais alto, já que a moça estava distante mais ou menos uns seis metros, confundindo-se com outros fregueses, sem me dedicar maior atenção.
 
- Calma, senhor Carlos, qual o problema? – perguntou a funcionária que normalmente ocupa o caixa, voltando a ocupar seu lugar.
 
Expliquei o que estava ocorrendo, enquanto outros fregueses já formavam uma fila no caixa e me olhavam com ar reprovador. Meu sorvete de casquinha começava a pingar e minha filha já ensaiava um já angustiado - “Vamos embora, pai!”!
 
A mocinha que inicialmente cobrara R$ 3 pelo exemplar do jornal gritou então com raiva para a outra, do caixa: - Devolve R$ 3 a esse velho pão-duro. Pode debitar prá mim!
 
A situação complicou-se enquanto eu tentava explicar que não queria isso, mas apenas R$ 1,75 cobrado a mais pelo jornal que continuava a ser “do dia”, embora estivéssemos quase à noite.
 
Um sujeito, na fila do caixa, ofereceu-se para pagar pelo jornal: - “Deixa que eu pago, tio!" – para minha irritação.
 
- Vamos logo, pai. Deixa isso prá lá. A garota tá chorando! Olha o mico! – implorou minha filha, levando-me ao desespero.
 
- Pena que não seja de vergonha! - Reagi, ao mesmo tempo em que dizia ao sujeito da fila que não se metesse. Recolhi as moedas que me foram devolvidas no caixa, peguei o jornal, o chocolate e já estava para sair quando o sorvete desabou no chão lambrecando o chão e espirando nos pés de uma senhora gorda, que já antes disso exibia sua irritação.
 
Consegui cruzar a Carlos Gomes em direção à parada de ônibus próxima ao Bradesco. Foi quando percebi que estava muito estranha toda aquela história. Primeiro: eu recebo o jornal em casa, diariamente, não precisaria comprar na banca. Outra coisa: minha filha estuda em Juiz de Fora - Minas. Não poderia estar em Porto Velho. E mais: não existe parada de ônibus perto do Bradesco da Carlos Gomes e eu não sou usuário do transporte coletivo.
 
Foi quando acordei. Era um incrível pesadelo.
 
Que triste realidade esta nossa, que transforma em pesadelo a defesa de um simples direito. Irrisório mas, ainda assim, um direito.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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