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DA PAZ...


 

Por Luiz leite de Oliveira (*)

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MARIA DA PAZ E JOSÉ ALGUSTO GÊMEOS 1958



Professora Maria da Paz Oliveira, minha querida irmã. Sem ter merecido sequer um reconhecimento em vida, se foi...

Arquétipos inerentes do ser humano próprio dela foram amor, humanidade, solidariedade, amizade, e por isso passou ter liderança e formando uma classe na educação.

Irmã gêmea de José Augusto de Oliveira. Oito irmãos, nascidos de Raimunda Leite de Oliveira e Joaquim Ramos de Oliveira. Quando jovem, lindíssima, Maria da Paz, foi rainha dos estudantes, social, gostava de cantar como Ângela Maria, rainha do rádio na época. Isso, por ser já uma pensadora, mulher corajosa, formou e em determinado momento liderou movimento para a valorização da classe dos professores.

Jovem, apaixonou-se por Francisco Russo (Franco), da Calábria, Itália, que depois de conhecê-la, nunca mais quis sair daqui de Porto Velho. Teve no casamento com Franco, três filhas: Rosângela, Ana Maria e Rosalba, todas professoras. Orgulhava-se disso. A família seria o suficiente?

O arquetípico de Da Paz, quis ter uma família maior, de muitos amigos, agregada ao idealismo sobrepunha, na luta pela valorização da sua classe, dos professores.

Ainda no final de 1958/59, no velho Território Federal de Rondônia, profissional competente, Da Paz, naqueles primórdios da educação, como os emergentes nascidos em

Porto Velho, já era bem politizada. Antes fora aluna do aristocrático Colégio Maria Auxiliadora, onde estudou educação e cultura, para ser professora nos anos dourados. Teria outras ambições? Veremos, mais tarde.

Da Paz, já respeitada na educação, juntamente com alguns colegas, criaram nos primeiros anos de 1980 a Associação dos Professores, ainda no Território de Rondônia.

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Anos dourados, aqui se vivia feliz em família. Foi uma das primeiras presidentes. Após organizar a Associação, dela foi retirada à força ainda anos de 1980, e dessa instituição que ajudara criar, em companhia de alguns colegas e mestres.

Nesse tempo, pela BR 364, chegavam a Rondônia, atraídos pela propaganda do governo do território, pessoas de todos os tipos, algumas esperançosas, em busca de conseguir uma oportunidade no “Eldorado”. Chegavam também, simples homem do campo, os caipiras, porém, entre eles, alguns espertos, despreparados para as oportunidades que o Estado lhe oferecia. Sim, gananciosos.

Eles ocultavam-se em algumas instituições e, sorrateiramente, infiltravam-se nas sociedades de classe. Daí passaram a ser sindicalizados como num passe de mágica. Alguns deles se tornaram políticos, claro, mal intencionados, usando uma associação de professores honrada, agora, sindicato, tudo quase imperceptível. Dominavam poder. E Maria da Paz, foi deposta.

Depois de sofrer intervenção, essa instituição de professores transforma-se talvez no primeiro ajuntamento da “cleptomania vermelha” no Brasil. Poucos entenderam essa invasão, uma dessas pessoas foi Maria da Paz.

Foi esse sindicato, uma espécie de prévia do que abalaria o País nessa primeira década do terceiro milênio, desde 2003 até o presente momento.

Certa casta de políticos fabricados em Rondônia substituiu valores na Câmara Municipal de Porto Velho, na nova Assembleia Legislativa de Rondônia, no Governo Estadual. Nada sobrara para os filhos daqui, ou para pessoas que chegaram de outras plagas para serem filhos tais quais os aqui nascidos. Aliás, sobrava algo sim, o subemprego.

O plano era substituir e ocupar, ocupar, eliminar, e escalar o poder. Instituições sólidas foram se estabelecendo no Estado, porém, sem a presença do rondoniense, como acontece até hoje. Não foi permitido ocupar aquilo que é de direito. Ah! Ao rondoniense foi determinada a condição de áulico. Não só a educação, que passou a ser aparelhada, mas outras classes de profissionais.

No caso da classe dos professores, ela foi transformada em sindicato. Eram os primeiros sintomas do “avermelhamento” que apareceria na educação, na primeira década na primeira década, de um contexto que só se poderia entender com a vivência, mais tarde, inspirada e integrada a republiquetas latinas, comunas. O aparelhamento da instituição ocorreu em 2003. Veio o cabresto e o professor, então, foi transformado em “trabalhador na educação”, não mais.

Não houve mais espaço para o pensador, o educador, o mestre ou o professor. Isso também para a inteligência em geral.

Maria da Paz percebia tudo isso, já não existia lugar para rondoniense na sua própria terra, mesmo assim, ela procurava estar do lado dos colegas, vigilante, inconformada. Daí passou a ser golpeada, humilhada, vitimada, diminuída, pelo radicalismo da cúpula do sindicato. Ainda assim, com poucos colegas, não desistia, continuava, porque defendia sua classe de professores.

Da Paz foi uma das lideranças que se ergueram para a reativação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Certa vez, informou-me e também aos mais próximos, seus colegas, em desespero, desabafa o que via transformar em realidade, pressentiu “um projeto criminoso de poder”, as instituições que se instalavam no País, e tudo acontecia igual em Rondônia, como um antro de oportunistas, via sindicato, para se galgar a cúpula do Governo de Rondônia, a Prefeitura de Porto Velho, a Assembleia Legislativa, Câmara Municipal de Porto Velho.

Ela tinha razão, esses cleptos chegaram lá, mas para tal teriam que amordaçar, silenciar. Para isso, conspiravam contra a inteligência, e aí surge inexplicavelmente a “patrulha da intimidação”.

No caso de Maria da Paz, como ela não silenciava e descobria a grande fraude, houve pela primeira vez o início de apuração no Ministério do Trabalho contra o assalto praticado por mafiosos contra os direitos dos professores de Rondônia. Ela e outros resistentes foram truculentamente atacados numa assembleia geral da classe. Ela foi mandada silenciar pelo tal líder [que mais tarde chegou nos píncaros do poder no governo], e por não calar, ainda foi expulsa de uma assembleia.

Não resistiu, caiu não apenas por estar vencida pela injustiça brutal, na ocasião como uma espada a cruzar o peito, uma forte dor. Chorava, e mesmo socorrida, não teve mais saúde nos últimos dois anos de vida.

E se foi. Por uma causa.

Enquanto isso prevaleceu Mesmo assim, prevaleceu corporativismo, e poderosos interesses...

Atacavam, humilhavam uma heroína, como destruíam moralmente numa tática para silenciá-la. Esse foi um pequeno script, uma pequena história dos que tentam ser respeitados em Rondônia. Aconteceu não só com os professores.

Foi idealismo foi o extremo?  Ela pagou caro o abalo e tiraram sua saúde, sua vida que nunca mais teve.

Essa direção de sindicato, invadida por oportunistas, perpetrou o saque aos direitos dos professores. Maria da Paz Oliveira não se rendeu, como também alguns professores. Eles não se deixaram passar por marionetes transfigurados em “trabalhadores da educação”. Isso custou caro, custou mesmo a sua preciosa vida. Foi atacada até a morte.

Da Paz, idealista na educação desde os primórdios, foi professora e diretora de escolas e colégios. Inicialmente, apoiada cultural e intelectualmente pela pensadora Marise Castiel. Desnecessário acrescentar algo mais, pois na época do velho território ela continuou a luta por uma causa que levasse à valorização profissional.

Para Da Paz, professora professor, e não “trabalhador da educação”.

Mas essa era a nova ordem ou o silêncio? Desafiou, pois nunca foi áulica. Queria que o rondoniense nunca silenciasse e lutasse para assumir o que é seu.

Foi uma sábia, uma pensadora. Não abriu mão dos direitos e reconhecimento da sua classe. Enfrentou os poderosos, os vermelhos. Numa assembleia, emudeceu a todos. Caiu, sem sentido, e após esse desmaio, aos poucos foi morrendo. Lutou, lutou...até o fim.

Amordaçada, agredida, não silenciou. Sua vida fazia parte sua família, seu amado Francisco Russo, suas três filhas, Rosângela, Ana Maria, e Rosalba, e finalmente os colegas professores.

Da Paz foi umas das discípulas de Marise, por demais autêntica. Seria importante que fosse sempre lembrada como pioneira educadora e mestre. O Estado de Rondônia deve a essa heroína.

Não preciso dizer onde estão os oportunistas, mas digo que o rondoniense está sendo impedido de ocupar aquilo que lhe é legítimo.

“Rondônia, terra sem limite onde tudo se admite, terra de muitos chegantes e de poucos edificantes” – disse um dia o filósofo e poeta, professor Luciano de Lucas.

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(*) Filho de Raimunda Leite de Oliveira e irmão de Maria da Paz Oliveira. Viemos do Baixo Madeira, Manicoré, São Carlos. Arquiteto, urbanista, pensador, pesquisador e presidente da Associação de Amigos da Madeira-Mamoré.

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