Quinta-feira, 2 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Amazônias - Gente de Opinião
Amazônias

'Rei do café' na Zona da Mata vende imóveis, mas fica no ramo


'Rei do café' na Zona da Mata vende imóveis, mas fica no ramo - Gente de Opinião
Toninho do Alho é também Toninho do café: saiu do Paraná, aprendeu com o pai e foi incentivado por um cafeicultor taxista / MONTEZUMA CRUZ


 


MONTEZUMA CRUZ
Amazônias


ROLIM DE MOURA, Zona da Mata (RO) – Prejuízo não tira do sério o paranaense de Xambrê Antônio Alves de Oliveira, 61, que começou com apenas um alqueire da variedade arábica e hoje se mantém invicto na produção cafeeira em Rondônia: seus 600 mil pés de conillon, cultivados em cem alqueires em Alto Alegre dos Parecis, Brasilândia, Novo Horizonte e Rolim de Moura deverão render nesta safra até 12 mil sacos em coco, ou uma quantidade de três a quatro mil sacos beneficiados.

Rondônia é o segundo produtor nacional de café conillon, acompanhando o bom desempenho da variedade no Espírito Santo e na Bahia. A safra 2007/2008 alcançou 800 mil sacos de 60 quilos e a atual, do biênio 2009/2010 deve se aproximar de 1,3 milhão de sacos, conforme previsão de Fernando Martins e Ronaldo Santana de Souza, dos Armazéns Gerais Zona da Mata.

Só a cotação do produto inquieta o cafeicultor: na safra 2008/2009, o saco de 60kg alcançou R$ 180, em 2007/2008, R$ 210, e neste ano agrícola 2009/2010, apenas R$ 150, conseqüência da crise internacional entre 2008 e 2009. Duas vezes por ano, a Cacique café Solúvel, de Londrina, envia representantes para adquirir parte da safra de Toninho.

A 12 quilômetros de Rolim de Moura, os cafezais de Alto Alegre dos Parecis situam-se a 400 metros de altura. Este ano, eles perderam folhas devido a fortes ventos. O produtor não se desanimou. Se caísse geada neste estado, seria bem pior.

— A vida da árvore é a folha – ele diz.

Antonio Alves é conhecido por Toninho do Alho, tem cinco filhos e nove netos. Quatro filhos dividem as tarefas no plantio, tratos culturais e na colheita, supervisionando uma equipe de 25 pessoas. No pico da safra são cem trabalhadores.

Nascido e criado em Primeiro de Maio, norte do Paraná, o conhecido “rei do café” – apelido dado por quem o admira no ramo – trabalhou na lavoura em Xambrê e veio para Rondônia em 1980. Antes do café, adquiriu alho para revender nas cidades, daí o apelido. O pai, Noel Alves de Oliveira, falecido aos 83 anos, ensinou-lhe a plantar, a exemplo de tantos outros migrantes tradicionalmente ligados à cafeicultura abalada no sul do País pelas geadas de 1975.


Das lavouras de Toninho, 25 alqueires com 180 mil pés no espaçamento 4,20m X 0,80m são irrigados em Alto Alegre dos Parecis. Possui outros 35 alqueires irrigados em Rolim de Moura.

Em fase de colheita, o café temporão com 19 meses é sua atual “menina dos olhos”. Ele leva o repórter ao carreador e às lavouras em Rolim de Moura, em torno das quais a cidade cresce.

– Aqui já está virando uma vila, ali vai ser construído o asilo da cidade – ele aponta. Uma escola do ensino fundamental também fica próxima ao cafezal mais novo.

 
 

'Rei do café' na Zona da Mata vende imóveis, mas fica no ramo - Gente de Opinião
Mão-de-obra usada nas lavouras em Rolim de Moura, Alto Alegre dos Parecis, Brasilândia e Novo Horizonte ocupa 25 pessoas; no pico da safra são cem trabalhadores


 

O começo, no sertão

Era sertão no picadão do Km 5 da Linha 148 Sul, no Distrito de Novo Horizonte do Oeste, quando Toninho começou a plantar café na Zona da Mata. Ele conta como foi:



— Eu me hospedei na Pensão Souza, em Cacoal, e conheci o taxista Osvaldo, um mineiro que também plantava café (Sumatra) em Altônia (PR). Ele me incentivou bastante, e eu formei minhas primeiras lavouras.

Naquele distrito, Toninho usou o espaçamento 4m X 1m, 4,5m X 0,80m e 4,5m X 0,80m. A terra de massapé de pau-d’alho o animou. Rondônia teria que seguir o mesmo caminho de êxito do Paraná antes das geadas dizimarem os antigos cafezais.

De 1980 para cá ele viu transformações. Precisou reflorestar áreas degradadas e plantou oito mil pés de eucalipto e 60 mil abacaxis. Foi um dos primeiros a ingressar no Projeto D’Alincourt.

— Olhe, a cidade cresce, o preço do café oscila, e eu somei os meus débitos todos que já chegaram a R$ 1 milhão. Mas não vou largar do café, não. Vendi uns imóveis, tudo acima de R$ 200 mil, e vou me virando.

E segue fazendo tudo do jeito que aprendeu. Caprichando no cultivo com diferentes espaçamentos, devido à mecanização, ele foi e pelo jeito sempre será um produtor-referência em Rondônia, conforme atestam os irmãos empresários Daniel e José Constante Martins.



 

'Rei do café' na Zona da Mata vende imóveis, mas fica no ramo - Gente de Opinião
Duas vezes por ano ele recebe representantes da Cacique Café Solúvel, de Londrina. Cotação atual de R$ 150 o saco (60kg) não é boa. Ela reflete a crise internacional entre 2008 e 2009



 

Siga Montezuma Cruz noGente de Opinião

 
www.twitter.com/MontezumaCruz


 

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 2 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Evento acontece nesta segunda com mais de 80 seringueiros sobre produção sustentável da borracha na Amazônia

Nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, a partir das 9h, começa o 2º Grande Encontro Estadual do Extrativismo da Borracha, com mais de 80 seringueiros

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

Concertação pela Amazônia lança, na Cúpula, em Belém, documento com propostas para o território

A iniciativa Uma Concertação pela Amazônia chega aos Diálogos Amazônicos, da Cúpula da Amazônia, em Belém (PA), nos dias 4 a 6 agosto, com sua terce

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

Cúpula da Amazônia: Organizações indígenas realizam Assembleia internacional para promover a importância dos territórios e povos no enfrentamento da crise climática

A 'Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia' reunirá, na cidade de Belém, no Pará, entre os dias 4 e 8 de agosto, representações regionais e naci

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

Preparatória para Cúpula da Amazônia debate futuro sustentável e prosperidade dos povos tradicionais

A Cúpula da Amazônia acontece nos próximos dias 8 e 9 de agosto, pela primeira vez, em Belém do Pará. O encontro é um marco das relações entre o Bra

Gente de Opinião Quinta-feira, 2 de maio de 2024 | Porto Velho (RO)