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Sabor do amanhecer


Sabor do amanhecer - Gente de Opinião

Por William Haverly Martins

Viriato Moura é daqueles homens que vivem com o rosto constantemente voltado para o sol, de tal forma que as sombras ficam para trás, ao lançar mais um de uma série de livros com títulos sugestivos, vai aos píncaros da conotação para estabelecer elos com a literalidade de historietas representativas da preservação de um patrimônio oral, do qual ele se apresenta, pela vastidão de seus inúmeros trabalhos, como um dos principais pilares.

A simplicidade dos escritos, na contramão da capacidade do autor, torna as crônicas de vocabulário acessível, em leitura agradável, sentimental, que vai de um simples anunciar de um amanhecer entre os sabores do Mercado Municipal de então ao registro dos tipos excêntricos que povoaram a infância e a juventude da cidade de Porto Velho: de Zé Quirino ao Morcego, de Cachimbão ao Macaco, de Pacácio ao Beleza, de Pará ao Chico Ceará, há como que um desfile pitoresco da singularidade dos sem voz, mas com a imortalidade garantida pela pena atenta do memorialista.

A narrativa de pinceladas sensíveis foi acrescida da sua veia de artista plástico: breve na descrição dos dias da infância, meio longa na inspiração das anotações para as aventuras da juventude, resgatando as cores da memória da cidade nos seus vários processos de mudança. Mesmo sabendo da impossibilidade de se recuperar totalmente o que ainda não foi esquecido, as telas vão jorrando de sua pena, acionando em todos nós e em si mesmo o botão da saudade.

Recentemente, entrevistando diretores da Associação Cultural Rio Madeira e ao saber da ideia de transformar parte da restauração/revitalização do velho prédio da Câmara Municipal, localizado na ladeira Comendador Centeno, em um museu da oralidade, num geste de desprendimento material, anunciou que doaria todo o acervo das entrevistas gravadas no já conceituado programa Viva Porto Velho, bem como as entrevistas efetuadas pelo parceiro e colaborador Anísio Gorayeb. O museu da oralidade com esta doação anunciada publicamente já começa forte.

Por mais que museu e mausoléu tenham um componente significativo que vai além da simples associação fonética, esperamos do poder público não só a preservação do patrimônio da oralidade do qual o livro e o desempenho de Viriato Moura e de Anísio Gorayeb na TV aberta, no site Gente de Opinião e no rádio são de inegável valor, mas um trabalho de divulgação capaz de despertar a curiosidade para a pesquisa cultural. Não basta livrar-se dos dedos devoradores do tempo, é preciso garantir a prerrogativa do interesse. Não se trata de passadismo, mas de um instrumento de preservação de componentes culturais de relevante importância para a valorização e compreensão das nossas raízes. Um instrumento que vivifique nosso passado, que o retire do limbo da inutilidade e do esquecimento, que melhore nossa autoestima.

Sabor do Amanhecer, acrescido de alguns adjutórios, é como imaginamos o futuro museu da oralidade: os costumes, as festas, gente simples e famílias importantes, os políticos de ontem, as músicas que embalaram nossas avós, os mitos indígenas e populares, as simpatias, o desfile das coisas do eu de um povo que construiu um estado forte, o desfiar as páginas do trem do tempo sob o balanço da Madeira Mamoré, energizado pelo vapor caliente do amor a Rondônia, transcendendo vida passada, presente, futura.

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Baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, membro efetivo da ACRM - Associação Cultural rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER - Academia de Letras de Rondônia.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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