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Antônio de Almeida

TEMPO PARA TUDO: TEMPO PARA CRIAR E TEMPO PARA BENEFICIAR


TEMPO PARA TUDO: TEMPO PARA CRIAR E TEMPO PARA BENEFICIAR - Gente de Opinião

                                                                                                                                                                                   

O tempo é realmente o “senhor da razão” e sempre foi e continuará sendo o melhor contador de histórias: daquelas que deixam saudades, que fazem muita falta e nos fazem analisar, refletir e concluir que o trabalho materializa épocas, consagra ideias e não resta outra saída senão o de tentar repetir tudo outra vez.

 

                Como tudo começou? Com a advento dos primeiros trabalhos de pesca e piscicultura, no então Território Federal de Rondônia, nos idos de 1978, através da ASTER-RO, hoje EMATER-RO, uma equipe de cinco (5) Engenheiros de Pesca se emprenharam nas trilhas das Comunidades Pesqueiras Tradicionais ribeirinhas e navegaram dias e noites nos principais rios e tributários da bacia hidrográfica do então Território Federal, com o objetivo de prestar assistência aos principais pescadores da região, nos aspectos técnicos e sociais.

            Por um lado, um equipe composta por profissionais Engenheiros de Pesca, recém graduados e contratados pela então ASTER-RO, através do então Governo do Território Federal de Rondônia, egressos da UFC, do estado do Ceará, enquanto, por outro, uma equipe de assistentes sociais faziam os atendimentos as esposas e aos familiares dos pescadores ribeirinhos.

            Durante muitos anos, desenvolveu-se um trabalho em dotar as principais comunidades pesqueiras ribeirinhas de Rondônia de um Sistema de Infraestrutura, sob o título de: “Unidades Produtivas Comunitárias para Processamento de Pescado, compostas por: i) Salgadeira Artesanal; ii) Mesas para Beneficiamento do Pescado; iii) Tanques-de-cura; iv) Secador Solar; v) Defumador Metálico Indireto; vi) Defumador de Alvenaria Indireto; vii) Estendais e seguidos de centenas de Cursos de Tecnologia do Pescado, sob os títulos de: Conservação e Beneficiamento do Pescado; Aproveitamento Artesanal de Desperdícios do Pescado e Culinária Regional à Base de Pescado.

            Estas Unidades Produtivas foram instaladas nos seguintes municípios:

·         PORTO VELHO: Na então Cachoeira do Teotônio, junto à Comunidade Pesqueira de Jatuarana, e no então Lago do Cuniã, hoje Reserva Extrativista Lago do Cuniã – CNPT-RO/IBAMA-RO, hoje ICMbio;

·         GUAJARÁ MIRIM: Distrito de Surpresa, em parceria com o IBAMA-RO/CNPT-RO.

 

Durante vários anos foram desenvolvidos dezenas de significativos Cursos de Qualificação Técnica — trabalhos de tecnologia do pescado, tendo como objetivo capacitar um contingente de pescadores e familiares sobre as técnicas de beneficiamento e conservação do pescado — tudo isso impulsionado pela excessiva oferta de pescado proveniente de nossos rios e tributários e a fim de oferecer as famílias de pescadores ribeirinhos, residentes em comunidades isoladas, sem energia elétrica e sem infraestrutura para beneficiar sua produção de pescado, tecnologia de pesca, do pescado e gerencial para verticalizar e conservar sua produção diária de pescado a fim de conservar por longos períodos.

 

Hoje, decorridos 40 anos, aquela fartura de peixes, quando capturávamos peixes com as mãos e até com o chapéu, nos rios e tributários de Rondônia não existem mais, tudo passou e tudo acabou. E, agora, você?

Parafraseando o velho Drummond de Andrade: e, agora, João? O rio ainda existe, e o peixe onde está? Com o anzol na mão, quer pescar o peixe, mais o peixe não há. E, agora, João?

Agora, o quadro se inverteu e os peixes de nossos rios sumiram, vítimas da pesca predatória e do próprio tempo que se encarregou em dizimar os estoques pesqueiros que nadavam contra as correntezas em busca de alimento e de se defender de densos cardumes de peixes carnívoros e de atividades antrópicas que também contribuíram para que tudo isto ocorresse.

 

Com o surgimento e o desenvolvimento da atividade da piscicultura, em nível estadual, o estado de Rondônia se transformou no segundo maior polo produtor e exportador de pescado do Brasil, e, assim, atingindo o topo da produção de pescado como o maior produtor mundial de tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818) e de pirarucu (Arapaima gigas, SHINZ), uma posição de destaque que enche de orgulho o setor primário e a nossa atividade aquícola.



“Com o anzol na mão e peixes não hão”.

 

Desde que se iniciaram os primeiros trabalhos de pesca e aquicultura no então Território Federal de Rondônia e, depois, no atual estado de Rondônia, que diagnósticos e prognósticos e demais relatórios foram feitos e revelados sobre vários aspectos, obedecendo  necessariamente esta ordem:

 

PRIMEIRO DIAGNÓSTICO: Em 1978, com o início dos trabalhos de piscicultura em Rondônia, afirmou-se que no prazo de até 20 anos 60% dos igarapés do então Território Federal de Rondônia estariam mortos, vítimas do desmatamento  ciliar, das queimadas e de construção de diques e de barragens em locais impróprios. Este texto foi inserido no Diagnóstico Ambiental da Pesca, Piscicultura e Extrativismo de Rondônia.

 

CONSTATAÇÃO: Se fossem realizados diagnósticos ambientais criteriosos para se detectar os verdadeiros motivos da morte de nascentes e de igarapés em toda malha hidrográfica do estado de Rondônia — com certeza, cerca de 70 a 80% já não mais existem, tendo como responsáveis diretos:

·         o próprio Governo do Estado que facilitou a implementação de centenas de pequenos e médios projetos de piscicultura, em desacordo com a legislação ambiental vigente, a fim de facilitar a situação dos eleitores, em diversos níveis;

 

·         os proprietários de terras, os agricultores e os piscicultores que não vem cumprindo seus compromissos ambientais e vem atuando na contramão dos dispositivos constitucionais ambientais, com os Relatórios de Monitoramento Ambientais (RMA) vencidos e com Licenças Ambientais não renovadas;

·         a omissão de determinada Empresa de Consultoria e de prestadores de assistência técnica que só se preocupam em lucros imediatos e acabam por deixarem  sempre seus clientes a ver navios;

 

·         o descaso do poder público — aí estão inclusos os poderes municipal, estadual e federal  em não cobrar com maior rigor os monitoramentos dos licenciamentos ambientais, em todos os níveis das atividades primários e, em especial, daquelas que se utilizam dos recursos hídricos;

 

·         A negligência do Governo Estadual que tem a incumbência em prestação de ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural em piscicultura, através da EMATER-RO, e por falta de pessoal, em quantidade e em qualidade, se omite ou faz de conta que faz e — quando presta a demandada assistência técnica —, não atende plenamente as necessidades que a atividade aquícola requer.

Seria como dotar os hospitais do Estado de profissionais com formação em Enfermagem para responder como médicos no atendimento dos pacientes.   

 

SEGUNDO DIAGNÓSTICO: Em 1991, quando da elaboração e publicação do Sistema de Produção para Criação de Tambaqui no Estado de Rondônia, se afirmou que o estado de Rondônia tem uma verdadeira inclinação para a piscicultura e tem tudo para se tornar o maior polo produtor e exportador de pescado do Brasil.

 

CONSTATAÇÃO: Após 27 anos desta afirmação, o estado de Rondônia se transformou no maior produtor de pirarucu (Arapaima gigas, SHINZ, 1822) e tambaqui (Colosssoma macropomum, Cuvier, 1818) mundial, e o segundo maior produtor de pescado no ranking nacional, com uma produção em torno de 90 mil toneladas de pescado, safra 2016/2017, de acordo com projeções do Governo.

 

 

 

 

RONDÔNIA URGENTE



Contingente de piscicultores e interessados que se 

qualificaram em aquicultura em Rondônia.

 

O estado de Rondônia se ressente de um trabalho voltado para a qualificação profissional, no âmbito da tecnologia do pescado, capaz de levar tecnologia do pescado para o setor produtivo aquícola, em nível Estadual.

 

Neste sentido, estamos trabalhando para oferecer alternativas tecnológicas em todos os níveis, municipal, estadual e federal e, assim, oferecer uma gama de tecnologia pesqueira, do pescado, aquícola e gerencial, a curto e médio prazos, para que o setor produtivo pesqueiro possa dispor de alternativas múltiplas para:

 

·         estimular e viabilizar a implementação de agroindústria para beneficiamento e conservação do pescado, em nível da propriedades rurais e de fazendas aquícolas;

 

·         promover a qualificação técnica em beneficiamento, salga, secagem e defumação do pescado e, assim, viabilizar a verticalização do pescado;

 

·         dotar as propriedades rurais e aquícolas de infraestrutura para desenvolver a verticalização da produção de pescado, com maior aproveitamento de matéria prima e incremento na receita líquida familiar;

·          oferta de proteína de pescado à população — no sistema de pescado beneficiado, nos moldes peixe sem espinha, picadinho de pescado e introdução desta proteína na merenda escolar;

 

·         aproveitamento de desperdícios para o fabrico de ração para pescado e outros animais;

·          incentivar o consumo de pescado, em nível regional e nacional;

 

·         agregar valor ao produto e oferecer maiores receitas para o piscicultor.

 

CONSTATAÇÃO: É difícil para todos nós profissionais que deram os primeiros passos na piscicultura em Rondônia se constatar que:


Elo da corrente mais frágil.

 

·         de todos os elos da corrente que compõem a atividade da piscicultura em Rondônia a figura do piscicultor — é na verdade o ELO DA CORRENTE mais frágil,  e é aquele que mais trabalha e é o mais fragilizado e é o que menos é remunerado;

 

·         quem está criando peixe no estado de Rondônia não tem o domínio sobre as técnicas de conservação do pescado;

                                                                                                                                                                        

Tambaqui sem espinha.

 

·         quem produz o pescado em Rondônia não dispõe de infraestrutura técnica para beneficiamento e conservação do pescado;

 

·         quem produz o pescado em Rondônia está nas mãos dos intermediários e estes últimos são beneficiados com o maior percentual do lucro da produção;

 

·         que o Estado na condição de um péssimo gestor da coisa pública não oferece meios para mudar o atual quadro de penúria e esta situação tende a se agravar, continuamente;

 

·         que a EMATER-RO, agora como autarquia governamental e o braço direito do Governo de Rondônia junto aos serviços de ATER — único órgão responsável pela extensão rural e prestadora de serviços de extensão aquícola – assistência técnica sobre piscicultura, nos 52 municípios de Rondônia — que desenvolvem a atividade de criação de peixes, não dispõe de profissionais com formação em Engenharia de Pesca em número suficientes para atender a demanda insatisfeita por tecnologia de ponta — adequada e em níveis satisfatórios para suprir as necessidades dos setores produtivos;

 

·         que um significativo contingente de profissionais graduados  em Engenharia de Pesca, egressos da Fundação Universidade Federal de Rondônia — UNIR, em torno de 30 EP, aptos e ociosos, poderiam ser contratados através do Novo Governo que se instala a partir de primeiro de janeiro de 2019, a fim de suprirem as necessidades prementes em todos os 96 Escritórios da EMATER-RO, em operação em todos os municípios e principais Distritos de Rondônia, através de um Edital Emergencial, a exemplo do + MAIS MÉDICO, que está ocorrendo em nível nacional.


                                                                                                                                                                

Em termos comparativos, a importância das proteínas do pescado se equiparam a de outros produtos de origem animal, no que tange a aminoácidos, além de conterem todos os que são considerados essenciais, a exemplo da valina, alanina, lisina, isoleucina, metionina, treonina, triptofano, histinina, fenilalanina e leucina.


PAPEL DO PESCADO NA DIETA HUMANA



Culinária regional à base de tambaqui na brasa.

 

Quando se refere aos componentes químicos do pescado, lembra-nos o alto valor biológico de suas proteínas.  Apesar de conhecermos os constituintes mais importantes encontrados no alimento, provenientes do músculo do pescado, pode-se, também, citar outros elementos de menores importâncias, porém, vitais para uma boa alimentação, tais como:

Como produto rico em sais minerais, vitaminas e gorduras, o pescado é considerado como alimento de alto valor nutritivo para as diversas fases da vida, passando pela infância, adolescência, maturidade e a velhice. 

Antônio de Almeida Sobrinho prestou consultoria técnica junto aos seguintes organismos nacional e internacional:

·         CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico — de 1998 a 2000, na condição de Consultor DTI, junto ao Governo do Estado de Rondônia e responsável técnico por difusão de tecnologia do pescado, em nível Estadual;

·         PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento — de 2000 a 2002, na condição de Consultor Técnico, junto ao CNPT/IBAMA, com relevantes serviços prestados a vários estados da Região Norte, com destaques para Rondônia, Acre e Amazonas.

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Antônio de Almeida Sobrinho é graduado em Engenharia de Pesca (UFC-CE); Pós-Graduação em Tecnologia do Pescado (Lato sensu) pela  (FAO/UFRPE e MAPA); Pós-Graduação (Lato sensu) em Análise Ambiental na Amazônia Brasileira pela (UNIR/CREARO); Pós-Graduação (Lato sensu) em Metodologia do Ensino Superior – UCAM-MG (Conclusão) e tem Pós-Graduação (Stricto sensu), em nível de Mestrado, em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela (UNIR).


BLOG ESPINHA NA GARGANTA. 

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