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Anísio Gorayeb

JOÁ PALACE HOTEL




No mês de janeiro de 1953 é inaugurado na nossa cidade o Porto Velho Hotel, que juntamente com o prédio do Palácio do Governo, compõe sem dúvida o mais belo cartão postal do centro histórico da cidade de Porto Velho. O mesmo felizmente conserva suas mesmas características. O hotel encerrou suas atividades em 1969. Depois funcionou no prédio o Palácio das Secretarias, e finalmente a Universidade de Rondônia, hoje conhecido como UNIR Centro.

Seu primeiro gerente foi o Sr. Henrique Valente (1953/1961). Em seguida foi administrado pelo Sr. Nelson Townes de Castro (1962/1963). No ano de 1964, Dona Nilce Lins Guimarães passa a administrar o hotel, e permaneceu à frente dele até o final de suas atividades. Com uma visão moderna e grandes idéias, D. Nilce inova ao criar no hotel a famosa Varanda Tropical. Mandou buscar as sombrinhas de mesas (guarda-sol), que havia conhecido nos hotéis do Rio de Janeiro. Trouxe também taças de alumínio para servir sorvetes com caldas, até então novidade por aqui. Era muito charmoso tomar um drinque ou saborear um sorvete na Varanda Tropical. Seu passo seguinte foi criar a primeira boate para os mais jovens se divertirem. Em um dos cômodos do hotel, foi criada a boate Ambikatu. A mesma era decorada com temas indígenas para combinar com o nome. A boate durou pouco tempo, tanto é que pouca gente lembra dela. 

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D. Nilce e Joá na Ambikatu. (Foto: Arquivo de família)

Quando o hotel fechou, Dona Nilce e o esposo, Nélio Guimarães, oficial militar da extinta Guarda Territorial, juntaram as economias e adquiriram um imóvel residencial, que pertencia ao Sr. José Saleh Moreb, situado na Rua José de Alencar, entre as ruas Carlos Gomes e Duque de Caxias. Não querendo mudar de ramo, o casal inaugura em poucos meses, aquele que seria o menor hotel que Porto Velho já teve. O Joá Palace Hotel com este nome imponente, o hotel tinha apenas três quartos para atender seus clientes, os demais cômodos eram usados pela família. O nome era em homenagem a sua filha Joanilce, minha grande amiga Joá, da qual estaremos falando numa outra oportunidade. Afinal, a Joá era considerada uma mulher de vanguarda, muito moderna para os padrões da época.

Na verdade os saudosos Nilce e Nélio, não se importavam muito se havia ou não hospedes em seu hotel, pois o forte era a sua boate que funcionava diariamente. Na área interna do hotel, entre o muro a fachada, havia mesas para atender seus clientes. Na sala de estar um enorme piano de calda, pois Joá era uma eximia pianista. O salão de danças da boate do Joá ficava na garagem do imóvel e media aproximadamente 20 metros quadrados. O som da boate era muito diferente do que se conhece hoje. Uma eletrola tipo móvel da marca Telefunken, onde se podia colocar até seis LP´s (long player), pois quando um LP acabava de tocar, automaticamente descia o próximo no prato, e o braço da eletrola retornava a agulha automaticamente. Uma coisa fantástica na época. Considerada uma modernidade, como se diz hoje, coisa de primeiro mundo.

Era o melhor local da cidade para se divertir, sem sombra de dúvidas. Durante as férias, chegavam àqueles estudantes de outras capitais com as novidades como: novas danças, calça boca de sino, macacão em jeans, camisas coloridas, os rapazes cabeludos de calça apertada, e as meninas com as famosas mini-saias. Teve uma moda que durou muito tempo. Na intenção de alargar a boca das calças jeans, geralmente da marca LEE, aplicava-se uma emenda de um jeans já desbotado, para ficar visível a aplicação do remendo. Era a famosa “nesga”.

No ano de 1970, o Joá e o colunista Roberto Vieira fizeram o maior lançamento daquela época: a famosa luz negra. A cidade parou para conhecer a novidade. Durante os dias em que o evento era anunciado, as pessoas eram aconselhadas a irem à festa vestindo roupa branca, como todos sabem na luz negra o branco fica fluorescente com leve tom lilás. As pessoas ficavam fascinadas com aquele efeito. Daí em diante todos os eventos passaram a adotar a luz negra, ainda muito utilizada atualmente. 

Nos finais de semana dançavamos até as cinco da manhã ao som de “Aquele abraço” (Gilberto Gil), “Na tonga da mironga do cabuletê” (Vinicius de Moraes e Toquinho), “País tropical” (Jorge bem), “Obladi oblada” (Beatles), “Yellow river” e muitas outras. Na hora de paquerar um pouquinho, dançar de rosto colado as musica eram as românticas: “Sentado à beira do caminho” (Erasmo Carlos), “Primavera” e “Azul da cor do mar” (Tim Maia), “You ve got a friend” (James Taylor) e também uma musica que era proibida chamada “Je t’aime mon noi plus”, sua interprete uma francesa simulava durante a musica um ato sexual. Fez muito sucesso naquela época, ainda mais por ser proibida.

Era muito comum chegar à boate e ser recepcionado pelo casal sentado na calçada em suas tradicionais cadeiras de balanço. Dona Nilce estava sempre em contato com seus parentes no Rio de Janeiro, trazendo sempre muitas novidades ao hotel/boate. Joá casou-se em 1971 com o geólogo Mauricio Caniné. Desta união nasceram as filhas: Alina, atualmente com 38 anos, arquiteta. Nilce, nome em homenagem à avó, é jornalista e produtora artística, está com 37 anos e trabalhando na produção do ator global Wagner Moura. A caçula chama-se Janaína, é veterinária, tem 31 anos. Joá já é avó, sua filha mais velha lhe deu uma netinha. 

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Joá Pálace Hotel,em 1970, poucos meses após sua inauguração. (Foto: Arquivo da família)



A família toda se mudou para o Rio de Janeiro no final dos anos 70. No prédio do antigo Joá Palace Hotel, esta instalada uma loja de moveis. Mauricio faleceu em 2003 e Dona Nilce no ano seguinte. O amigo Nélio nos deixou em 2007. Após seis anos viúva, minha amiga Joá me confessou que está conhecendo uma pessoa, um uruguaio que mora no Brasil há alguns anos. Torço para que dê tudo certo. As filhas aprovam o namoro, segundo elas, o namorado da mãe é um cara legal. Joá faz muito bem, pois continua bonita. Ano passado esteve visitando a terrinha e conversamos um pouco.

Aproveito para enviar beijos à querida Joá e filhas, e principalmente agradecer as fotos e as preciosas informações. Janaina, a caçula me disse que pretende morar em Porto Velho. Com certeza será muito bem vinda.

Quero deixar registrado que o primeiro engarrafamento de transito de Porto Velho, ocorreu no inicio dos anos 70 na Rua José de Alencar. Quando a gente conseguia “roubar” o carro do pai, e ficava passando bem devagar em frente ao Joá para saberem que estávamos dirigindo, afinal éramos menores ainda. Passávamos pelo menos umas vinte vezes em frente à boate. Como fazem os jovens de hoje na Pinheiro Machado...

Bons tempos aqueles, verdadeiros anos dourados...
Fiquem todos que com Deus, que é sempre a melhor companhia.

Até a próxima...

ANISIO GORAYEB


* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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